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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (4) que elevou a taxa de juros do país em 0,5 ponto percentual, a maior alta em mais de 22 anos. Com isso, ela passa a ser de 0,75% a 1% ao ano.
A decisão da autarquia ocorre em meio à tentativa de conter a inflação nos Estados Unidos, que já está no maior nível em mais de 40 anos.
É a segunda alta feita pelo Fed, que iniciou um ciclo de elevação de juros em março deste ano, com um aumento de 0,25 p.p, o primeiro desde 2018.
Em comunicado após a reunião, a autarquia informou também que começará a reduzir sua carteira de títulos a partir de 1º de junho.
O Fed afirmou que elevações adicionais na meta da faixa de juros seriam apropriadas, e que pretende desacelerar, e posteriormente suspender, a redução de tamanho do seu balanço apenas quando as reservas estiverem “um pouco acima” do nível considerado consistente com as reservas amplas.
A autarquia informou que os limites de reduções mensais de seu balanço subirão após três meses, de US$ 30 bilhões para US$ 60 bilhões para os títulos do Tesouro (Treasuries) e de US$ 17,5 bilhões para US$ 35 bilhões para os títulos MBS.
A avaliação dos dirigentes do Fed é que, após a redução de balanço, os saldos de suas reservas devem continuar a cair por um tempo, devido ao crescimento de outros passivos, até que as reservas atinjam um nível amplo.
Após a decisão e o comunicado, o mercado reforçou a aposta em uma nova alta de 0,5 ponto percentual nos juros para a próxima reunião de política monetária, em junho.
Ao justificar a decisão, os dirigentes afirmaram que “embora a atividade econômica geral tenha diminuído no primeiro trimestre, os gastos das famílias e o investimento fixo das empresas permaneceram fortes. Os ganhos de emprego foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego diminuiu substancialmente”.
“A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços”.
O banco central dos EUA também citou a guerra na Ucrânia, que segundo ele está causando “enormes dificuldades humanas e econômicas. As implicações para a economia dos EUA são altamente incertas”.
“A invasão e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e provavelmente pesarão sobre a atividade econômica. Além disso, os bloqueios relacionados ao Covid-19 na China provavelmente exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos. O Comitê está altamente atento aos riscos inflacionários”, dizem.
O Fed ressaltou que “está preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir o alcance das metas do Comitê”. A meta atual de inflação dos Estados Unidos é de 2%.
Em coletiva de imprensa após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a inflação no país está “alta demais”, e que é preciso reduzi-la para manter o mercado de trabalho forte. Ele disse que os dirigentes da autarquia estão “se movendo rapidamente” para combater as pressões inflacionárias.
Segundo ele, o mercado de trabalho norte-americano está “extremamente apertado”, com melhoras abrangentes, uma demanda muito forte e os salários subindo no ritmo mais alto em “muitos anos”.
Powell disse que os problemas nas cadeias de suprimento ainda continuam, e as interrupções têm sido maiores e mais duradouras do que o antecipado.
Para ele, a guerra na Ucrânia deve restringir as economias, incluindo os Estados Unidos. O presidente do Fed avaliou que a política da autarquia tem se adaptado, e continuará a se adaptar, e que os aumentos de juros “serão apropriados”.
“Estamos em um caminho de levar os juros rapidamente para níveis normais”, disse. Powell afirmou ainda que a redução do balanço da autarquia também terá um papel importante no combate à inflação, e que altas de 0,5 pontos percentuais “estão na mesa” para as próximas reuniões. Já altas de 0,75 p.p. não estão sendo consideradas.
“Se vermos o que esperamos ver, então haverá ajustes de 0,5 p.p. nas próximas duas reuniões”, afirmou o presidente, ressaltando que a autarquia ainda não deu uma orientação oficial sobre as próximas altas para deixar um espaço de análise dos próximos dados econômicos.
Ele defendeu que o Fed precisa ser “ágil” para levar a inflação de volta à meta de 2%, o que é o foco principal da autarquia. Apesar disso, ponderou que a inflação tem “surpreendido para cima”, e que novas surpresas podem ocorrer à frente.
Em um cenário de incertezas, Powell afirmou que os dirigentes não buscarão adicionar mais incertezas ao mercado, e que a economia norte-americana tem condições de aguentar uma política monetária mais apertada.
A avaliação de Powell é que a economia dos Estados Unidos não parece estar próxima de uma recessão, mas que o combate à inflação deve ser “desafiador”.
Para o presidente do Fed, há indícios de que o núcleo do PCE, indicador de inflação referência da autarquia, está atingindo o seu pico, e que a inflação deve começar a arrefecer. “Mas não queremos apenas evidências, sobre a inflação, queremos progresso”, disse.