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porto velho, sábado 1 de fevereiro de 2025
MEU ENCONTRO COM ZICO - A LENDA - UM SONHO RUBRO-NEGRO CONCRETIZADO
Arimar Souza de Sá
Em meio ao turbilhão de cores e paixões que define o futebol brasileiro, há momentos que transcendem o simples ato de torcer. São instantes que se cristalizam na memória, como pérolas raras em um vasto oceano de jogos e jogadas só acontecem nos templos do futebol.
Em 13 de agosto do ano passado vivi um desses momentos mágicos, um sonho de infância que se desenrolou com a sutileza de uma obra de arte em movimento. Meu encontro com a 'Lenda''. Artur Antunes Coimbra, - o Zico.
Minha admiração por Zico, o ‘Galinho de Quintino’, sempre foi mais que uma celebração; era uma devoção fervorosa que me acompanhava desde os tempos de criança, quando o manto rubro-negro ainda era grande demais para mim e chegar perto dele então, um sonho impossível.
Zico, com sua genialidade, não apenas jogava; era um artista, ele pintava a história do Flamengo com as cores vibrantes de sua maestria. Cada domingo e cada jogo de quarta-feira eram capítulos dessa epopeia pessoal, narrativas que eu colecionava não apenas em posters, mas no coração. Meu pai costumava dizer: “O Arimar não é flamenguista, é Ziquista". De fato ele estava coberto de razão! Eu era um jovem fiel ao evangelho, segundo Zico.
E quem melhor para narrar essas epopeias do que José Carlos Araújo, pela Rádio Nacional? Sua voz vibrante ecoava pelo radinho de pilha do seu Ary, meu pai, e o Deus da narração futebolística me emocionava: "Vai mais, vai mais, garotinho! Adílio tocou para Cláudio Adão que enfiou para Zico na pequena área, o galinho dominou, atirou e entrou: Golão, golão, golão!" — Zico o craque da camisa 10 rubro-negra.
Cada gol do Zico narrado por ele era um evento, uma explosão de alegria que ressoava por todo o país e, por vezes, infartava até flamenguistas empedernidos em Rondônia.
Mas o tempo passou e tudo isso passou célere e hoje são favas contadas que estão cristalizadas na minha memória e de muitos flamenguistas de coração. No entanto, o destino, sempre caprichoso, tecia seus fios invisíveis, preparando o cenário, já na minha maturidade para o encontro das nossas vidas.
E foi em Porto Velho, no complexo esportivo do município (Colégio Padrão), longe dos gramados sagrados do Maracanã, que meu sonho se tornou realidade. Graças à generosidade e sensibilidade de Ivonete Gomes, ex-secretária do Esportes, também rubro-negra e contando com a ajuda dos Astros e Deuses do Futebol alinhados comigo, fizeram com que meu ídolo saísse das fantasias do passado e adentrasse no meu mundo presente.
Ao encontrá-lo, me emocionei e ele viu, senti como se o tempo tivesse concedido uma trégua para esse momento. Zico me recebeu sentado em um sofá, de camiseta, calça jeans e tênis, com a humildade dos verdadeiros reis. Não apenas me recebeu, mas me acolheu no seu universo com um abraço, que por tanto tempo desejei e observei de longe.
Sua simplicidade contrastava com a grandeza de seu legado, demonstrando que, mesmo fora das quatro linhas, ele continuava a ser um maestro, como sempre imaginei.
Nossa conversa foi rápida, tinha muita gente na fila esperando para chegar perto do ídolo, mas pontuada por recordações de jogos memoráveis e gols que pareciam desafiar as leis da física, foi um passeio por uma galeria de momentos imortais. Zico só sorria e assentia com a cabeça, acostumado com os paparicos dos que o admiram mundo afora.
A fotografia que tiramos juntos é mais do que uma imagem; é um testamento de que sonhos, por mais distantes que pareçam, estão apenas a um encontro de se tornarem realidade.
Eu, claro, não poderia deixar de registrar, seria um vilipêndio com minha idolatria ao ídolo do meu time de coração. Esse dia não foi apenas sobre relembrar glórias passadas, mas sobre celebrar a capacidade humana de inspirar e ser inspirado.
Zico, com sua presença e seu legado, reafirmaram que ídolos verdadeiros nunca perdem seu brilho; eles apenas mudam a forma de iluminar o caminho dos que os seguem. Chegam, sorriem, e depois retornam para os lados cintilantes do céu do futebol.
Assim, embora com certo atraso, deixo o registro de que, no futebol como na vida, os verdadeiros heróis são aqueles que, mesmo após o apito final, continuam a jogar e fazer GOLÕES, GOLÕES, GOLÕES, em nossos corações, como diria José Carlos Araújo.