Fundado em 11/10/2001
porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
BRASIL: Uma vida se perdeu e isso, claro, é muito grave. Era apenas uma criança de 8 anos que acabou morta após o ataque de um cão da raça pitbull na manhã de quarta-feira (20) na Vila Santa Bárbara, zona Leste de Teresina. O animal acabou sacrificado, segundo relatos, por vizinhos que tentavam salvar a menina.
Essa é uma tragédia que poderia ser evitada? Possivelmente. Algumas situações chamam atenção sobre o caso, segundo os relatos da família e policiais que atenderam a ocorrência. O animal, que tem como tutor um irmão da menina, ficava costumeiramente fora da residência. Ao entrar na casa, o pitbull foi ao quarto, viu a criança embrulhada com lençol e teria estranhado, passando ao ataque após ela gritar.
Estes são alguns aspectos que mostrariam que o animal era usado como um cão de guarda, ou seja, pronto para defender o seu território. É preciso, no entanto, compreender que essa raça necessariamente não tem comportamento violento. Ataques que levam a morte de pessoas são casos isolados. No geral, apesar da força e do jeitão zangado, são descritos como sociáveis, gostam de crianças e fiéis à família que o rodeia. Sua agressividade estaria mais voltada para outros cães.
A resposta exata não é fácil. Mas, para o Capitão Azevedo, da Polícia Militar do Piauí, que por 18 anos foi o adestrador do canil do Batalhão de Choque, o problema comportamental está relacionado geralmente à forma como o cão é criado. Para ele, se for instigado à violência e ao ataque quando filhote se tornará um adulto com essas características.
“Comportamento de um animal em uma casa quem vai dar, bom ou ruim, é a maneira como for criado. Conheço vários pitbulls que têm contato com crianças e não há o menor problema. Infelizmente alguns criadores de pitbull têm estímulo para que ele ataque, não estou dizendo que é este o caso do que aconteceu em Teresina. Há casos onde o animal, desde filhote, sofre maus-tratos físicos e por vezes são instigados ao ataque. Há casos onde desde filhote o animal demonstra não gostar de criança e isso pode ser corrigido logo, da forma correta, não com violência contra o cão porque só vai piorar e traumatizar o animal”, explica.
Capitão Azevedo, que é adestrador formado pela Polícia Militar de São Paulo, lembra que o pitbull é de fato um animal de temperamento forte, assim como o pastor alemão e o pastor belga malinois, este último criado pelo adestrador em casa e sem incidentes. Porém, são raças que podem ter bom comportamento, livre de ataques a pessoas. Ele chama atenção que, no caso de Teresina, algo na criação do cão pode responder ao que aconteceu com a criança.
“Matar o animal não é a solução correta. Possivelmente aconteceu alguma coisa errada na criação deste animal. Apesar da natureza mais agressiva do cão, isso pode ser mudado ainda quando é filhote, suprimindo o instinto de ataques e manter obediência. Tudo depende do tutor”, analisa.
A opinião do Capitão Azevedo é compartilhada por outros profissionais da área. O adestrador Zenildo Prazeres é especialista em comportamento animal e afirma que o pitbull só se torna violento se o tutor der este direcionamento, potencializando o instinto predatório do cão. Ao site Metrópoles afirmou: “Sendo bem treinado e socializado, o pitbull se torna um animal dócil e companheiro como qualquer outro”.
Essa linha de pensamento também é compartilhada pelo veterinário e especialista em comportamento animal que fez sucesso em programas de TV como Dr. Pet. Para Alexandre Rossi: “Quando a gente não socializa corretamente os cachorros e não apresenta todos os estímulos, como por exemplo crianças correndo e brincando, idosos com muleta, cães de raças diferentes, a gente pode facilitar esse ataque. Ele vai atacar por medo do desconhecido”, disse à revista Exame.