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porto velho, domingo 6 de julho de 2025
BRASIL - "Eu sou um milagre. Pedi a Deus para poupar a minha vida para conseguir voltar para casa e aqui estou". Esse é o desabafo da professora de inglês Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, que recebeu alta nesta sexta-feira (16), após 21 dias de internação. A educadora foi atingida por 5 tiros, que atingiram as pernas, quadril, abdômen e torax, no ataque às escolas em Aracruz.
O assassino é um atirador de 16 anos que estudou até junho deste ano em uma das escolas atacadas. Ele foi apreendido horas após o crime.
Já em casa, por telefone, com a voz baixinha por causa da intubação que foi submetida, a professora disse ao g1 que estava muito feliz por estar ao lado dos três filhos, o casal de gêmeos de 7 anos e o caçula de apenas 9 meses.
"Quando cheguei, eles me abraçaram e me beijaram muito, era muita saudade. Já o bebê é muito pequeno, até achei que fosse estranhar, mas me reconheceu e sorriu para mim", contou Degina.
A professora lembrou que ao ser atingida, o filho ainda era alimentado com o leite materno e com a ausência dela, os familiares precisaram introduzir outros alimentos.
"Eu ainda tenho leite, mas por causa dos medicamentos devo esperar para tentar amamentar de novo. Só de vê-lo bem é um alívio", disse Degina.
No caminho do Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, na Grande Vitória, até em casa em Santa Cruz, em Aracruz, no Norte do estado, a professora não resistiu e até parou para lanchar.
"Parei para comer um pastel e caldo de cana, não resisti", brincou. A professora parecia ainda não acreditar que tinha vencido, até o Natal vai passar em casa e a ficha, segundo ela, ainda não caiu.
"Quando me disseram que eu tinha a possibilidade de passar o Natal em casa, não acreditei. Fiquei muito ansiosa. Se passaram os dias e eu estava na enfermaria, até que a possibilidade virou realidade e me deram alta. Estava com muita saudade da minha família, dos meus filhos", disse.
Degina contou que após ser atingida ficou lúcida até chegar ao hospital. Contou lembrou que tentou poupar energia, procurava não ficar nervosa e se mexer muito.
"Na cabeça, só pensava em meus filhos e a todo momento pedia a Deus para cuidar de mim, poupar a minha vida para eu conseguir voltar para casa e cuidar dos meus filhos. Orei muito e sei que muita gente orou por mim também. Hoje vivo um momento muito feliz, mas me compadeço e sinto muito pelas famílias das outras vítimas".
Durante os 21 dias que esteve internada, a professora contou que verdadeiros anjos cuidaram dela. Disse que foi muito bem tratada por toda equipe médica.
"A equipe é muito especial. Não poderia ser melhor cuidada, saí de lá com verdadeiros amigos. A minha alta foi muito emocionante", disse.
A professora disse que independente da religião, a saída dela tem relação com pessoas que se uniram para torcer e rezar pela recuperação dela.
"Era muita gente pedindo orações pra mim. Meus amigos, familiares e muitas pessoas desconhecidas do estado, do Brasil e fora do país não pararam de interceder por minha saúde. Por isso, sou muito grata. Eu saí da escola muito ferida, sou uma sobrevivente e um milagre aconteceu na minha vida", disse Regina.
A professora precisa se recuperar e ainda não pensou em voltar a dar aulas. Disse que precisa recuperar os movimentos do braço esquerdo e da perna que ainda está imobilizada, além de não conseguir dormir uma noite inteira por causa de constantes dores.
Degina disse que precisa de um tempo para focar na saúde e cuidar dos filhos que sofreram muito com sua ausência.
Até a tarde desta sexta-feira (16) , duas vítimas do atentado seguiam hospitalizadas. Uma professora de 51 continua hospitalizada em um hospital estadual na Grande Vitória e a aluna Thais Pessotti da Silva, de 14 anos, baleada na cabeça, segue internada em um hospital particular.
No dia 25 de novembro, um ataque a duas escolas deixou quatro mortos e outros 12 feridos em Aracruz, no Norte do Espírito Santo. A investigação apontou que o ataque foi planejado por dois anos e por um assassino de 16 anos que estudou até junho no colégio estadual atacado. O criminoso usou duas armas do pai, um policial militar.
Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município. Aracruz, onde o ataque aconteceu, fica a 85 km ao norte da capital.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o assassino invadiu a escola estadual com uma pistola e fez vários disparos assim que entrou no estabelecimento de ensino. Depois, foi até a sala dos professores e fez novos disparos. Na unidade, duas professoras foram mortas.
Na sequência, o atirador deixou o local em um carro e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, que fica na região. Na unidade, uma aluna foi morta. Após o segundo ataque, o assassino fugiu em um carro. Ele foi apreendido ainda na tarde de sexta.
No sábado (26), a Polícia Civil informou que o criminoso vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas. Também no sábado, uma professora baleada que estava internada morreu.