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porto velho, domingo 21 de setembro de 2025
Quando Lola era adolescente, seu hábito de beber variava em ciclos.
Ela podia passar uma noite bebendo muito e o dia seguinte inteiro se arrependendo e juntando os cacos. Depois, ela ficava um período sóbria, até que viesse a balada seguinte.
Mas, quando veio a pandemia, Lola voltou para a casa dos seus pais em Londres e seu hábito de beber foi abruptamente suspenso. Ela conta que o lockdown trouxe uma oportunidade de afastar-se dos seus costumes arraigados e cuidar dos seus problemas de ansiedade.
Agora, a estudante de 22 anos tem uma relação diferente com o álcool. Recentemente, ela começou a sair sem beber. Lola ainda bebe, mas com muito menos frequência.
"Não sou contra a bebida — eu simplesmente não gosto de me embriagar ou me sentir mal na manhã seguinte", afirma ela. "Gosto de ir para casa com segurança e me lembrar das pessoas que conheci. Por isso, as noites sóbrias funcionam bem para mim."
Lola não é um caso isolado entre seus amigos. Ela conta que todos estão bebendo menos desde o início da pandemia e que ela não enfrenta julgamento dos colegas quando não bebe.
"Os amigos que não reduziram a bebida tanto quanto eu acham bom quando as pessoas saem e não bebem", ela conta. "A mentalidade é 'cada um faz o que quiser' e as pessoas respeitam suas escolhas, seja para proteger sua saúde mental ou simplesmente porque você não gosta."
Experimentar o álcool e beber em excesso eram considerados, há muito tempo, um rito de passagem para a idade adulta, pelo menos na cultura ocidental.
Desde muito cedo, muitas vezes antes da idade legal, o álcool é considerado um "lubrificante social" — uma forma de se divertir, fazer amigos e escapar da realidade do dia a dia. Poucos eventos sociais deixavam de incluir alguma forma de álcool.
Mas os jovens da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) estão mais cuidadosos à medida que entram na idade adulta, seja não bebendo ou bebendo com muito menos frequência e em menor quantidade que as gerações anteriores.
O maior estudo recente sobre o comportamento de bebida no Reino Unido concluiu que, em 2019, a geração com 16 a 25 anos de idade era a mais abstêmia — 26% deles não bebiam, em comparação com 15% entre a geração que mais bebia (55 a 74 anos de idade).
Entre os americanos adultos, o instituto Gallup concluiu que pessoas com 35 a 54 anos de idade são as mais dispostas a beber álcool (70%), à frente da geração Z (60%) e dos baby boomers (52%).
Entre as pessoas que bebem, a maior parte dos jovens europeus (definidos como entre a idade legal e 39 anos) bebe uma vez por mês (27%). Nos Estados Unidos, o maior grupo bebe uma vez por semana (25%).
Especialistas indicam que a redução do consumo de álcool pelos jovens é significativa e está espalhada pela maior parte dos países europeus de renda mais alta, além dos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia.
Durante o lockdown, os australianos da geração Z mostraram-se mais dispostos a reduzir o seu consumo — 44% informaram que estavam bebendo menos, o que é mais que o dobro do percentual de qualquer outra geração.
E, na Nova Zelândia, a incidência de consumo excessivo de álcool entre os jovens também caiu em mais da metade entre 2001 e 2012 — e continua a cair até hoje.
Mas atribuir essa queda a um único fator é impossível.
Os jovens da geração Z estão crescendo em um cenário social único. Sobrecarregados com preocupações sociais e financeiras, eles são mais avessos ao risco. E eles têm uma compreensão maior de como a bebida prejudica a saúde deles e das pessoas à sua volta.
Com isso, está florescendo uma cultura de juventude em que beber deixou de ser o normal, e essa mudança está se fazendo presente. O comércio e o setor de hotéis e restaurantes estão se movendo com rapidez para adaptar-se enquanto a geração Z redefine o conceito de "balada" e socializa muitas vezes sem beber.
O declínio do consumo de bebida ocorre, em parte, porque a geração Z aparentemente é mais cautelosa que as anteriores, tanto em termos de saúde quanto da percepção de si próprios pelos colegas.
"[A redução do consumo de bebidas alcoólicas] certamente não está acontecendo devido às políticas contra o álcool, porque todas as práticas de risco estão diminuindo — uso de drogas, sexo sem proteção e comportamentos arriscados [como o fumo, crime e direção perigosa]. Os jovens em geral são mais avessos ao risco", afirma Amy Pennay, pesquisadora sênior do Centro de Pesquisa de Políticas sobre o Álcool da Universidade La Trobe, em Melbourne, na Austrália.
Um fator para essa mudança é o fato de que os jovens hoje em dia sabem muito mais sobre os perigos associados a esse tipo de comportamento. E, com maior disponibilidade de pesquisas e com a discussão aberta, o seu conhecimento é cada vez mais multifacetado, segundo Pennay.
Atualmente, é mais fácil do que nunca aprender mais sobre os riscos da bebida, seja com uma rápida pesquisa no Google, visitando comunidades no TikTok (como #SoberTok, em inglês) ou conversando com amigos e familiares.
A preocupação com a perda do controle e o desenvolvimento de dependência da bebida, por exemplo, é sensivelmente mais alta entre os jovens.
Uma pesquisa do Google em 2019 concluiu que 41% dos jovens da geração Z associam o álcool a "vulnerabilidade", "ansiedade" e até "abuso". E, no Reino Unido, 60% dos jovens da geração Z associam beber à perda de controle — quase o dobro dos que não fazem essa associação.
Ondas de casos em que pessoas sofrem o golpe do "boa noite, Cinderela" em bares e baladas também pode dissuadir as pessoas de beber, especialmente as mulheres.
E, com as atividades dos jovens podendo ser exibidas em tempo real nas redes sociais para os amigos, familiares e até empregadores, perder o controle traz uma carga de risco.
A mesma pesquisa do Google indica que 49% dos jovens da geração Z afirmam que sua imagem online está sempre na mente quando eles saem para beber e socializar.
Por isso, não é surpresa que 76% deles acreditam ser importante estar no controle de todos os aspectos da sua vida, todo o tempo.
John Holmes, professor de políticas sobre álcool da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, acrescenta que também houve uma acentuada mudança de comportamento. A geração Z não só tem consciência mais profunda dos riscos à saúde, mas também rejeita ativamente a noção de embriaguez.
"Em meados até o final dos anos 2000, beber demais e ficar embriagado era uma maneira de formar e solidificar amizades. Até experimentar juntos os efeitos negativos [da bebida] era uma parte fundamental da formação e manutenção de amigos na adolescência e no início da idade adulta", afirma ele. "Mas a geração Z costuma considerar a embriaguez desagradável, inconveniente ou desinteressante."
Lola, por exemplo, fica desconfortável quando vê alguém muito bêbado. "Conheço poucas pessoas que bebem muito e ficam bem", afirma ela. "Ainda bem que a narrativa está mudando e as pessoas reconhecem que beber demais é ruim para elas."