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porto velho, terça-feira 25 de fevereiro de 2025
As primeiras falas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as evidências de manipulação e fraude nas eleições da Venezuela mostram claramente que o governo brasileiro está abrindo caminho para reconhecer a suposta “vitória” do autocrata Nicolás Maduro na disputa.
A primeira indicação disso foi a descrição de Lula de que o processo eleitoral no país vizinho está sendo “normal” e “tranquilo”.
Com isso, o presidente brasileiro resolveu simplesmente ignorar os efeitos da profunda crise que já deixou pelo menos 11 mortos e 749 pessoas presas desde o início de protestos contra o governo autoritário de Maduro e sua crua tentativa de fraudar as eleições. Números que, infelizmente, devem subir muito.
Como um país democrático que quer se consolidar como potência emergente do Sul Global, o Brasil deveria adotar um tom muito mais crítico aos desmandos de todas as autocracias – sejam elas chavistas ou de qualquer outra linha ideológica.
Afinal, ter mais espaço no tabuleiro geopolítico global significa também ter mais responsabilidades, especialmente para defender a democracia – em todas as partes do mundo.
A segunda indicação de que Lula pretende normalizar as manipulações eleitorais de seu aliado Maduro veio com a frase: “o que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo”.
Existem dois problemas aqui.
O primeiro é que o governo Maduro simplesmente não tem como provar o que fala porque se recusou a revelar imediatamente, como deveria, todas as atas de votação.
As desculpas descabidas do regime autoritário mostram apenas que Caracas parece estar comprando tempo para manipular as atas em seu favor – isso na hipótese de que esses documentos de fato sejam revelados de alguma forma um dia.
O segundo problema é que Lula também esqueceu-se de responsabilizar o governo de Maduro pela repressão brutal aos protestos que acontecem no país desde que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou a sua “vitória” sem nenhuma transparência ou comprovação dos votos.