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porto velho, domingo 22 de dezembro de 2024
Arthur Aguiar chegou à final do “Big Brother Brasil 22” cumprindo um objetivo pessoal: mudar a imagem que tinha entre o público. Conhecido por trair diversas vezes Maíra Cardi, o ator não só recebeu o apoio da esposa para viver uma trajetória de redenção em rede nacional, como também se tornou um favorito da edição.
Mas como isso foi possível? A psicóloga Jeanine Feitosa acredita que a estratégia de reverter a fama de “traidor” começou a ser articulada pelo casal antes mesmo da estreia do programa. “Quando a Maíra vai a público e fala do perdão cedido ao marido mesmo após tudo que ele havia lhe feito, sobre como Deus operou em suas vidas e restabeleceu seu casamento, a história ela passa a ter outra conotação, percebe? Ela deixa de ser sobre traição e passa a ser sobre perdão. E isso gera empatia”, afirma.
“Por quantos vilões de séries e de filmes nós já nos apaixonamos? Muitos, eu diria. Porque essa estratégia é usada e cai como uma luva”, reflete a profissional. Ela também aponta que o argumento do “arrependimento” é forte no discurso do ator, gerando uma identificação e compreensão do público de que “todos nós somos passíveis ao erro e como merecemos uma chance”.
Jeanine destaca como os privilégios de Arthur Aguiar contribuem para fortalecer a empatia criada entre os espectadores: “Desde o começo, sem precisar de muito esforço, Arthur é um forte candidato. Ele é homem, branco, cis, hétero… o que por si só define a camada mais privilegiada e detentora de maior poder em nossa sociedade. E que, diferente de uma mulher, por exemplo, não precisa estar o tempo todo provando o seu valor social. Ele tem isso garantido desde que nasceu”.
Jade Picon, considerada uma das maiores rivais de Arthur no “BBB 22”, teve uma trajetória no jogo que explicita como o perdão é mais favorável às atitudes dos homens em relação aos erros cometidos por mulheres. “Há toda uma responsabilidade jogada nos colos das mulheres desde criança. Aquela que erra é hostilizada, é julgada, é insuficiente... A Jade se mostrou soberba em algumas situações, sim. Mas ninguém a viu como uma garota com seus vinte anos. Já quando falamos de um homem que comete um erro, dezesseis ou mais, ele sempre merece novas chances, sobre a premissa de que ele ainda está aprendendo. E aí temos esse resultado: mulheres que não podem errar e homens em eterno aprendizado”, argumenta.
Além do discurso do homem arrependido que merece ser perdoado, a psicóloga diz que a postura de “jogador” atribuída a Arthur foi utilizada para camuflar manipulações que ele cometeu principalmente contra mulheres, como gaslighting . "Muitas mulheres se reconheceram e apontaram esses comportamentos dele [...] A problemática aqui é que, sobre a justificativa de se tratar apenas de um jogo, estamos, na verdade, naturalizando e banalizando a manipulação e outras formas de abuso”, destaca.
As atitudes de Maíra Cardi nas redes sociais durante o reality show tornam a equação do favoritismo de Arthur ainda mais complexa. “Para cada especulação negativa sobre o comportamento do Arthur na casa, sua esposa posta algo. Um vídeo mostrando que ele é amável, carinhoso, brincalhão, o quanto ele é um bom pai… O relacionamento com o abusador é muito confuso e complexo, exatamente porque nem sempre ele é ruim. E esse recorte, essa parte boa é o que mantém a outra pessoa no relacionamento”, comenta.