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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
BRASIL: Um novo estudo liderado por pesquisadores da USC (University of Southern California) mostrou que uma dieta rica em “junk food” — um termo em inglês para se referir a comidas ricas em calorias e de baixa qualidade nutritiva, como ultraprocessados e alimentos com alto teor de açúcar — durante a adolescência pode prejudicar a memória longo do tempo.
No estudo, os pesquisadores alimentaram camundongos adolescentes com uma dieta rica em gordura e açúcar e descobriram que a capacidade de memória desses modelos foi prejudicada a longo prazo. A descoberta foi publicada na edição de maio da revista Brain, Behavior, and Immunity.
“O que vemos não apenas neste artigo, mas em alguns de nossos outros trabalhos recentes, é que se esses ratos cresceram com essa dieta de junk food, então eles têm problemas de memória que não desaparecem”, diz Scott Kanoski, professor de ciências biológicas na Faculdade de Letras, Artes e Ciências da USC Dornsife, em comunicado. “Se você simplesmente colocá-los em uma dieta saudável, esses efeitos infelizmente duram até a idade adulta.”
Para realizar o estudo, os pesquisadores levaram em consideração que pesquisas anteriores já haviam mostrado uma relação entre a má alimentação e a doença de Alzheimer, que leva à perda progressiva da memória e capacidades cognitivas.
Pessoas com Alzheimer tendem a ter níveis mais baixos de um neurotransmissor chamado acetilcolina no cérebro. Ele é essencial para a memória e funções como aprendizagem, atenção e movimentos musculares involuntários.
Diante disso, a equipe de pesquisadores se questionou se isso poderia trazer prejuízos a longo prazo para jovens que estão seguindo uma dieta rica em gordura e açúcar, especialmente durante a adolescência, fase em que o cérebro ainda está em desenvolvimento significativo.
Portanto, os pesquisadores decidiram rastrear os níveis de acetilcolina em um grupo de ratos que estavam recebendo uma alimentação gordurosa e açucarada e em um segundo grupo controle de ratos — que não receberam a mesma alimentação.
A equipe analisou as respostas cerebrais a certas tarefas destinadas a testar a memória dos roedores. Os testes incluíam a exploração de objetos em um determinado cenário. Dias depois, os ratos eram reintroduzidos na mesma cena, mas com a adição de um novo objeto.
De acordo com o estudo, os ratos que seguiam uma dieta com “junk food” mostraram sinais de que não conseguiam lembrar qual objeto haviam visto anteriormente e em qual lugar. Já os ratos do grupo controle mostraram familiaridade na tarefa.
Os cérebros dos ratos também foram examinados após a morte deles, em busca de sinais de alterações nos níveis de acetilcolina.
“A sinalização de acetilcolina é um mecanismo para ajudá-los a codificar e lembrar esses eventos, análogo à ‘memória episódica’ em humanos, que nos permite lembrar eventos do nosso passado”, explicou a autora principal do estudo, Anna Hayes. “Esse sinal parece não estar acontecendo nos animais que cresceram comendo uma dieta gordurosa e açucarada.”
De acordo com os pesquisadores, a adolescência é um período muito sensível para o cérebro, pois nela ocorrem mudanças importantes no desenvolvimento. “Infelizmente, algumas coisas que podem ser mais facilmente reversíveis durante a idade adulta são menos reversíveis quando ocorrem durante a infância”, afirma Kanoski.
Porém, ainda existe uma esperança de intervenção. O pesquisador conta que, em outro estudo, a equipe examinou se os danos à memória em ratos que foram criados com a dieta com junk food poderiam ser revertidos com o uso de medicamentos que induzem a liberação de acetilcolina.
Para isso, foram utilizados dois medicamentos, PNU-282987 e carbacol. Quando administrados diretamente no hipocampo, região do cérebro que controla a memória, a capacidade de reminiscência foi restaurada. No entanto, sem essa intervenção médica, os pesquisadores acreditam que outros estudos são necessários para saber como reverter problemas de memória causados por uma má alimentação.