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porto velho, quarta-feira 12 de fevereiro de 2025
MUNDO: O Brasil foi ignorado nas três primeiras listas de estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza. A ausência dos Estados Unidos na primeira relação estimulou a crença na isenção. A segunda lista, feita majoritariamente de americanos, acendeu uma vela para a suspeita de favorecimento. Na terceira, a nova profusão de americanos e a inclusão de cidadãos britânicos fizeram surgir em Brasília um sentimento novo.
Embora nenhuma autoridade admita publicamente, a frustração do governo brasileiro começa a ser substituída pela decepção provocada pela hipótese de que a demora pode ser motivada por uma retaliação de Israel. Nessa versão, a protelação seria um troco de Israel às posições exibidas pelo Brasil na vitrine do Conselho de Segurança da ONU.
Diz-se que o grupo do Brasil pode estar na lista deste sábado. Ou na de domingo. Quer dizer: intencional ou não, o suplício imposto aos brasileiros já se tornou agonizante. Quem espera na derradeira fila da repatriação precisa manter sempre ao alcance da mão, como um comprimido de Isordil, uma dose de ceticismo.
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse, em entrevista ao UOL News nesta sexta (3), que parece haver mais valor à "vida e ao sangue" de cidadãos de países ricos na elaboração das listas de cidadãos estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza pela fronteira de Rafah. Os brasileiros ainda não constam das relações divulgadas até o momento.
Não quero exagerar, mas possivelmente é porque somos de Terceiro Mundo e o sangue e a vida daquele Primeiro Mundo vale mais. É uma realidade. O mundo está tendo um desequilíbrio. Quando se trata da morte de palestinos, parece um 'efeito colateral' e que a vida deles não vale tanto quanto a dos outros. Esta é uma realidade.
Claro que é Israel que está bombardeando. Fica meio esquisito pensar em outro. De onde vai vir? Israel está atacando e ameaçando. Esta forma de colocar em dúvida [a autoria dos ataques] é para, lamentavelmente, encobrir este crime. Israel está fazendo um genocídio nestes 28 dias. Estes bombardeios de Israel levam a este ambiente de genocídio e de crime de guerra.
Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina no Brasil
Para Alzeben, os EUA têm nas mãos o poder para ao menos estabelecer uma pausa humanitária em Gaza. O embaixador, porém, condenou a postura do governo americano, que vetou a resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU.