MUNDO: A manifestação de apoiadores de Nicolás Maduro realizada em Caracas, nesta semana, rapidamente se transformou em alvo de ironias nas redes sociais. Enquanto a TV estatal venezuelana tentava exibir entusiasmo popular, internautas, dentro e fora do país, reagiram com sarcasmo: “Querem passar fome”, escreveu um usuário, resumindo o sentimento geral sobre o colapso socioeconômico vivido pela Venezuela.

O contraste é gritante. De um lado, o governo mobiliza atos para tentar mostrar força política em meio à crescente tensão com os Estados Unidos. Do outro, a população enfrenta uma das piores crises humanitárias das Américas — marcada por escassez de alimentos, hiperinflação, serviços públicos devastados e êxodo recorde. A piada que domina as redes não é apenas provocação; é síntese da tragédia de um país onde encontrar comida se tornou um desafio diário.

Em bairros pobres de Caracas, longas filas por produtos básicos seguem sendo rotina. Muitos dependem de doações, remessas de familiares que fugiram para outros países e até mesmo da busca por restos de comida no lixo. Mesmo assim, o regime chavista continua tentando construir uma narrativa de normalidade e apoio popular, usando protestos alinhados ao discurso oficial como instrumento político.

Analistas observam que essas manifestações pró-governo, frequentemente transmitidas de forma triunfalista pela TV estatal, não conseguem esconder a realidade que escancara os efeitos de mais de duas décadas de autoritarismo, má gestão econômica e repressão. Porém, nas redes, o humor ácido tem servido como válvula de escape para indignação acumulada.

Para muitos venezuelanos, a verdadeira marcha é a silenciosa: a de milhões que deixaram o país para fugir da fome, da crise e da perseguição. As imagens de apoiadores de Maduro nas ruas, diante desse cenário, acabam soando como teatro político — e, para grande parte da opinião pública, como motivo de piada amarga.