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    porto velho, sexta-feira 26 de julho de 2024

Crise Lula x Israel se acirra e gera impasse diplomático após declaração polêmica

A crise diplomática teve início com declaração de Lula em que comparou guerra ao Holocausto.


Redação

Publicada em: 21/02/2024 17:11:33 - Atualizado

Foto: Reprodução

BRASIL: A crise diplomática aberta entre Brasil e Israel — que teve início após comentário de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra que atinge o Oriente Médio — segue sem sinais de arrefecer. De um lado, o governo israelense exige uma retratação do presidente da República. Do outro, Lula não indica recuo.

O imbróglio teve início no último domingo (18/2), após Lula comparar a guerra entre Israel e o Hamas ao Holocausto. "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", declarou em coletiva de imprensa ao encerrar o giro pela África.

Prontamente, a fala do presidente foi rechaçada por atores políticos tanto do Brasil quanto do exterior, mas a resposta mais dura partiu do governo de Israel. Em uma quebra de protocolo, o ministro das relações exteriores do país, Israel Katz, convocou o embaixador brasileiro Frederico Meyer a comparecer ao Museu do Holocausto Yad Vashem.

Na ocasião, o chanceler de Israel condenou as falas de Lula e, em hebraico, o declarou "persona non grata". A situação, considerada humilhante para o embaixador, teve uma repercussão ruim no Brasil e levou Mauro Vieira a convocar Meyer de volta. Em reunião com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, o ministro das relações exteriores brasileiro demonstrou incômodo à reprimenda.

Como mostrou a coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, Vieira afirmou, nesta terça-feira (20/2), que Israel vive uma "página triste na diplomacia". "Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante", considerou.

"Estou seguro de que a atitude do governo Netanyahu e sua antidiplomacia não refletem o sentimento da sua população. O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu. Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim", disse.

Pressões a Lula

Também nesta terça, o ministro das Relações Exteriores de Israel voltou a cobrar um pedido de desculpas de Lula. No X (antigo Twitter), o chanceler publicou um texto em português em que questiona Lula como "ousa comparar Israel a Hitler".

"Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros", disparou. "Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então continuará sendo persona non grata em Israel."

As pressões por uma retratação de Lula vêm também da cena política nacional. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a fala foi equivocada e afirmou ser adequada uma retratação.

Outra medida partiu de mais de uma centena de parlamentares — alguns deles da base aliada do governo — que reuniram assinaturas para um pedido de impeachment contra Lula em razão da comparação entre a ação de Israel na Palestina com o Holocausto. Os congressistas acusam o presidente de crime de responsabilidade.

Por outro lado, no Senado, o senador Omar Aziz (PSD-AM), que é filho de palestino, saiu em defesa de Lula. Ele disse que a relação que o presidente fez com o Holocausto foi incorreta, mas cobrou que o Senado Federal se posicione sobre as milhares de mortes de palestinos que estão ocorrendo por ação de Israel na Faixa de Gaza.

Blinken

Em meio à polêmica após a fala de Lula, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, desembarcou na noite desta terça em Brasília. O norte-americano é judeu e seu padrasto sobreviveu ao Holocausto. Em outubro, dias após o ataque do grupo terrorista Hamas que deixou centenas de mortos e deu início à guerra, Blinken visitou Israel para oferecer apoio.

Os EUA são os principais aliados de Israel no planeta e, especificamente, na guerra, que já dura quatro meses. Com uma aliança histórica que se formou entre os dois países no fim da Segunda Guerra Mundial, os americanos têm reafirmado seu "apoio inabalável" a Israel desde o início do conflito.

Nesta terça, por exemplo, os norte-americanos vetaram resolução das Nações Unidas (ONU), proposta pelos países árabes, que exigia cessar-fogo humanitário imediato na guerra de Israel contra Hamas. Com o novo veto, este foi o terceiro voto contra dos EUA a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que determinava um cessar-fogo.

Entre os temas previstos da reunião de Blinken com Lula estão o apoio à Presidência do Brasil no G20, a cooperação na transição para energia limpa e o bicentenário das relações diplomáticas entre Brasil e os EUA.

Não se sabe se a polêmica será tratada em algum momento, ainda que de maneira informal, no encontro bilateral. De toda maneira, a situação atual pode deixar no ar um desconforto dos dois lados.

Depois de passar por Brasília, o secretário de Estado norte-americano vai ao Rio de Janeiro para participar da reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20. Atualmente, o Brasil ocupa a liderança do bloco, que reúne as principais economias do mundo.

Em sua visita à América Latina, o secretário também passará por Buenos Aires, na Argentina, onde se encontrará com o presidente Javier Milei.

Guerra

A ofensiva israelense teve início após o ataque-surpresa promovido pelo Hamas em 7 de outubro. Na ocasião, o grupo extremista matou 1,2 mil pessoas e levou cerca de 240 reféns. Desde então, o governo de Israel promove uma ofensiva, com bombardeios e incursões terrestres, e um cerco à região.

Conforme relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, sigla em inglês) de 20 de fevereiro, a guerra resultou em cerca de 29 mil mortos na Palestina, além de mais de 69 mil feridos. As informações partem do Ministério da Saúde de Gaza, que é dominado pelo Hamas.

Israel, embora enfrente pressões internacionais, tem se comprometido na busca de três objetivos: libertar os reféns, destruir o Hamas e garantir que a Faixa de Gaza não represente mais uma ameaça à existência do Estado de Israel.


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