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    porto velho, domingo 22 de setembro de 2024

Porto Velho está entre os municípios da região Norte que tem dificuldade na gestão, aponta Firjan

Capital do estado ocupa 20ª posição no Ranking da Gestão Fiscal das capitais do pais. 187 cidades receberam nota zero, ou seja, a receita gerada localmente não é suficiente


Da Redação

Publicada em: 11/11/2019 08:01:34 - Atualizado

BRASIL - Grande parte dos municípios da região Norte (87,6%) possui gestão fiscal difícil ou crítica. É o que aponta o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com base em dados fiscais oficiais. A análise comparativa revela um quadro pior em relação ao Brasil, onde 73,9% das Prefeituras estão nessa situação.

Na Região Norte, apenas 12,4% das cidades (51) apresentam desempenho bom ou excelente. Alvorada (TO) conquistou nota máxima em todos os indicadores avaliados e está entre os quatro municípios com melhor desempenho no país.

O IFGF avaliou as contas de 5.337 cidades brasileiras, que declararam as informações até a data limite prevista em lei e estavam com os dados consistentes. Foram analisadas as contas de 410 dos 450 municípios da região, onde vivem 17,3 milhões de pessoas – 94,8% da população total. O índice varia de 0 a 1 ponto, sendo que quanto mais próximo de 1 melhor a situação fiscal do município.

Com o objetivo de apresentar os principais desafios para a gestão municipal, são abordados os indicadores de Autonomia, Gastos com Pessoal, Liquidez e Investimentos. O novo indicador de Autonomia verifica a relação entre as receitas oriundas da atividade econômica do município e os custos para manutenção da estrutura administrativa. De acordo com os quatro indicadores, cada cidade é classificada nos conceitos de Gestão de Excelência, com resultados superiores a 0,8 ponto; Boa Gestão, entre 0,8 e 0,6 ponto; Gestão em Dificuldade, entre 0,6 e 0,4 ponto; ou Gestão Crítica, inferiores a 0,4 ponto.

Nesse contexto, na média, o IFGF dos municípios do Norte foi de 0,4068 ponto, resultado inferior à média nacional (0,4555 ponto), e que só supera a região Nordeste (0,3264 ponto). De acordo com a análise, o indicador de Autonomia é o que leva o índice para baixo. A nota média da região Norte nesse indicador é de 0,1947 ponto, 50% abaixo da média nacional (0,3855 ponto). Na região, 90% das cidades (369) apresentam gestão difícil ou crítica nesse indicador, dentre as quais 187 receberam nota zero, isto é, a receita gerada localmente não foi suficiente para cobrir as despesas administrativas.

No IFGF Gastos com Pessoal, a média no Norte (0,3577 ponto) também foi inferior à nacional (0,4305 ponto). Na região, 242 cidades gastaram mais de 54% da Receita Corrente Líquida (RCL) com a folha de salário do funcionalismo público, ou seja, ultrapassaram, no mínimo, o limite de alerta definido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Entre os municípios nessa situação, 108 estão fora da lei por comprometer mais de 60% da receita com esse tipo de despesa.

Nesse cenário de rigidez orçamentária, na média, os municípios do Norte tiveram dificuldade no planejamento orçamentário em 2018. Esse resultado foi em linha com o observado na média do país. Mais de 40% das cidades analisadas na região (171) ficaram nessa situação e 77 receberam nota zero por terem fechado o ano sem recursos em caixa para cobrir suas obrigações financeiras.

Como resultado, os municípios da região Norte tiveram dificuldade de investir. Entretanto, o panorama nesse indicador é melhor do que o observado no país. O IFGF Investimentos na região foi de 0,5426 ponto, 14,3% superior ao agregado do Brasil (0,4747). Na média, as Prefeituras no Norte investiram 6,0% do orçamento de 2018, percentual acima do realizado pelo agregado dos municípios brasileiros (5,1%). Apesar do nível superior de investimentos, mais de um terço das cidades estão em situação crítica e apenas 43 das 410 Prefeituras investiram mais de 12% da receita total e atingiram nota máxima no indicador.

Mais bem avaliadas

As cinco cidades mais bem avaliadas da região Norte são Alvorada (TO), com IFGF 1,0000; Cariri do Tocantins (TO), com IFGF 0,8842; Rio Branco (AC), com IFGF 0,8450; Lajeado (TO), com IFGF 0,8236; e Parauapebas (PA), com IFGF 0,8097. Alvorada obteve nota máxima em todos os indicadores, representando alto nível de autonomia, baixo comprometimento do orçamento com despesas de pessoal, excelência em planejamento financeiro e destinação de parcela significativa da receita para investimentos.

A situação varia entre as capitais, com Prefeituras que apresentam excelência na gestão fiscal e outras com dificuldade. Rio Branco (AC) e Manaus (AM) registram nível de excelência. Boa Vista (RR), Palmas (TO) e Macapá (AP) possuem boa gestão. Já Porto Velho (RO) e Belém (PA) apresentam dificuldade.

Os municípios com os cinco piores resultados na região Norte são Alenquer (PA), com IFGF de 0,0488; Limoeiro do Ajuru (PA), com IFGF de 0,0388; São João de Pirabas (PA), com IFGF 0,0333; Óbidos (PA), com IFGF de 0,0221; e Pracuúba (AP), com IFGF de 0,0051.

Quase duas mil cidades brasileiras não se sustentam

Com base no indicador de Autonomia, o IFGF revela que 1.856 cidades brasileiras não se sustentam, já que a receita gerada localmente não é suficiente nem para custear a Câmara de Vereadores e a estrutura administrativa da Prefeitura. Em média, esses municípios gastaram, em 2018, R$ 4,5 milhões com essas despesas e geraram apenas R$ 3 milhões de receita local.

A análise geral dos dados mostra que o indicador de Autonomia teve o pior resultado no país, com 0,3855 ponto.  A Firjan destaca que, para garantir pelo menos a autonomia em relação aos custos de existência, seria preciso que as cidades que não se sustentam aumentassem os recursos próprios em 50%. Porém, de acordo com os cálculos do estudo, isso é pouco provável especialmente no cenário em que elas experimentaram aumento real de apenas 9,6% de sua receita local nos últimos cinco anos.

O segundo principal problema das cidades brasileiras, de acordo com o IFGF, é a alta rigidez do orçamento por conta dos gastos com pessoal. O indicador mostra que 821 prefeituras estão fora da lei por comprometer em 2018 mais de 60% da Receita Corrente Líquida (RCL) com a folha de salário do funcionalismo público. Outras 1.814 gastaram mais de 54% da receita com esse tipo de despesa e já ultrapassaram o limite de alerta definido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

O indicador de Liquidez aponta que 3.054 cidades (57,2% do total analisado) não planejaram o orçamento de forma eficiente. Entre elas, 1.121 terminaram o ano de 2018 sem recursos suficientes em caixa para cobrir as despesas postergadas para o ano seguinte. Em relação aos Investimentos, a conclusão é que 2.511 prefeituras (47% do total analisado) destinaram, em média, apenas 3,1% de sua receita total para essa finalidade.

Considerando os quatro indicadores, a conclusão é que 3.944 municípios brasileiros (73,9% do total analisado) registram situação fiscal difícil ou crítica, incluindo nove capitais: Florianópolis, Maceió, Porto Velho, Belém, Campo Grande, Natal, Cuiabá, Rio de Janeiro e São Luis.

De acordo com o gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart, o cenário é de crise fiscal municipal, potencializada e incentivada por questões estruturais. “Temos hoje uma baixa capacidade de geração de receitas para o financiamento da estrutura administrativa, além de alta rigidez do orçamento por conta dos gastos com pessoal. Com isso, há dificuldade para um planejamento eficiente e os investimentos são
penalizados”.

O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, ressalta a importância de se avançar com as reformas estruturais do país. “Não podemos perder a oportunidade de aprofundar o debate a respeito da estrutura federativa brasileira. Sem isso, toda a sociedade continuará sendo penalizada com serviços públicos precários e um ambiente de negócios pouco propício à geração de emprego e renda”.

A Firjan destaca que, para a retomada do crescimento sustentável, é fundamental a inclusão dos municípios em todas as reformas estruturais em discussão. Sobre a distribuição de receitas, a Federação das Indústrias do Rio ressalta a importância da reforma tributária, incluindo o Imposto sobre Serviços (ISS), e a revisão das regras de distribuição do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Em relação às obrigações orçamentárias, as reformas administrativa e previdenciária são imprescindíveis. Já em relação à organização administrativa, além da revisão das regras de criação e fusão de municípios, é preciso discutir as competências municipais.

IFGF - Resumo

- Foram avaliadas as contas de 5.337 municípios, onde vive 97,8% da população brasileira.

- O mapa da gestão fiscal dos municípios brasileiros mostra um país em estado de alerta: 3.944 cidades (73,9%) foram avaliadas com gestão fiscal difícil ou crítica.

- O IFGF é composto por quatro indicadores:

IFGF Autonomia – 34,8% das prefeituras não se sustentam: não geram receitas suficientes para financiar sua estrutura administrativa.

IFGF Gastos com Pessoal
 – 49,4% das cidades em situação crítica: gastam mais de 54% da receita com pessoal.

IFGF Liquidez – 21% das prefeituras no “cheque especial”: terminaram 2018 sem recursos em caixa para cobrir as despesas postergadas para o ano seguinte.

IFGF Investimentos – 47% dos municípios com nível crítico: investem em média apenas 3% da receita.

Ranking da gestão fiscal das capitais

Fonte: Firjan


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