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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
A Copa do Mundo acabou, Messi adicionou a taça à sua brilhante carreira e a Argentina quebrou um jejum de 36 anos. A ‘Scaloneta’ também interrompeu a hegemonia da Europa, que levou quatro Mundiais seguidos. Enquanto isso, o Brasil continua esperando o hexa. O que eles tiveram a mais do que nós?
Muita coisa! A começar pelo maior jogador de uma geração. Messi viveu o seu esplendor. Fez um Mundial quase perfeito e colocou uma pedra na disputa com Cristiano Ronaldo. Mas ele não foi o único responsável. A Argentina teve um técnico que mostrou enorme capacidade de ler os jogos e mexer no time de acordo com as necessidades que o campo indicava. Scaloni sai gigante do Qatar.
O menino Enzo Fernández, que era reserva e virou titular, foi eleito a revelação do Mundial porque teve atuação de veterano, comparável ou até superior ao que Modric fez pela Croácia. O goleiro Emiliano ‘Dibu’ Martínez foi heroico em disputas de pênaltis e fez defesas decisivas contra Austrália (nas oitavas) e França (na final).
Julián Alvarez, outro que começou a Copa como reserva, foi o parceiro ideal para Messi na frente; Mac Allister aportou enorme qualidade no passe e controle de bola; De Paul está correndo até agora para compensar o tempo que Messi passava pensando na próxima tacada de mestre.
É, a Argentina teve muito mais que o Brasil.
Uma coisa, entretanto, foi a chave do sucesso: a coragem. Este time se jogou de cabeça na Copa. Não teve medo de viver suas emoções. Não teve medo de ganhar ou de perder. Empurrada por uma torcida apaixonada, encontrou energia para superar todos os obstáculos, como a inesperada derrota na estreia para a Arábia Saudita. Um resultado que fez com que todos os jogos seguintes fossem de vida ou morte.
E eles souberam lidar com isso porque tinham criado um ambiente fantástico no grupo. E tinham o objetivo de dar a Messi, ídolo da garotada do elenco, o título mundial que faltava à sua carreira.
Scaloni revelou na coletiva após o título que chamou o craque para uma conversa particular logo após o jogo (contra o Brasil) em que a Argentina se classificou matematicamente para a Copa. Ele disse que estava preocupado porque “La gente” (o povo argentino) estava muito empolgada com a seleção e poderia ter uma desilusão muito forte caso o título não viesse. Messi respondeu que não via problema nisso – “vamos dar o nosso melhor, se não ganharmos, a vida segue”.
Este pensamento fez com que os portenhos jogassem sem medo de perder. Foram ousados, desafiaram o conservadorismo, mudaram a escalação e entraram na final de peito aberto com Di María infernizando a defesa da França.
Um time muito solidário e intenso que, mesmo tendo um craque para chamar de ‘dono’, foi coletivo. Messi brilhou pelos gols que fez, mas também pelos que ajudou os outros a marcar. Uma coesão explícita dentro e fora de campo. Não é fácil atingir isso num elenco. A França, por exemplo, claramente tinha questões internas não resolvidas.
O que a seleção brasileira pode tirar de lição?
Cada país vive uma realidade. São muitas diferenças entre as duas seleções e isso vai além dos jogadores. Passa por questões internas da CBF, pela relação com a torcida e pela indecisão sobre o próximo treinador. Uma coisa, entretanto, pode ser pensada e levada para dentro do grupo: é preciso coragem para ousar, arriscar, ser feliz.
Com medo de perder e sem personalidade, não ganharemos nada. Muito menos o hexa.