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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
BRASIL -Os sintomas da Covid mudaram nos últimos três anos ou foi a imunidade da população contra o Sars-CoV-2 que melhorou progressivamente?
Especialistas afirmam que com a vacinação, com a imunidade da infecção anterior e com a evolução das novas variantes da ômicron para causar infecção aguda geral menos intensa, o quadro clínico da Covid também evoluiu.
Embora não existam dados suficientes para dizer que as novas subvariantes da ômicron em circulação, como a XBB.1.5 e a BQ.1, tenham menor agressividade comparadas a outras formas mais letais -como a delta e a gama (ou P.1)-, a impressão no meio científico é que as novas infecções pelo vírus tendem a apresentar efeitos mais leves e, mais ainda, que esses sintomas são reflexo da proteção individual ao vírus.
Um estudo recente publicado na revista especializada BMJ (British Medical Journal) avaliou os principais sintomas envolvidos com as diferentes variantes do coronavírus. Embora seja difícil determinar se os sintomas são resultado da imunização prévia ou de novas variantes, os sintomas mais comuns no início da pandemia, como perda de olfato ou paladar, falta de ar, problemas vasculares (como os "dedos da Covid") ou falência pulmonar, foram substituídos com as subvariantes BA.1/BA.4/BA.5 da ômicron por sintomas mais relacionados à dor de garganta, fadiga, tosse, congestão nasal e voz rouca.
"Hoje, francamente, não temos como diferenciar o efeito da vacina contra Covid [do efeito] da imunidade adquirida por infecções prévias que as pessoas tiveram", afirma a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
"O Brasil tem uma elevada cobertura vacinal e também foi atingido por uma forte onda. Então, a imunidade adquirida graças a essas infecções e a vacinação ajudam a prevenir que o vírus se replique muito no seu organismo."
Bonorino lembra também que nenhuma vacina desenvolvida até agora previne infecções, então é natural que mesmo pessoas que foram vacinadas com quatro ou mais doses contraiam o vírus. "Nunca foi feita a afirmação de que as vacinas impedem a infecção, mas a combinação da vacinação gerando imunidade de rebanho e resposta imune no seu organismo ajuda a diminuir a transmissão viral."
Como as variantes do vírus que têm surgido apresentam mutações que acabam levando ao chamado escape imunológico, que é justamente quando o patógeno consegue driblar algumas barreiras de proteção da vacina, é esperado que os casos de reinfecção sejam mais comuns, mas também sejam mais brandos.
"A tendência que a gente observa, à medida que a população adquire imunidade, é a Covid se tornar mais branda, porque o seu sistema imunológico já tem algum tipo de treinamento para reconhecer aquele vírus", afirma o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz.
Croda ressalta, porém, que essas proteções são variáveis conforme a idade e comorbidades, e que mesmo idosos com mais de 70 anos vacinados até a última dose ainda podem ter um risco elevado de internação e óbito.
"Os dados de proteção da bivalente, especialmente para os grupos de risco para os quais elas são indicadas, iremos observar daqui a alguns meses, mas é importante reforçar que mesmo as pessoas agora vacinadas que fazem parte desse grupo mais vulnerável correm risco de hospitalização e óbito, por isso é importante fazer a atualização vacinal."
Inclusive, os ciclos de novas infecções coincidem em parte com o período de decaimento das vacinas, indicando uma possível adaptação do vírus para evadir nos momentos em que a proteção é mais baixa e o número de novos indivíduos suscetíveis aumenta.
Uma revisão publicada no último dia 25 no periódico científico The Lancet, o mais prestigioso da área médica, encontrou que a proteção conferida por vacinação e imunidade prévia contra infecção ou reinfecção por ômicron BA.1 foi baixa quando comparada à de outras variantes alfa, beta e delta e à da cepa ancestral de Wuhan, mas ela se manteve elevada contra hospitalização e óbito para todas as formas.
"É difícil dizer o quanto são as novas variantes e o quanto é a proteção porque tivemos também uma proteção muito desigual", afirma Celso Granato, infectologista e diretor médico do Grupo Fleury. "No Brasil, a maioria das pessoas teve um esquema primário com Coronavac, e o reforço foi tomado, em muitos casos, há pelo menos oito meses. Então, não dá para imaginar que essa proteção estaria segurando um surto [de novas variantes], mas pode ser que o vírus esteja evoluindo para ter uma clínica cada vez mais benigna."
A evolução do vírus implica uma menor letalidade e uma melhor adaptação para conseguir infectar novas pessoas a cada onda, afirma Bonorino. "O vírus evoluiu muito nestes três anos de 'colonização' dos humanos, mas é sempre bom lembrar que alguns efeitos do coronavírus neurológicos já são bem descritos, e isso sim é preocupante, além de Covid longa. Enquanto isso, os efeitos a longo prazo das vacinas que estamos observando já no terceiro ano de aplicação são proteção contra hospitalizações e óbitos."