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porto velho, domingo 2 de novembro de 2025

"Comecei levantando todo o material. Li, assisti e ouvi todos os materiais que consegui acessar sobre o universo desse crime. A entrevista do Fantástico [em que Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá falam sobre o crime] foi o coração de onde parti, mas também tem muitas fotografias, matérias de jornal e programas jornalísticos da época que consegui encontrar comentando o assunto. Não existe muito material disponível de imagens de vídeo dos dois, mas existe um universo amplo de materiais sobre o assunto. Li os inquéritos, o Ulisses Campbell, o autor dos livros que a série se baseia, forneceu laudos. E conversei com um cara que é egresso de Tremembé e me trouxe visões e opiniões sobre o Alexandre Nardoni, que eu não tinha conseguido acessar", relatou.
Durante as conversas com o ex-presidiário, que conviveu com Alexandre Nardoni no presídio de Tremembé e trabalhou como consultor da série, Lucas soube um pouco de como era a vida do condenado na prisão. "Ele contou que, em muitas noites, sempre que apagavam as luzes da galeria, muitos presos ficavam fazendo vozinha de criança para provocar o Alexandre: 'Papai, não me mate. Socorro, papai'. Ele tinha que lidar com aquilo e ficava atormentado por isso, que era recorrente", conta Lucas.
Com a construção do personagem, o artista conseguiu se colocar um pouco no lugar de Alexandre Nardoni. Porém, o grande desafio foi recriar a cena em que Isabella Nardoni é assassinada --a menina de cinco anos foi jogada do sexto andar do apartamento pelo pai e pela madrastra na Zona Norte de São Paulo.
A gravação aconteceu em um apartamento com a mesma planta do local original do crime e estava toda ambientada com brinquedos de crianças para realmente parecer a casa de uma família. "Na reta final da filmagem, tive que colocar o meu corpo e a minha sensibilidade para reproduzir os gestos feitos durante o acontecimento, de cortar a tela, de pegar uma boneca do tamanho real da criança, com o mesmo peso, colocar para fora da janela e fazer o gesto. Isso me dilacerou. Desabei quando a gente acabou", confessou.
Uma das principais parceiras de Lucas no trabalho foi Bianca Comparato, que interpreta Ana Carolina Jatobá. "Entendemos juntos que eles têm um vínculo muito profundo, um pacto muito enigmático. São as duas únicas pessoas retratadas na série que não admitiram o crime. Pelo contrário, quase 20 anos se passaram, e eles continuam muito leais à própria versão. A gente entendeu que esse era um elemento muito fundamental para a nossa construção."