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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
As Forças Armadas russas acusam os EUA de apoiar rebeldes sírios a forjar a autoria de um ataque químico em Damasco para desacreditar o regime de seu aliado, o ditador Bashar al-Assad, enquanto o governo em Moscou responde às acusações de que envenenou um ex-espião no Reino Unido.
Ambos os movimentos são alinhados e, embora o Kremlin ainda não diga isso com todas as letras, sugerem que Moscou acusa o Ocidente de tentar prejudicar a imagem do presidente Vladimir Putin às vésperas da eleição que deverá reconduzi-lo ao cargo no domingo (18).
No caso sírio, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Vasili Gerasimov, afirmou nesta terça (13) que haverá "resposta" se forças russas forem atingidas em um ataque de foguetes americanos contra distritos de Damasco sob controle das tropas de Assad. Esse ataque seria coordenado com rebeldes sírios em uma armação. Gerasimov disse que pode haver o uso de armas químicas por parte dos rebeldes, que procuram incriminar o governo de Assad, e os EUA então fariam uma retaliação.
Esse padrão de acusação já foi usado ano passado, quando o governo de Donald Trump fez o primeiro ataque direto com míssil contra alvos supostamente ligados ao uso de armas químicas por Assad.
Os russos estão na Síria desde 2015 e ajudaram a virar a guerra civil no país em favor do ditador, que é seu aliado histórico. Segundo Gerasimov, durante as operações contra rebeldes ligados à Al Qaeda em Ghouta foram encontrados depósitos de armas químicas. "Eles se preparavam para falsificar um ataque químico, trazendo civis em Ghouta e outras regiões para serem apresentados como vítimas do incidente", afirmou. Não foram apresentadas provas da afirmação.
CASO DO ESPIÃO
Em outra frente, além da insinuação feita em rede estatal de TV por um âncora famoso de que o Reino Unido possa estar por trás do ataque ao ex-espião Serguei Skripal e sua filha no país, um político ligado aos serviços secretos russos disse também nesta terça que o agente neurotóxico usado na ação teve seus estoques destruídos no país.
"A destruição de todos os agentes neurotóxicos, inclusive o Novichok, foi feita de acordo com os acordos internacionais sob o controle de observadores da Organização pela Proibição de Armas Químicas", disse o senador Igor Morozin à agência Sputnik, que é controlada pelo Kremlin.
O agente químico usado no ataque a Skripal, que com a filha Iulia sobrevive em estado crítico à ação da semana passada, é o Novichok. Ele foi produzido nos anos 1970 e 1980 e é considerado uma das mais letais armas químicas já feitas. É apresentado como um pó ultrafino, que pode ser inalado ou absorvido pela pele. Age rapidamente, em até 30 segundos, e provoca contração involuntária dos músculos, matando a vítima com um ataque do coração ou a sufocando.
A Rússia vem reagindo à acusação formal do Reino Unido de que está por trás do ataque. Skripal havia sido condenado a 13 de cadeia por espionar para os britânicos como agente duplo, já que trabalhava para o GRU (o serviço secreto militar russo). Ele havia sido acusado de entregar nomes de agentes russos trabalhando na Europa. Em 2010, foi perdoado e enviado ao Reino Unido numa troca de espiões.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, acusou formalmente o Kremlin de provavelmente estar por trás do ataque. O Ministério das Relações Exteriores russo classificou sua fala de "show circense", mas a entrevista de Morozin demonstra que o país está preocupado com o dano à imagem no episódio.