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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
Cientistas da Universidade de Amsterdã, na Holanda, apresentaram um novo estudo que pode mudar o destino de pessoas portadoras do HIV. Por meio de uma ferramenta de edição genética CRISPR, a equipe conseguiu eliminar o vírus da Aids de um conjunto de células. A técnica que pode representar a cura num futuro, no entanto, ainda não foi testada em animais ou humanos.
Os responsáveis pelo estudo apontam o experimento como uma prova de conceito, já que muitas etapas do procedimento inovador contra o HIV precisam ser aperfeiçoadas. Em contrapartida, é um caminho bastante promissor em direção à cura desta infecção que afeta mais de 39 milhões de pessoas ao redor do mundo.
Atualmente, portadores de HIV conseguem ter uma vida comum com remédios antivirais, de uso contínuo. A partir dele, é possível impedir a multiplicação do vírus no organismo e restaurar o sistema imunológico com esses medicamentos, mas o agente infeccioso permanece escondido dentro das células — isto ocorre majoritariamente em algumas células do sistema imune e pode ocorrer até no cérebro.
Caso o tratamento seja interrompido, é comum que a infecção retorne e passe a dar problemas. A técnica CRISPR pode remover o patógeno, algo que nenhum remédio disponível atualmente nas farmácias consegue fazer.
Mais detalhes do estudo
Utilizando a tesoura genética CRISPR — as responsáveis pela invenção já receberam o Prêmio Nobel de Química, em 2020 —, é possível identificar e alterar pontos específicos do código genético, o DNA, de organismos vivos. Basicamente, a ferramenta de edição genética elimina genes indesejados ou introduz um novo material genético.
Aparentemente, isso parece pouco funcional para pacientes com HIV, já que não se trata de um quadro de origem genética. O ponto é que o vírus da Aids consegue integrar o seu genoma no DNA de algumas células do hospedeiro, o que torna a sua eliminação tão complexa. É o que explica a volta da infecção, após anos de tratamento.
Estratégia promissora
Os autores do estudo desenvolveram uma estratégia capaz de eliminar o HIV de diferentes células e de locais em que ele possa estar escondido, os reservatórios. Além disso, “demonstramos que a terapêutica pode ser administrada especificamente às células de interesse”, acrescentam os pesquisadores. Por isso, os cientistas holandeses apostam que “essas descobertas representam um avanço fundamental no sentido de projetar uma estratégia de cura”.
Cura a caminho?
O único caso de cura existente no mundo do vírus HIV são de dois pacientes de Berlim, na Alemanha, que realizaram um transplante de medula óssea durante o tratamento de um câncer. A técnica tem inúmeros riscos e só pode ser usada em condições muito específicas, por isso, não há planos de expandir esse “tratamento” para outros grupos de pacientes.
No entanto, no novo estudo envolvendo a ferramenta de edição genética CRISPR, os pesquisadores demonstraram apenas que a “cura” é viável em laboratório, quando a terapia é aplicada em um conjunto de células. O que foi demonstrado é o primeiro passo no caminho de uma possível e real cura, mas antes será necessário realizar inúmeros testes em animais.
Caso o procedimento seja seguro e eficaz nos modelos animais, os primeiros humanos poderão testar a técnica — um dia, ela pode ser um ponto de virada no combate ao vírus da Aids, mas ainda é cedo para afirmar isso. A pesquisa sobre uma possível cura do HIV será apresentada durante o 34º Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (Eccmid 2024), entre os dias 27 e 30 de abril, na Espanha.