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porto velho, sexta-feira 20 de junho de 2025
BRASIL: Primeira grande disputa do início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a reoneração dos combustíveis deixou explícita a divisão entre as alas política e econômica do governo. A queda de braços foi travada antes mesmo de Lula assumir, com o núcleo político saindo na frente e conseguindo prorrogar, por 60 dias, a desoneração dos impostos federais sobre os combustíveis.
A desoneração, que havia sido determinada em 2022 pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) em um contexto eleitoral, foi defendida pelo PT durante a transição, temendo perder apoio entre a classe média e gerar impacto negativo sobre a popularidade do novo governo.
Em entrevista na última semana ao colunista do Metrópoles Guilherme Amado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi questionada sobre os embates, mas minimizou:
“Toda decisão de um governo é política. Não tem decisão apolítica, não tem decisão eminentemente técnica. Toda decisão é política. Então, não tem área política, área econômica. Tem, sim, debates dentro de um governo que é um governo de coalizão, que tem disputa de posição”, disse Gleisi.
Por sua vez, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a dirigente petista é uma pessoa de “opiniões fortes”, mas lembrou que ela sabe que quem arbitra as questões é o próprio Lula.
“O importante é que ela defendeu a decisão do presidente Lula. Era o que eu esperava da parte dela, que é uma pessoa que tem opiniões fortes, mas que sabe que a decisão final, quem arbitra os conflitos de posições dentro do governo e fora do governo, é o presidente Lula”, afirmou Haddad em entrevista ao portal Uol.
Na quinta-feira (2/3), ao jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews, Lula foi na mesma linha da presidente do PT e disse que toda decisão de seu governo é política.
Além da reoneração dos impostos sobre os combustíveis, outros temas ainda devem gerar atritos entre os dois núcleos, começando pela principal reforma encampada pelo governo, a tributária, que precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Nesse tema, a equipe econômica briga pelo aumento na arrecadação federal, medida pouco popular e que deve sofrer resistências de aliados políticos. Além disso, a bancada do Amazonas deve insistir na manutenção da Zona Franca de Manaus.
O secretário especial da Reforma Tributária, Bernard Appy, havia dito que a Zona Franca perderia incentivos de forma gradual. A proposta estipula o fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), cuja tributação vale apenas para as empresas que não estão instaladas no polo industrial.
Outro ponto que pode dividir as duas alas é a reversão de privatizações feitas nos últimos anos. Enquanto no discurso público expoentes do PT defendem, por exemplo, a reestatização da Eletrobras, a equipe econômica não dá sinais de que pretende investir nessa pauta.