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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
BRASIL: Doença de transmissão respiratória, a Covid-19 pode causar impactos ao organismo que vão além dos danos aos pulmões e do trato respiratório. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) investigam, de maneira contínua, as alterações hormonais e inflamação nos testículos provocadas pelo coronavírus.
Um estudo experimental apontou que proteína Spike, estrutura utilizada pelo vírus para a invasão das células humanas, está associada com níveis mais baixos de testosterona. Os pesquisadores da USP identificaram também que a quantidade e qualidade dos espermatozoides diminuiu em parte dos pacientes, que são acompanhados em pesquisas clínicas e laboratoriais.
De acordo com o pesquisador Jorge Hallak, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, as alterações também foram detectadas em pacientes com quadros leves e moderados da doença.
“Isso não foi associado como em outras patologias e outros fatores que nós estudamos no passado, por exemplo, o cigarro e a maconha”, afirma Hallak, um dos autores do estudo, em comunicado. “O vírus SARS-CoV-2 tem uma predileção por sistemas e células que têm um tipo de receptor [ACE2], ou seja, que tem uma ligação na célula […] geralmente pela proteína S”, explica o professor.
Diferentes sistemas do organismo humano apresentam esse receptor, incluindo o sistema respiratório, geralmente impactado pela infecção. As ligações entre o vírus e a célula ocorrem como um modelo de chave e fechadura.
No caso do sistema reprodutivo masculino, diferentemente do feminino, há a presença da proteína TMPRSS2, que também permite a entrada do vírus causador da Covid-19 na célula.
Os pesquisadores da USP avaliam que essa diferença pontual possa estar relacionada a uma maior resistência das mulheres aos quadros graves da doença.
Os especialistas estudam o tempo de recuperação após a queda dos níveis hormonais e se outras proteínas estão associadas ao quadro. Análises preliminares apontam uma média de nove meses.
O grupo de pesquisa investiga a ação da proteína N. Em testes com ratos, que têm alta taxa reprodutiva, a proteína diminuiu a testosterona. “Para afetar um sistema hormonal de um animal que tem essa capacidade biológica de reprodução, é muito significativo o impacto”, diz o pesquisador.
Em estudos anteriores, os cientistas identificaram que o coronavírus é capaz de invadir todos os tipos de células dos testículos, causando lesões que podem prejudicar a função hormonal e a fertilidade masculina.
Para chegar ao resultado, os especialistas realizaram a autópsia dos tecidos testiculares de 11 pacientes, com idade entre 32 e 88 anos, que morreram devido a complicações da Covid-19. O estudo é coordenado pelos professores Paulo Saldiva e Marisa Dolhnikoff, da Faculdade de Medicina da USP.
“Vimos por microscopia eletrônica que o coronavírus invadiu todas as células do testículo. O vírus está presente nas células que produzem espermatozoides, chamadas Sertoli, nas células que produzem testosterona, chamadas de Leydig, nos vasos sanguíneos e no arcabouço que dá suporte ao testículo”, explica Hallak.
As análises mostraram uma série de lesões, possivelmente associadas às alterações inflamatórias, que reduzem a produção de espermatozoides e hormônios. A queda na atividade pode estar relacionada a lesões e formação de trombose, que reduzem a oxigenação dos tecidos de estruturas onde os espermatozoides são produzidos.