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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
BRASIL - Em 2014, em entrevista a Jô Soares, a apresentadora e jornalista Gloria Maria, que morreu nesta quinta-feira (2), admitiu que tomava cerca de 80 comprimidos vitamínicos diariamente. "Tomo uns 35 de manhã, uns 20 de tarde e outros 20 de noite", declarou, na época. O abuso de tais vitaminas, porém, nem sempre significa saúde.
De acordo com Bianca Naves, nutricionista da NutriOffice, embora as vitaminas sejam fundamentais na constituição, elaboração e resposta das células que formam o organismo, a ingestão em excesso e sem indicação de um profissional pode levar a reações alérgicas, além de causar toxicidade ao organismo.
"Assim como qualquer medicamento, não é recomendado fazer o uso de automedicação, sem buscar recomendação médica. A ingestão sem a prescrição pode gerar prejuízos à saúde, como hipo ou hipervitaminose, que pode causar uma série de complicações, e até mesmo intoxicação", alerta.
"A intoxicação vitamínica acontece mais facilmente com as vitaminas lipossolúveis [vitaminas dissolvidas em gordura], A, D, E e K, sendo seus excessos de difícil eliminação pelo organismo. Assim, como cada nutriente tem funções distintas, o excesso de cada um provoca consequências diferentes. Enquanto megadoses de vitamina E podem levar a fenômenos hemorrágicos e ao aumento da mortalidade no longo prazo, a vitamina K está ligada à “coagulação sanguínea”. Já a vitamina A pode causar problemas neurológicos semelhantes à meningite e cefaleia intensa, além de oferecer risco teratogênico [malformação do feto] para gestantes", afirma a nutricionista.
Paula Pires, endocrinologista e metabologista pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), endossa que "a ingestão de certos micronutrientes em doses diárias mais altas do que as recomendadas (betacaroteno, ácido fólico, vitamina E, vitamina A e selênio, por exemplo) pode aumentar a mortalidade geral e o número de óbitos por câncer e acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, além de cálculos renais".
As especialistas explicam que a alta dosagem vitamínica pode trazer sintomas como visão turva, confusão mental, desidratação, náuseas, aumento do sangramento, diminuição na produção de hormônios tireoidianos e anemia hemolítica.
"O abuso de vitamina A pode causar pele seca, áspera e descamativa, fissuras nos lábios, dores de cabeça, tonturas, queda de cabelo, câimbras, lesões hepáticas e interrupções de crescimento. Já o de vitamina D pode causar hipercalcemia [nível elevado de cálcio no sangue causado pelo aumento da absorção de cálcio pelo intestino], pressão alta, perda de apetite, náuseas e vômitos. E o de vitamina C pode causar cólicas estomacais, diarreia e, possivelmente, cálculos renais", especifica a endocrinologista da SBEM.
Caso a superdosagem gere sintomas, é necessário buscar ajuda profissional de modo a eliminar o excesso vitamínico que está causando a intoxicação, de acordo com cada grupo nutricional. Se o excesso for, por exemplo, de vitaminas hidrossolúveis (que se dissolvem em água), tais como vitaminas B1, B2, B3, B6, B9, B12, o ácido pantotênico e a vitamina C, basta interromper a administração dos nutrientes, pois seu excesso é excretado pelos rins e pela urina.
A endocrinologista e metabologista da SBEM explica que, se a pessoa é saudável e come bem, muitas vezes nem sequer há a recomendação de suplementação vitamínica, dado que o ideal é que a fonte de vitaminas e sais minerais seja a alimentação.
"Uma dieta rica em vegetais e proteínas oferece os micronutrientes em proporções biologicamente equilibradas, enquanto a administração de um deles em doses altas traz o risco de afetar o equilíbrio fisiológico do organismo", diz.
Bianca complementa que a necessidade de suplementações vitamínicas varia de acordo com a faixa etária e déficits identificados, além de dosagens recomendadas.
Embora nenhuma vitamina seja obrigatória para a população, as reposições mais recomendadas são as de vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina D, vitamina E e vitamina K, segundo a nutricionista.
As profissionais ressaltam que, assim como é importante atentar aos excessos, é preciso prestar atenção às deficiências vitamínicas. Entre os sintomas que o quadro pode apresentar, estão cabelos e unhas finos e quebradiços; lábios secos e aftas; fadiga; falta de apetite, palidez e apatia; cicatrização lenta; fraqueza muscular; cansaço ou fadiga; sono diurno; falta de atenção; pele áspera e seca; atraso no crescimento e problemas cognitivos e motores em crianças.
"É preciso critério para receitar vitaminas apenas nas condições em que existem evidências científicas dos benefícios ou condições que exigem suplementação, como a cirurgia bariátrica (complexo B, ferro, cálcio, zinco, cobre e multivitaminas); anemia perniciosa (vitamina B12); doença de Crohn e outras doenças inflamatórias intestinais (ferro, vitamina D, zinco, magnésio e multivitaminas), osteoporose (vitamina D, cálcio e magnésio)", diz a endocrinologista.
A especialista afirma ser necessário "considerar reposição, ainda, quando houver uso prolongado de medicações como os inibidores de bomba de prótons omeprazol, esomeprazol, pantoprazol (vitamina B12, cálcio e magnésio); metformina para diabetes (vitamina B12); e dietas restritivas ou pobres em micronutrientes (multivitaminas, B12, cálcio, vitamina D e magnésio)".
"Mas se você se alimenta bem a reposição deve ser feita apenas com prescrição médica e avaliação especializada", finaliza.