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    porto velho, quarta-feira 19 de fevereiro de 2025

CRÔNICA - A amizade - A ponte que não deve ruir diante das tempestade da política

Nos atuais, noves fora as brigas de amor, nada separa mais que a brigas por política....


Arimar S.Sá

Publicada em: 18/02/2025 08:45:44 - Atualizado

Foto - edição Rondonoticias

CRÔNICA DE FIM DE SEMANA: A amizade 

- A ponte que não deve ruir diante das tempestades da política -

*Arimar Souza de Sá

Se a amizade, como diz o poeta, é uma ponte firme que atravessa os vales sinuosos da vida, por que, então, muitos deixam, por intrigas banais, que a enxurrada política corroa seus pilares? 

Nos dias atuais, noves fora as brigas de amor, nada separa mais do que as 'arengas' por política. Irmãos contra irmãos, amigos contra amigos, marido contra a mulher, filhos contra pais. Hoje, a política se agiganta como um vendaval impiedoso, arrancando raízes profundas de amizades, antes sinceras, separando famílias inteirinhas... No Paraná, já houve até morte!

Em Rondônia, o que antes era um solo fértil, moldado na simplicidade das discussões políticas dos antigos “Cutubas” e “Pele-Curtas”, agora se esfacelou sob o peso da polarização das bandeiras rivais de Lula e Bolsonaro.

O cenário político local mais parece um grande picadeiro, onde as ideologias se exibem como feras enjauladas, rugindo umas contra as outras: esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita, e por detrás das cortinas, o maestro da discórdia rege uma sinfonia dissonante de rancor, intolerância e corrupção. E o que deveria ser um debate saudável, transformou-se em um duelo de espadas cegas, onde se golpeia o amigo sem dó e sem razão, apenas pelo desejo de ferir quando há o confronto de ideias.

Nos estádios da paixão esportiva, outrora inocente, quase tudo virou selvageria, e no gramado o ódio segue regendo, casos por exemplo, de entradas desleais, ou aquele eloquente que ocorreu  entre jogadores Cleiton do Flamengo e Barboza do Botafogo na última quarta-feira 12/02, no qual este último perdeu na peleja do jogo e ainda voltou para casa sem o dente canino. E, para piorar,  nas arquibancadas os gritos ecoaram como tambores de guerra, e o sangue que deveria pulsar apenas nas emoções da vitória, acabou neste caso, escorrendo da irracionalidade, deixando a selvageria na marca da cal. 

Já no outro campo, o cibernético, as redes sociais tornaram-se trincheiras de um exército invisível, onde palavras ferem, se lançam como pedras, e amizades antigas desmoronam como castelos de areia ao sabor do vento, que a rigor, não derrubaria nem a casa dos Três Porquinhos, que dirá a convivência  saudável que, sem força, não escapou ilesa dessa tormenta. 

O médico e o advogado, amigos meus, que um dia compartilharam histórias e gargalhadas, agora cruzam as ruas fazendo beicinho um para outro, com o olhar opaco de quem esqueceu o sabor da velha amizade. As opiniões divergentes sobre determinado candidato, tornaram-se  o estopim que acendeu a pólvora da intolerância e a amizade de ambos, fraca, foi para o 'beleléu',  dando lugar ao ódio, a intolerância e a desforra...

Mas a amizade, essa semente divina, não deveria ser sufocada pelas ervas daninhas da política. O respeito ao pensamento alheio é o óleo que mantém as engrenagens da convivência girando. Há um ensinamento do Divino Mestre que não perdeu sua força: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei". Ora, se o amor e a amizade são dádivas do Pai Celestial, por que trocá-los pelo ressentimento de opiniões passageiras, as vezes até concebidas em mesa de bar?

A amizade, induvidosamente, é o sol que aquece nossos dias. Ela nasce antes das disputas eleitorais, floresce antes das divergências e deveria resistir aos temporais ideológicos, mas pelo visto, a burrice de alguns, tem fraquejado num estalar de dedos. 

Divergir é natural, é próprio da convivência democrática, por isso,  desprezar o outro por suas escolhas é o verdadeiro absurdo. Se a política é um rio caudaloso, a amizade deve ser a ponte resistente que o atravessa, sem desmoronar, diante das correntezas ou das pedras deixadas no meio do caminho pelos caprichos da vida.

Roguemos, então, que a luz da compreensão volte a brilhar entre nós. Que o calor do aperto de mãos seja mais forte que o gelo das discussões políticas e faça folia, porque depois do jogo jogado, o que levamos da vida não são os debates inflamados, ou as preferências por Lula ou Bolsonaro, mas os abraços sinceros, efusivos, olhos nos olhos, frutos de uma velha amizade.

Juízo, então, para que evitemos, por fim, que  velhos amigos só se reencontrem sob a sombra de um cipreste solitário em um chão de sete palmos de terra, mas o tempo se esvaiu e já não mais permitirá a saudável reconciliação que burrice, cega, teimou, bateu o pé e atrapalhou.

QUE ASSIM SEJA! É TEMPO DE REFLEXÃO!

AMÉM!

*O autor é jornalista, advogado e apresentador do Programa A VOZ DO POVO, da Rádio Caiari, FM, 103,1.


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