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    porto velho, sábado 21 de setembro de 2024

O que é a síndrome da cauda equina, que quase afetou Wesley Safadão

Cantor precisou fazer cirurgia de emergência na quinta (7). Doença poderia provocar danos neurológicos irreversíveis, diz especialista.


G1

Publicada em: 11/07/2022 17:20:29 - Atualizado


BRASIL - O cantor Wesley Safadão, internado em São Paulo (SP) após realizar cirurgia como parte do tratamento de hérnia de disco, deve receber alta nesta segunda-feira (11). O procedimento ocorreu após o artista quase sofrer com síndrome da cauda equina, uma consequência rara do problema nos discos.

Conforme o médico ortopedista Plínio Linhares, especialista em coluna pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, a síndrome da cauda equina é consequência de um problema que atinge um grupo de nervos localizado dentro do canal espinhal. O grupo recebe esse nome pela semelhança à cauda de um cavalo.

A cauda equina é composta, apontou o especialista, pelos nervos lombares e sacrais. "A síndrome ocorre quando esse grupo de nervos é comprimido", explicou Linhares, acrescentando que a causa mais comum dessa ocorrência é a hérnia de disco. No entanto, o problema pode ocorrer, também, por tumores, infecções, traumas e fraturas na coluna.

Consequência rara

Wesley Safadão aparece andando em vídeo dias após cirurgia

Embora o cantor tenha sido diagnosticado com hérnia de disco, Plínio Linhares indicou que o aparecimento da síndrome é raro mesmo com essa condição. "Os estudos falam que a hérnia pode gerar a síndrome entre apenas 1 a 2% dos casos. Geralmente, quando ocorre secundário a uma hérnia, ocorre quando o paciente apresentava uma hérnia de disco muito volumosa."

O ortopedista lembrou que o diagnóstico citado pelo forrozeiro era compatível com os sintomas da síndrome da cauda equina. "O médico [de Wesley Safadão] disse que ele não tava com a síndrome franca, mas estava em processo de evolução. Não foi pragmático nem incisivo, mas disse que estava evoluindo para tal", afirmou.

Sintomas

Segundo Plínio Linhares, a suspeita da síndrome se dá a partir da ocorrência de uma "tríade clássica de sintomas". São eles:

  • Anestesia em sela;
  • Disfunção esfincteriana;
  • Perda de força nas pernas.

A anestesia em sela é caracterizada por perda de sensibilidade e sensação de formigamento na face interna das coxas e na região genital, o que foi inclusive comentado pelo cantor. Já a disfunção esfincteriana indica uma dificuldade de controle de urina e fezes, também chamada de incontinência.

"Esses sintomas realmente vão vir justamente pela compressão dos nervos lombares e sacrais, que dão a função neurológica dos membros inferiores", explicou o profissional, acrescentando que o paciente também pode ter perda de mobilidade e disfunção sexual secundária à compressão dos nervos.

"Todos esses sintomas podem gerar um dano neurológico irreversível, pois ele pode ficar com sequelas do nervo que foi compromtido".

Se o paciente apresenta a compressão dos nervos por um longo período, pode, eventualmente, necessitar do uso de bolsa de colostomia para função intestinal e de sonda vesical para função urinária.

No caso de a utilização desses mecanismos ser necessária, a pessoa acometida não tem um prazo certo a seguir: o uso pode demorar semanas ou até meses. "Se vier a apresentar um dano irreversível, pode usar esses acessórios, por isso a síndrome é considerada uma urgência".

Necessidade de cirurgia

Dado o caráter de urgência da síndrome da cauda equina, o paciente tem de ser submetido a uma cirurgia no prazo de 24 a 48 horas, afirmou o médico, lembrando que o artista já fizera um procedimento de infiltração na coluna lombar, de caráter analgésico.

"Na infiltração, a gente prepara uma solução de medicamentos e, com o auxílio de uma agulha específica, administra essa solução em cima do nervo que está sendo comprimido. É um procedimento para controlar a dor, puramente analgésico. A gente não tira a hérnia", disse.

Ainda de acordo com Plínio Linhares, cerca de 90% a 95% das hérnias de disco são tratadas sem cirurgia. Dos 5% que necessitam de tratamento cirúrgico, o cantor entrou na parcela de 1% dos casos que evoluem para a síndrome.

"Foi instituído, inicialmente, o tratamento conservador no Wesley, porém, devido à grave compressão dos nervos, o seu quadro se agravou e ele apresentou sintomas de Síndrome da Cauda Equina, o que indicou a abordagem cirúrgica em caráter de urgência".

A operação realizada pelo forrozeiro na quinta-feira pode ser feita por meio de diversas técnicas, apontou o médico. A mais comum é fazer a retirada apenas do fragmento extruso, a parte do disco que sai do seu local habitual e entra no canal vertebral, apertando os nervos. Esse procedimento é chamado de microdiscectomia.

Apesar de não ter como precisar se o cantor passou por essa cirurgia, Plínio Linhares informou que a intervenção pode ser realizada com o auxílio de um endoscópio ou de um microscópio. Em razão disso, o tempo de recuperação é variável: o paciente pode demorar entre dez e 15 dias no primeiro caso ou cerca de um mês no segundo. Independentemente da técnica usada, o tratamento deve contar com reabilitação.

"Toda cirurgia de hérnia precisa de uma reabilitação pós-operatória pro paciente voltar à suas atividades habituais e também pra gerar um fortalecimento da musculatura da região da coluna", explicou.

Wesley Safadão, após a alta, deve ficar afastado das atividades laborais para o que Plínio Linhares definiu como um "repouso relativo". " "Não deve ser absoluto, ficar na cama o dia inteiro; deve diminuir os esforços laborais", pontuou, indicando que essas ações dependem de como o paciente trabalha.

Além disso, o canto deve fazer fisioterapia motora, para gerar uma melhor recuperação das pernas, assim como a fisioterapia pélvica, para ajudar a melhorar a reabilitação dessa região genital. Conforme o ortopedista, esses procedimentos devem ocorrer, geralmente, uma vez ao dia, mas podem ser otimizados para duas ou três vezes a depender do paciente.

Evolução da hérnia de disco

O cantor precisou suspender seis shows em junho para se recuperar de uma lesão na coluna. Ele chegou, inclusive, a viajar a São Paulo (SP) para realizar um procedimento para tratar hérnia de disco.

O tratamento fez as dores passarem, o que levou o artista a confirmar um show marcado em Caruaru (PE) em 29 de junho. O evento, porém, foi cancelado após Wesley Safadão voltar a sentir dores, e o cantor recebeu alta apenas no dia 1º de julho. Após a alta, Wesley Safadão passou a manter uma rotina de descanso em casa, mas voltou a ter complicações.

Em razão disso, o cantor realizou cirurgia para remover a hérnia de disco na última quinta-feira (7) e cancelou os shows marcados até este domingo (10).


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