• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, quinta-feira 26 de junho de 2025

Cai N’agua - Entre urubus e tráfico, o retrato da vergonha portuária da Capital

Símbolo turístico e cultural da capital rondoniense, região sofre há décadas com lixo, insegurança, prostituição e ausência total de políticas públicas...


Redação

Publicada em: 26/06/2025 11:00:06 - Atualizado

PORTO VELHO-RO:  O que deveria ser um dos principais pontos turísticos e culturais de Porto Velho, o Complexo do Cai N’Água, situado às margens do Rio Madeira, no centro da capital, está mergulhado em décadas de abandono. A histórica região portuária, que abriga o lendário complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), hoje é conhecida como um dos locais mais degradados da cidade.

Com acúmulo de lixo, infestação de urubus, estrutura deteriorada, presença constante de usuários de drogas e proliferação de bares clandestinos — os chamados “fura-buchos” —, o espaço que deveria receber turistas e moradores com dignidade se transformou num retrato explícito do fracasso do poder público.

Frequentado por passageiros vindos de Manaus e distritos ribeirinhos, o Porto do Cai N’Água é, para muitos, o primeiro contato com Porto Velho. Mas o que encontram ao desembarcar é uma área suja, com forte odor de esgoto, pontos escuros sem iluminação e zero presença da Guarda Municipal.

“É um cartão-postal às avessas”, lamenta um comerciante da área que preferiu não se identificar. “A gente vê gente sendo assaltada à luz do dia por ‘noiados’, lixo se acumulando por semanas e nenhum tipo de manutenção ou limpeza regular”.

A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, monumento tombado pelo IPHAN, está cercada por matagal, estruturas quebradas e fezes de urubus, que disputam espaço com moradores em situação de rua. A área, que deveria ser ponto de orgulho, é hoje evitada por moradores e abandonada por gestores.

O programa “Cidade Limpa”, lançado pela atual gestão do prefeito Léo Moraes com promessas de revitalização urbana, ainda não chegou ao entorno do Cai N’Água. A ausência de ações pontuais na região chama atenção da população, que questiona o motivo da exclusão de um local tão simbólico para a identidade de Porto Velho.

“A revitalização do Complexo da EFMM foi feita pela metade. De que adianta um museu bonito se o entorno é dominado pelo tráfico e pela prostituição?”, questiona uma moradora da região central.

Moradores mais antigos apontam que o descaso não é de hoje. “Todos os prefeitos que passaram prometeram recuperar o porto e a área da ferrovia. Nenhum fez. Só pintam um muro ou colocam um outdoor na época da eleição. Depois, esquecem”, diz seu Francisco, 67 anos, ex-ferroviário.

A falta de investimento também é refletida na segurança pública: não há policiamento fixo, câmeras de monitoramento ou sinalização adequada. Além disso, nenhuma política social efetiva foi implementada para atender dependentes químicos ou famílias em situação de vulnerabilidade que se concentram na região.


Fale conosco