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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
A entrada de Sarah Vitória da Silva Gonzaga no salão de festas todo decorado era aguardada por todos os presentes à cerimônia de casamento marcada para as 17h do domingo, 17 de dezembro de 2017, na cidade de Poá, na Grande São Paulo. Mas Sarah não era a noiva.
A ansiedade dos convidados, no entanto, tinha um motivo. Sentada em uma cadeira de rodas e empurrada pela irmã mais velha, Sarah, de apenas 6 anos, entrou levando a aliança para os pais, poucos meses após deixar o hospital onde ela tinha vivido desde que nasceu.
A dama de honra se transformou na principal atração do casamento. E o dia coroou um ano de página virada: de realização e renascimento. "2017 significou tudo. Foi a mudança na minha vida. Os seis anos que eu perdi, ganhei tudo agora", resume a mãe, a dona de casa Cíntia Patrícia Gonzaga.
A menina nasceu no Hospital Santa Marcelina em 1º de março de 2011, no Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo, mas só deixou o hospital seis anos e quatro meses depois, em uma sexta-feira, 18 de agosto de 2017.
Sarah tem encefalopatia e não consegue respirar sem aparelhos. Só pôde receber alta porque conseguiu a doação de um respirador mecânico, equipamento que custa cerca de R$ 11 mil.
Para receber Sarah, Cíntia comprou um terreno em Suzano, cidade próxima a São Paulo, e construiu uma casa equipada com UTI.
Trocar o mundo de paredes assépticas, macas e sondas por um ambiente mais humano foi um diferencial.
"Antes, no hospital, ela não podia nem ver a rua. Agora ela pode. Ela também tem treinado a respiração só no oxigênio. Já fica meia hora sem. Evoluiu muito", conta a mãe.
Cintia também é mãe de Melissa, de 16 anos, Jaldson, de 13, e Miguel, de 4 anos. Antes de a menina ter alta, a rotina era estafante. "Depois que ela teve alta, mudou tudo. Não tive mais que sair de casa, posso acordar mais tarde. Posso ficar mais tempo com ela também. Antes, eu tinha de correr para casa para dar banho nos irmãos. Hoje, comemos todos juntos. Antes, sempre faltava a Sarah."
Apesar de não poder estar sempre presente, Cíntia diz que ficava tranquila com a atenção dada a filha por todos os funcionários do hospital. A alta da menina, inclusive, foi antecedida de uma festa entre os funcionários.
"Foi muito emocionante. É muito amor que eles pegaram por ela, todo mundo. Amo cada um deles ali de paixão. Sempre cuidaram da minha filha muito bem", relembra Cíntia.
A cerimônia de casamento da mãe foi o primeiro evento do qual Sarah participou após deixar o hospital. "Só estava esperando ela sair pra gente casar", conta Cíntia, que está junto com o agora marido há mais de 12 anos.
A entrada da garota na cerimônia de casamento aconteceu exatamente do jeito que mãe imaginou. "Tinha esperança de trazer ela e acontecer esse momento. Nunca perdi a esperança. Não tem explicação, porque estou muito emocionada e não sei o que falar. Eu estou tremendo, sem ação. Foi do jeito que eu planejava, foi do jeito que eu sonhei. Estou muito feliz."
Para 2018, a mãe vai continuar investindo na recuperação da menina. "Espero uma evolução para ela. Correr atrás para a fisioterapia, para ela estar andando", diz.
O pai de Sarah, o açougueiro Patrício dos Santos Gonzaga, também foi só emoção.
"É como se ela estivesse nascendo hoje. Foram seis anos e meio no hospital. Muitos não acreditavam que ela ia sair. Mas teve pessoas que acreditaram. Uma pessoa que posso falar, especial, foi a Pati, que era fisio dela no hospital, que acreditou muito. Outras pessoas também, como o rapaz de Curitiba, que doou um aparelho sem nem conhecer a gente. É único esse momento."
Patrício lembra que quando a menina nasceu os médicos chegaram a acreditar que ela não ia sobreviver. "Teve médico que falou pra mim que ela não ia viver uma semana, sete dias. Hoje a minha filha vai fazer sete anos. Eu tenho seis filhos, mas ela é especial pra gente."
Para 2018, ele espera muitas boas notícias. "Só maravilha. Com ela em casa, tudo está perfeito. O ano já começou bem. Nem terminou 2017, 2018 já começou bem, casando, com a presença dela, inesquecível."
A fisioterapeuta Patrícia Leite conta que, após o parto, Sarah foi diagnosticada com uma encefalopatia crônica por falta de oxigênio na hora do parto. Ela participou do processo de recuperação da garota e conta os desafios superados a cada dia.
"Ela ficou dependente de ventilação mecânica por aparelho. O tempo foi passando e fomos conseguindo fazer a Sarah evoluir. Começamos a trabalhar vendo que ela reagia com a fisioterapia, equipe multidisciplinar, médico, nutricionista, fonoaudiólogo até essa evolução dela no bipap e a ida dela para casa, graças a Deus."
A doação do bipap foi feita por um advogado de Curitiba, que ficou sabendo do caso pelo Facebook por intermédio do pai da Sarah. "Nós montamos uma página para ela no Facebook. Esse senhor ficou sabendo e entrou em contato comigo. O pai da Sarah e a mãe mandaram meu contato e eu fui intermediando o aparelho até a doação", conta.
Para Patrícia, ainda existe muito o que evoluir. "Sarah tem tido uma evolução muito boa. Para melhorar agora precisa manter o que a gente iniciou, continuando com uma equipe multidisciplinar com médicos, fonoaudiólogos, nutricionista e fisioterapaia", diz a fisioterapeuta, que resume a recuperação da menina: "Algo extraordinário".