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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
RONDÔNIA - Eles traçaram não somente o caminho da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, mas são protagonistas da construção da história de Rondônia. Os ferroviários, bravos homens de diferentes origens, enfrentaram o desafio de construir em meio a Amazônia uma das maiores obras do Brasil, de um significado singular para os rondonienses e receberam na manhã deste sábado (28), em referência a Dia do Ferroviário (30/4) homenagem do governador de Rondônia Daniel Pereira.
‘‘Eles fizeram uma das maiores obras que a engenharia já construiu no planeta e em questão de idade essa é segunda grande obra feita em Rondônia. A mais antiga é o Forte Príncipe da Beira e a terceira é a construção da linha telegráfica feita pelo Marechal Rondon. Três grandes obras que permitiram a ocupação da nossa região que era inóspita. Prestar homenagem aos ferroviários é prestar homenagem a história de Rondônia’’, considera o governador que compareceu ao evento acompanhado do presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso, Jandir Milan.
Edimar Maia, 87 anos, relembra missão de extrair dormentes
O governador também anunciou intervenções para preservar o patrimônio. ‘‘A Estrada de Ferro tem um investimento para ser feito de compensação da usina, mas eu quero aproveitar para fazer algumas intervenções de melhorias também. Eu estive na última terça-feira com os representantes do Iphan em Brasília e apresentamos pedidos como para fazer limpeza dos trilhos dessa estação até a igreja de Santo Antônio para que as pessoas possam fazer caminhadas. Também estamos solicitando autorização para fazer limpeza do cemitério da Candelária e ainda algumas intervenções na Vila Candelária e a pavimentação asfáltica no trecho que dar acesso ao Memorial Rondon’’, disse Daniel.
José Bispo de Moraes, 83 anos, é enérgico ao defender não só a preservação, mas a ativação da Estrada de Ferro. ‘‘A Madeira- Mamoré está viva, ela não morreu. Meu sonho é ver ela ativa novamente’’, conta ele que é o presidente da Associação dos Ferroviários. ‘‘O governador Daniel Pereira garantiu que vai ajudar os ferroviários e nós queremos ver o trecho até a igreja de Santo Antônio operando de novo. Para nós, é como se nascêssemos de novo. Ficamos felizes de ver o governador focando seus olhos para a Madeira-Mamoré’’, afirma Bispo. O governador assumiu o compromisso de se reunir com os ferroviários e discutir as demandas.
José Bispo afirma que tem uma ligação muito forte de amor a ferrovia. ‘‘Sou filho de Porto Velho e desde os oitos anos já ajudava meu pai a carregar lenha e dormente para a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e continua aqui vendo esses trilhos que carregaram tanto progresso para a nação. Eu fui trabalhador braçal, estivador, telegrafista, telefonista, agente de estação. Tive 13 funções dentro da Madeira-Mamoré e sinto orgulho da nossa história, tenho orgulho de dizer que sou ferroviário. Só saio daqui quando eu for para o [cemitério] de Santo Antônio. Só quando eu der meu último suspiro eu deixo a estação’’, garante o presidente.
O casal Vanilde Bispo e Luiz Paulo relembram com carinho tempo que a ferrovia estava operante
Assim como José Bispo, o ferroviário Edimar Maia de Oliveira, 87 anos, lembra com nostalgia e orgulho da época que a ferrovia era a grande protagonista do progresso na região. ‘‘Eu trabalhei produzindo dormente para a Madeira-Mamoré. Ela estava precisando de reforma e não tinha dormente de Itaúba [Árvore nativa do Brasil] e foi quando convidaram para que eu levasse dois mil homens para extrair dormente no Alto Guaporé, onde tinha muitos índios e muita malária, mas como já tinha enfrentado a selva na guerra contra a Alemanha aceitei o desafio e deu tudo certo graças a Deus. Nós produzimos 365 mil dormentes’’, relembra Edimar.
Os tempo áureos da ferrovia também é recordado pelo casal Vanilde Bispo dos Santos, 69 anos, e Luiz Paulo de Almeida, 83 anos com muito carinho. Ele era estivador, responsável por carga e descarga do que era transportado pela ferrovia e ela aproveitava a movimentação para oferecer ao público o que ela produzia como bolo e tapioca. ‘‘O trem ia até Guajará-Mirim. Pra mim era tudo muito divertido. Quero que ela volte a funcionar para fazer um passeio junto com meus netos’’, afirma Vanilde. ‘‘Pra mim essa ferrovia sempre será especial’’, considera Luiz.
Ao final da solenidade, o governador foi convidado a assistir um cura-metragem com a história desafiadora da construção da ferrovia.