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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
O Brasil registrou aumento de 7% no número de doadores no primeiro semestre deste ano, o que deve levar a um novo recorde no total de transplantes de alguns órgãos.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (27) mostram que, entre janeiro e junho deste ano, foram registrados 1.765 doadores de órgãos -um aumento de 7% em relação ao mesmo período de 2017, quando houve 1.653.
O balanço considera o número de doadores efetivos, ou seja, aqueles que iniciaram a cirurgia para retirada de órgãos com a finalidade de transplantes.
Nos últimos anos, o Ministério da Saúde observou um aumento dos consentimentos familiares para a doação de órgãos, fruto de uma maior consciência da sociedade sobre a importância da doação de órgãos e tecidos para transplante", informou a pasta, em nota.
Diante desse crescimento, projeção feita pelo ministério prevê recorde até o fim deste ano nos transplantes de fígado (2.222 previstos), pulmão (130) e coração (382).
Transplantes de medula óssea também podem alcançar o maior número da série histórica, com estimativa de 2.684 ao todo. Em 2017, foram 2.388.
Somados todos os casos, a previsão é que o país alcance ao menos 26.400 transplantes em 2018. O número, porém, é menor do que o registrado em 2017, quando houve 27.474.
Para a pasta, a queda pode ser explicada pelo aumento no número de transplantes de córnea nos últimos anos, com redução a quase zero na fila de espera de estados como Amazonas, Ceará, Goiás, Pernambuco e Paraná.
Também houve queda no número de transplantes de rim, que passou de 5.948 para 5.836. O órgão, no entanto, é o que ainda tem mais pessoas ainda na fila de espera por transplante: 27 mil. Em seguida, está córnea, com 10 mil.
O balanço foi divulgado por ocasião do Dia Nacional do Incentivo à Doação de Órgãos.
Atualmente, 96% dos transplantes realizados no país são feitos no SUS. "Temos o maior programa público de transplantes do mundo", diz Daniela Salomão, coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes.
Segundo ela, se mantido o ritmo de aumento, a perspectiva é que a pasta alcance 3.530 doadores efetivos até o fim do ano, o maior número registrado nos últimos cinco anos. Apesar do avanço, o número ainda fica abaixo do total de potenciais doadores, estimado em 10.620.
Para Salomão, é preciso aumentar a divulgação sobre a importância da doação de órgãos para aumentar a taxa de consentimento familiar, hoje em 58%.
Atualmente, 41.266 pacientes aguardam por um transplante. O número é apenas 6% menor que em 2017, quando havia 44 mil pacientes na espera.
CAMPANHA
Além dos dados, a pasta também anunciou uma nova campanha para incentivar a doação de órgãos e relatos de famílias de pacientes doadores ou transplantados.
Em um deles, uma mãe conta sobre o processo de doação de órgãos da filha. "Nosso sentimento é de dor e saudade. Mas nos conforta saber que tem algo dela vivo dentro de alguém que ficou muito tempo na fila de espera", disse. "Ela salvou vidas."
Já Alexandre Barroso recebeu transplante de rins e fígado após receber um diagnóstico em 2008. No início, a informação era de que teria apenas sete dias para encontrar um órgão."A princípio me culpei, porque pensei que estava a espera de uma morte para me salvar. Depois compreendi que a doação de órgãos é vida e renascimento", afirma.
Em meio a espera, foi internado várias vezes e passou por várias cirurgias. "Foram três transplantes, quatro anos de internação, 11 cirurgias e 21 comas. Confesso que dei prejuízo para o sistema", brincou. "Mas valeu a pena. Prometo que não morro nunca mais", disse, em referência à opção pela doação de órgãos.
NOVAS REGRAS
No ano passado, o Conselho Federal de Medicina alterou as regras para diagnóstico da morte encefálica. O objetivo é deixar o processo de confirmação da morte mais claro e ágil, o que pode ajudar também na captação de órgãos para transplante.
Antes, havia a exigência de que essa confirmação fosse feita por no mínimo dois médicos, sendo um deles um neurologista. Agora, a nova resolução prevê que essa avaliação possa ser feita também por outros especialistas, os quais podem ser médicos intensivistas, neuropediatras, neurocirurgiões ou médicos de emergência, desde que com comprovação de experiência ou capacitação.
Segundo o ministério, a previsão é que o governo oferte capacitação para até 4.000 médicos até 2020 como forma de atender às novas regras.