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    porto velho, quarta-feira 31 de dezembro de 2025

Quando o país sangra, mas ainda respira - por Arimar Souza de Sá

Não foi um ano qualquer, e é difícil de ser interpretado. Foi áspero, indigesto, cruel — desses que fazem ranger os dentes e cansar a alma brasileira...


Arimar Souza de Sá

Publicada em: 31/12/2025 11:18:15 - Atualizado

Foto: edição Rondonoticias

BRASIL - O ano de 2025 está com as horas contadas. Despede-se como quem sai de cena pela porta dos fundos, sem pedir licença, deixando cacos espalhados pelo chão da República e o mau cheiro de uma desordem mal digerida jogado no meio da rua, para o escárnio de todos.

Não foi um ano qualquer, e é difícil de ser interpretado. Foi áspero, indigesto, cruel — desses que fazem ranger os dentes e cansar a alma brasileira. A política nacional, em especial, escolheu o caminho do abismo e do ódio — e fez dele rotina, e “lascou” muita gente.

A cada amanhecer, um novo escândalo. A cada noite, a sensação de que o Brasil perdeu o rumo e caminha sem bússola em meio à bagunça generalizada. Um navio grande demais para afundar de vez, mas pequeno demais para escapar das ondas de lama que o atingiam diariamente.

O episódio do Banco Máster, com o constrangedor e rumoroso suposto envolvimento de um ministro da Suprema Corte, foi apenas a gota que transbordou um copo já rachado. Não foi só um escândalo financeiro ou jurídico. Foi um banho de vergonha pública. Um tapa no rosto de uma nação que ainda insiste na liturgia do cargo e na sacralidade de suas instituições.

O país voltou a se dividir. De um lado, uma população irada, sem líderes confiáveis, clamando por justiça, mas vendo os próprios guardiões da lei enredados em denúncias. Do outro, um Estado pesado, lento, quase imóvel, assistindo à erosão da própria autoridade. O poder, que deveria ser o eixo da ordem, virou vácuo — e todo vácuo é ocupado pela discórdia, pela desinformação e pelo ódio. E foi.

Há também a culpa silenciosa de parte da mídia. Durante muito tempo, preferiu o silêncio conveniente, a seletividade moral, os “bandidos de estimação”. Calou quando deveria gritar, relativizou quando era hora de denunciar. Quando falou, muitas vezes foi tarde, mais interessada em cliques do que em compromisso público, transformando o escândalo em mercadoria e a indignação em espetáculo.

Vieram as manchetes estrondosas, os vazamentos cirúrgicos, os bastidores expostos. Verdades, meias-verdades e versões. O resultado foi um Brasil ainda mais confuso e ferido. E, como sempre, a conta não fecha no topo: desaba no bolso do contribuinte, que trabalha, paga e assiste ao próprio dinheiro escorrer pelo ralo da irresponsabilidade.

O Brasil chega ao fim de 2025 como um gigante cansado e febril. A roubalheira crônica enfezou o cidadão comum, preso a um dilema cruel: se não paga impostos, é punido; se paga, vê seu suor virar lama nas mãos de quem manda. A República parece uma casa da “Mãe Joana”, tomada por cupins — bonita por fora, apodrecida por dentro.

Ora, pior do que um poder podre é a ausência de poder. Pagamos impostos porque tememos a lei; os muito ricos, muitas vezes, não pagam porque mandam nela. Sem autoridade legítima, ficamos à deriva, navegando sem GPS em mares escuros, enquanto quem sustenta a Nação vê seu esforço jogado na lata do lixo da história recente.

Mas esta é uma crônica de fim de ano e não pode terminar apenas em lamento. É preciso protestar. Erguer a voz contra a sem-vergonhice institucionalizada, contra os urubus de terno ou mandato que se alimentam da carcaça do país. Dar nome aos bois e cadeia aos culpados, doa a quem doer. Sem seletividade, sem blindagens, sem conchavos — é o imperativo do momento.

Para 2026, o Brasil precisa de mais do que promessas. Precisa de um pacto moral. Menos ódio, mais zelo com o dinheiro público; menos histeria, menos tribunais nas redes sociais. Mais responsabilidade, coragem institucional e humanidade.

Ainda há tempo. O país sangra, mas respira. E enquanto houver quem se indigne, escreva, cobre e não se conforme, o Brasil não estará perdido.

Que 2025 leve consigo a normalização do absurdo. E que o próximo ano amanheça como um sol teimoso depois da tempestade, secando a lama que restou, devolvendo ao país algo raro: dignidade, esperança e vergonha na cara.

Que assim seja.
Salve 2026!


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