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    porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024

O mamífero que não envelhece e pode ser chave para tratamento de câncer, dizem cientistas

O rato-toupeira-pelado parece desafiar o envelhecimento e ser imune ao câncer.


g1

Publicada em: 03/02/2024 11:54:50 - Atualizado


Não é segredo para ninguém que o rato-toupeira-pelado — aquele roedor enrugado e quase sem pelos, com longos dentes salientes — não é o animal mais atraente do planeta.

Mas essas criaturas compensam sua pouca beleza com uma série de características extraordinárias que vêm chamando a atenção de zoólogos e pesquisadores da Medicina em todo o mundo.

Apesar do seu pequeno tamanho (que varia de 7,6 a 33 cm), o rato-toupeira-pelado vive, em média, 30 anos. O roedor é resistente a doenças crônicas, incluindo diabetes, e tem um notável sistema reprodutor.

Eles também beneficiam o meio ambiente, agindo como "engenheiros do ecossistema" e aumentando a biodiversidade do solo ao cavar as tocas onde fazem seus ninhos.

Imunes às dores e ao envelhecimento, essas criaturas de aparência estranha vêm fascinando os cientistas há muito tempo. Agora, as pesquisas estão revelando que eles podem deter a chave para entender uma série de condições humanas, como o câncer e o envelhecimento.

Historicamente, estudamos os ratos e camundongos para entender os segredos da biologia humana. Mas os cientistas acreditam que o rato-toupeira-pelado tem vantagens especiais para a pesquisa médica.

O nome científico da espécie — Heterocephalus glaber — significa essencialmente "coisa careca com cabeça diferente".

O rato-toupeira-pelado é nativo dos ambientes quentes e tropicais do nordeste da África.

No seu ambiente natural, eles vivem em grandes colônias subterrâneas, formando um labirinto de túneis e câmaras que se estende por uma área correspondente a diversos campos de futebol.

As rígidas condições onde vivem os ratos-toupeiras-pelados, com baixos níveis de oxigênio, podem ser uma indicação de algumas das características incomuns da sua espécie.

A maior parte da vida aeróbica enfrentaria dificuldades para sobreviver nesses ambientes com pouco oxigênio, mas o rato-toupeira-pelado é o animal que tem a vida mais longa entre os roedores.

Enquanto um camundongo de porte similar pode viver por dois anos, o rato-toupeira-pelado atinge 30 anos de vida ou mais. Se calcularmos em proporção aos seres humanos, aproximadamente, seria como se nós tivéssemos um primo enrugado capaz de viver até 450 anos.

Animais sociais chefiados por 'rainha'

O rato-toupeira-pelado é encontrado nas áreas selvagens do Quênia, da Etiópia e da Somália. Ele vive em colônias com cerca de 70 a 80 membros. Algumas chegam a abrigar até 300 indivíduos.

São animais altamente sociais. Suas colônias são chefiadas por uma rainha e seguem uma hierarquia rígida.

Seus membros desempenham diferentes funções. Existem, por exemplo, os que trazem as partes subterrâneas das plantas, como bulbos, raízes e tubérculos que eles comem, além de fezes.

A biologia da espécie é incrivelmente única. Os ratos-toupeiras-pelados são considerados "extremófilos", ou seja, eles conseguem sobreviver em ambientes extremos embaixo da terra, segundo o pesquisador Ewan St. John Smith, que estuda o sistema nervoso sensorial na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Uma das suas características mais marcantes é que é difícil dizer exatamente a idade de um rato-toupeira-pelado, pois seus sinais de declínio físico são limitados.

Enquanto os seres humanos podem ficar cada vez mais enrugados, grisalhos ou suscetíveis a doenças crônicas, "os sinais comuns de envelhecimento esperados na maioria dos mamíferos realmente não parecem acontecer" nesses roedores, segundo Smith. Sua função cardíaca, composição do corpo, qualidade dos ossos ou metabolismo não sofrem mudanças significativas.

Na Universidade de Cambridge, a equipe de Smith mantém cinco colônias, que abrigam cerca de 160 ratos-toupeiras-pelados em uma sala aquecida a cerca de 30 °C e umidade de 60%.

"Mantenho meus animais em Cambridge há 10 anos e nunca tive um sequer que morresse simplesmente de causas naturais", afirma Smith. Ele conta que, em cativeiro, as brigas entre os roedores costumam ser a principal causa de morte.

Seu estilo de vida subterrâneo pode aumentar suas chances de sobrevivência, protegendo as colônias contra o frio, a chuva e os extremos climáticos. No ambiente selvagem, a principal causa de morte são seus predadores, como as cobras.

É um quadro muito diferente das causas comuns de morte em seres humanos.

"Um em cada dois humanos provavelmente terá câncer", segundo Smith. "Os ratos e os camundongos têm probabilidade similar de desenvolver câncer, mas os ratos-toupeiras-pelados quase nunca têm a doença, é muito raro."

Por que esse bicho escapa de doenças?

O motivo por que o rato-toupeira-pelado escapa do câncer ainda é um mistério. Inúmeras hipóteses foram apresentadas ao longo dos anos e os cientistas lutam para fornecer uma explicação consistente.

Uma teoria diz que os ratos-toupeiras-pelados têm uma forma particularmente eficaz de mecanismo anticâncer chamada senescência celular — uma adaptação evolutiva que evita que as células lesionadas se dividam fora de controle e desenvolvam câncer.


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