Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
PORTO VELHO, RO: O Rio Madeira, um dos mais importantes da Amazônia, bateu recordes históricos de seca em julho de 2024. No último dia 31, o nível das águas caiu para 2,45 metros, o menor já registrado para o mês em 57 anos de monitoramento pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). Esta situação crítica é atribuída principalmente à falta de chuvas significativas na região de Porto Velho há mais de dois meses.
De acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a capital de Rondônia registrou apenas um dia de chuva em julho, com um acúmulo de 3,4 mm, uma quantidade extremamente baixa para o período. Normalmente, o nível do Rio Madeira nesta época do ano deveria estar em torno de 5,50 metros, mas está cerca de 3 metros abaixo do esperado.
Segundo Marcus Suassuna, engenheiro hidrólogo e pesquisador em geociências do SGB, dois fatores climáticos principais estão contribuindo para essa escassez hídrica: o aquecimento anormal do Oceano Atlântico Norte e o fenômeno El Niño, que atrasa o início da estação chuvosa e enfraquece as chuvas iniciais. A combinação desses fatores resultou em uma estação chuvosa extremamente pobre, levando a níveis de água abaixo da média histórica no Rio Madeira.
A seca extrema já está afetando diretamente as comunidades ribeirinhas. No Baixo Madeira, mais de nove famílias estão sem acesso a água potável após o único poço da região secar. Em Terra firme, os moradores enfrentam dificuldades para obter água, já que a distância até o rio aumentou devido aos bancos de areia formados pela seca. “Com a seca, a distância só aumentou e a mangueira da bomba, de 200 metros, não chega mais porque o rio está muito seco. É um sofrimento", relata Maria de Fátima, moradora local.
Em resposta à situação, Porto Velho decretou estado de emergência. A Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) declarou “situação crítica” de escassez de recursos hídricos no Rio Madeira até 30 de novembro. Esta crise hídrica também ameaça a operação da hidrelétrica de Santo Antônio, uma das maiores do Brasil, que pode ser paralisada se o nível da água continuar caindo. A usina depende do fluxo contínuo do rio para operar suas turbinas, e a baixa vazão atual coloca em risco sua funcionalidade.
A hidrelétrica de Jirau, também no Rio Madeira, possui maior flexibilidade para operar em condições de seca e, por enquanto, não corre o mesmo risco de paralisação. No entanto, a continuidade da estiagem e o aquecimento do Atlântico Norte são motivos de grande preocupação para especialistas.
Além do Rio Madeira, outros sete rios em Rondônia apresentam níveis abaixo da média histórica para esta época do ano: Candeias, Guaporé, Jamari, Mamoré, Machado, Madeira e Pirarara. O cenário agrava ainda mais a crise hídrica no estado, com previsões de que a seca deste ano será ainda mais severa.
A seca extrema de 2023 já havia causado a paralisação temporária da hidrelétrica de Santo Antônio e o desligamento do "Linhão do Madeira", a maior linha de transmissão do mundo. Agora, com a persistente falta de chuvas e os níveis de água cada vez mais baixos, Rondônia enfrenta um desafio significativo para garantir o abastecimento de água e a geração de energia.