Ilze Scamparini, de 66 anos, chamou atenção de quem assistiu à cobertura do funeral do papa Francisco na manhã deste sábado, 26. A jornalista não deixou sua tradicional varanda nem para cobrir a despedida do pontífice.

Em determinado momento, a jornalista da Globo relembrou sua polêmica entrevista com o chefe da Igreja sobre os homossexuais. Em 2013, quando o pontífice viajou ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, ela o questionou sobre a relação da Igreja Católica com a comunidade LGBT.

Segundo Ilze Scamparini, inicialmente, a pergunta deixou Francisco "desconcertado", mas ele a respondeu. A declaração concedida à brasileira reverberou internacionalmente e é lembrada até hoje.

"Era um domingo, e entrei no avião com uma intuição. Me coloquei numa espécie de fila para fazer minha pergunta, levantando minha mão. Dois jornalistas brasileiros cederam os lugares deles para mim. Fiquei bastante tempo com o braço levantado. Alguns jornalistas fizeram perguntas, até que o porta-voz do Vaticano encerrou a entrevista, deixando meu braço levantado sem resposta, mas o papa não me ignorou, olhou para mim e pediu ao porta-voz para deixar que eu falasse [...] Num gesto, me chamou. Eu fui lá na frente, onde ele estava, e peguei o microfone. Antes de perguntar, pedi licença ao papa para tocar num assunto delicado. Ele consentiu com a cabeça, bem sério. Na hora, Francisco ficou bastante embaraçado, um pouco nervoso. Essa foi a minha impressão. Era a primeira vez que alguém perguntava a um papa sobre gays", relatou.

Conforme Ilze, após a entrevista, o papa agradeceu pela pergunta, mas já expressava um semblante mais sério e não tão animador. Preocupada, ela voltou para seu lugar no avião e ali foi abordada pelo padre Lombardi, da equipe de Francisco. "Fique tranquila que o papa gostou da pergunta", teria dito ele.

Em seguida, na transmissão, Scamparini falou sobre como a declaração do pontífice a marcou; segundo ela, é um sentimento que levará para toda a vida. "Doze anos se passaram. Quando me transporto para aquela cena no avião, ainda sinto um impacto no meu sistema nervoso daquela fala: 'Quem sou eu para julgar?'".