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    porto velho, quinta-feira 1 de maio de 2025

A ferida ética exposta pela prisão de Collor de Mello - por Arimar Souza de Sá

Sua prisão, portanto, não deve ser lida apenas como o ponto final de uma narrativa pessoal, mas como o aceno de alerta de um semáforo moral que pisca em vermelho...


O AUTOR

Publicada em: 01/05/2025 14:07:43 - Atualizado

A ferida ética exposta pela prisão de Collor de Mello

Arimar Souza de Sá

A prisão do ex-presidente e atual senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello, aos 75 anos, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, vai além do encerramento de um processo judicial. É como uma cicatriz antiga que volta a sangrar, lembrando ao país que a crise ética na política brasileira nunca chegou a ser completamente estancada.

Esse episódio lança luz sobre as sombras que há muito se arrastam pelos corredores do poder. Três décadas atrás, o Brasil teve a chance de virar a página, com o impeachment de Collor em 1992. Na ocasião, o então senador de Rondônia, Amir Lando, relator do processo, agiu como um bisturi institucional, cortando com firmeza a infecção da corrupção que ameaçava contaminar a democracia nascente e elevou Rondônia ao altar da visibilidade nacional. Porém, o tempo mostrou que a cirurgia não foi suficiente para curar a doença moral que persiste em nossa vida pública.

Hoje, Collor — envelhecido, condenado e tentando obter prisão domiciliar alegando comorbidades — volta ao noticiário como um símbolo da reincidência. Sua trajetória lembra um navio que naufragou duas vezes no mesmo recife da irresponsabilidade. E sua nova condenação convida o Brasil a se olhar no espelho rachado da história recente, onde a imagem refletida é, ainda, a de uma política marcada por privilégios, impunidade e desprezo pela confiança popular.

A tentativa de amenizar sua pena é compreensível sob o viés humanitário, especialmente num cenário em que parte da opinião pública vê sinais de seletividade, politicagem e fadiga nos sistemas de combate à corrupção — como no desmonte da Lava Jato. No entanto, o simbolismo desse caso ultrapassa a moldura legal: ele é um alerta luminoso de que a democracia se fragiliza quando falha em manter a ética como seu alicerce fundamental.

Nesse contexto, a figura de Amir Lando ressurge como um farol de integridade. Desde os anos 1970, Lando ocupou funções legislativas e executivas — deputado estadual, federal, senador da República, ministro da Previdência Social — sem jamais ter seu nome envolvido em qualquer escândalo. Sua trajetória silenciosa e reta lembra uma estrada de pedra firme num país onde muitos preferem atalhos lamacentos. Em tempos de cinismo institucional, sua biografia projeta Rondônia ao cenário nacional com dignidade e serve de lembrete de que é possível, sim, fazer política com honra.

“Ver alguém preso nunca é motivo de júbilo”, afirmou o próprio Lando certa vez, quando relatava o histórico episódio de 1992. Mas todo aquele que recebe o voto popular carrega, junto com a faixa do poder, o peso da responsabilidade. Collor falhou duas vezes — como presidente e como senador — ignorando os sinais vermelhos que a própria história lhe ofereceu.

Sua prisão, portanto, não deve ser lida apenas como o ponto final de uma narrativa pessoal, mas como o aceno de alerta de um semáforo moral que pisca em vermelho para toda a classe política. A sociedade não pode se acostumar com a repetição desse roteiro. A vigilância precisa ser constante, como um vigia que nunca adormece. Mas a vitória mais necessária, creiam, — e a mais difícil — será quando a honestidade deixar de ser exceção, e volte a ser a bússola que orienta a vida pública brasileira. 


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