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porto velho, sábado 28 de junho de 2025
CRÔNICA DE FIM DE SEMANA
QUANDO A VIDA VALE MENOS QUE A POLÍTICA: A PERVERSIDASDE DO ESTADO DIANTE DA TRAGÉDIA DO VULCÃO
Arimar Souza de Sá
A morte da jovem publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu do alto do penhasco em um vulcão na Indonésia, no último sábado, 21/06, enquanto explorava os encantos da natureza, atravessou o coração do país como um vento frio, cortante e silencioso.
Mais do que uma perda individual, o episódio pôs a ‘nu’ três fatores gravíssimos: A imprudência da jovem, a demora brutal no resgate, e — sobretudo — a frieza do Estado brasileiro diante do sofrimento de seus próprios cidadãos, negando-se a repatriar o corpo para que fosse sepultado na terra em que nasceu.
Juliana não morreu na queda. Agonizou, ferida e vulnerável, sobreviveu por quatro dias sozinha, agarrada às pedras de um vulcão ativo, implorando por socorro. Foi avistada por drones, ainda com vida, escorregando montanha abaixo, o corpo debilitado, os gestos desesperados, mas ninguém veio. O resgate foi lento, desorganizado, e do Estado brasileiro, nada. Apenas um homem — o voluntário Bung Agan — se comoveu com a dor da jovem, decidiu não virar as costas e foi buscá-la.
A nota oficial do Itamaraty, diante de tamanha tragédia, foi um deboche. Limitou-se a informar que uma equipe da embaixada em Jacarta “acompanhava” o caso, como se assistir passivamente a uma jovem agonizando fosse suficiente, ou digno de uma representação diplomática minimamente decente.
Ato contínuo, enquanto a dor de uma família se transformava em um suplício burocrático para trazer o corpo da filha de volta, o governo federal lavou as mãos. Alegou que o problema era da família — o mesmo governo que recentemente mobilizou aviões da Força Aérea Brasileira para resgatar uma figura política repugnante, investigada por corrupção e outros quês..., como se houvesse, de fato, diferentes pesos para diferentes vidas: a de uma brasileira anônima, e a de uma famosa ladra estrangeira implorando por fuga para não ser presa.
O contraste é brutal. De um lado, uma família à deriva em um mar de abandono, tentando apenas velar sua filha com dignidade. Do outro, a máquina estatal agindo com agilidade exemplar para proteger interesses políticos inconfessáveis de uma estrangeira, ignorando por completo a dor de quem não tem sobrenome de peso, nem poder de barganha, e muito menos envolvimento com furto do erário.
A seguir, o que se viu, foi um espelho incômodo do Brasil: vidas comuns são descartáveis, como folhas ao vento, enquanto figuras de poder, alheias aos interesses nacionais, são tratadas como relíquias a serem preservadas em pleno território brasileiro.
É nesse vácuo de humanidade que surge o gesto de um jogador de futebol, Alexandre Pato. Comovido, ele decide agir onde o Estado se omite, oferecendo apoio à repatriação do corpo às suas próprias custas. Um ato de compaixão que prova que ainda existe senso de justiça e solidariedade — embora não parta de quem deveria praticá-lo institucionalmente.
Mais que isso! Esse gesto do jogador, por mais nobre que seja, apenas escancara a seletividade cruel da máquina pública. É como se o governo regasse apenas as flores que lhe interessam, ignorando o restante do jardim.
Ora, um país que vira as costas para os seus filhos na hora da dor deles, não é um país justo — é apenas um simulacro de Nação, comandado por autoridades mais interessadas em manter seus privilégios em viagens mundo afora, do que em proteger a dignidade dos seus cidadãos.
O corpo de Juliana, abandonado por quem deveria representá-la, não pesa apenas no colo de sua família. Pesa na consciência de um país inteiro que precisa acordar.
Todo cidadão brasileiro, não importa onde esteja, tem o direito de ser amparado pelo Estado — através das embaixadas, e não ignorado na hora que ele mais precisa dele. E a morte em questão, deixa um lembrete doloroso da fragilidade da vida e da importância da compaixão e da humanidade.
Deixa, também, uma lição que precisa ecoar entre os jovens: a busca por aventura deve vir acompanhada de responsabilidade, preparação e freios diante do risco. Tomara que outros não se percam pelo mesmo caminho que Juliana trilhou, teimou e perdeu a vida, em plena a primavera de seus dias.
A natureza, ainda que bela, é implacável, e o limite entre o encanto e a tragédia pode ser, como foi neste caso, apenas um passo em falso. Lamentavelmente!
É TEMPO DE REFLEXÃO!
AMÉM!