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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
BRASIL - A Justiça de Canutama decretou nesta quinta-feira (28) a prisão preventiva de dois fazendeiros suspeitos de envolvimento no sumiço de três agricultores do Movimento Sem Terra (MST), vistos pela última vez no dia 14 de dezembro na divisa entre Rondônia e Amazonas. Os suspeitos são Antonio Mijoler Garcia Filho e Rinaldo da Silva Mota.
A equipe de reportagem não conseguiu contato com a defesa dos suspeitos.
Os desaparecidos sumiram na cidade de Canutama. Eles faziam parte de um grupo de ocupa uma área de terra da união e travam disputa judicial contra fazendeiros pela posse definitiva do terreno. Eles foram vistos pela última vez fotografando a área.
A Coordenadora Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, Maria Petronila, informou à Rede Amazônica que um dos desaparecidos sofria ameaças de morte.
“Nós fomos procurados no dia 1º de dezembro pelo Flávio, que é o presidente da associação, que relatou para nós, apresentou boletim de ocorrência das ameaças que ele vinha sofrendo por parte de gerentes, enfim, por parte de trabalhadores daquela fazenda, de posse dessa empresa”, disse Maria.
Um mandado de busca e apreensão deve ser cumprido nesta sexta-feira (29) na fazenda dos suspeitos.
Segundo a Polícia Civil, equipes das polícias Civil e Militar estão em diligência apurando o caso no interior do Amazonas.
Decisão
A juíza Joseilda Pereira Bilio informou que o mandado de prisão ocorreu para "assegurar a manutenção da ordem pública e como garantia da aplicação da lei penal".
Na mesma decisão, a magistrada, que assumiu a Comarca de Canutama na terça-feira (26), após ter tomado posse como juíza do Tribunal de Justiça do Amazonas no último dia 20, também deferiu pedido de busca e apreensão nas residências e fazendas especificadas no processo, conforme pedido da autoridade policial.
Buscas
No domingo (24), o Exército suspendeu as buscas pelos agricultores. De acordo com o Coronel Alexandre Fonseca, do 54º Batalhão de Infantaria de Selva, toda a área foi vasculhada, mas os agricultores não foram encontrados.
Conforme Fonseca, as buscas foram assumidas pelo Exército na quarta-feira (20) e precisou ser suspensa, sem indícios de corpos ou dos desaparecidos com vidas serem encontrados. "Nós vasculhamos a área e não encontramos nada. Até dos boatos que recebemos, não achamos nada. Sabemos que é uma área grande, mas ela foi toda vasculhada e encerramos as buscas ", informou o coronel.
Quem são os desaparecidos
Flávio de Lima de Souza - é ex-brigadista do ICMBio.
Marinalva Silva de Souza - vice-presidente da associação de moradores da zona rural.
Jairo Feitosa - morador da região.
Desaparecimento
Os três agricultores do Movimento Sem Terra estão desaparecidos desde 14 de dezembro em uma área de conflito agrário no município de Canutama na divisa com o estado de Rondônia. De acordo com a Polícia Militar (PM), um dos desaparecidos é ex-brigadista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A mulher de Flávio disse não acreditar que o marido e os amigos se perderam na região, pois eles conheciam toda a área da proriedade.
"Eles entraram lá para tirarem fotos que foram solicitadas para serem entregues ao Incra, conforme ação que está ocorrendo na Justiça, que foi ganho a causa pra gente, pois estamos lá na área. Na ida que eles foram para tirarem essas fotos acabaram sumindo e outras pessoas que estavam com eles voltaram desesperados avisando do sumiço dos amigos", afirma Rosiane Moraes.
A esposa de Flávio também relatou que os agricultores já estavam sendo ameaçados em Canutama.
"Algumas manilhas colocadas na entrada da área de conflito foram arrancadas com tratores. Nós fomos em Humaitá (AM), falamos com delegado e fizemos registro de ocorrência na época", disse.
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