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porto velho, domingo 15 de dezembro de 2024
MUNDO: Cientistas renomados emitiram um alerta sobre os perigos associados à criação de organismos sintéticos conhecidos como "vida espelho". Essas formas de vida seriam compostas por moléculas que são versões espelhadas daquelas que ocorrem naturalmente, tornando-as "invisíveis" às defesas imunológicas de todos os seres vivos na Terra.
Esses organismos podem representar um risco sem precedentes, segundo o estudo publicado na Science. Caso bactérias espelhadas escapem de laboratórios, não haveria barreiras naturais para impedir que se estabelecessem no meio ambiente, ameaçando plantas, animais e humanos com infecções fatais, conforme o Daily Mail. Além disso, essas bactérias poderiam causar desequilíbrios ecológicos devastadores, já que não seriam reconhecidas ou combatidas por organismos predadores naturais.
O conceito de "vida espelho" baseia-se na quiralidade molecular — uma propriedade em que as moléculas possuem versões "canhota" e "destra", como as mãos humanas. Na biologia terrestre, o DNA tem orientação destra, enquanto os aminoácidos das proteínas são canhotos.
No entanto, as versões espelhadas dessas moléculas poderiam formar organismos funcionais, mas completamente alheios à biologia existente.
Pesquisadores destacam que ainda estamos há pelo menos uma década da criação dessas bactérias espelhadas, devido às dificuldades técnicas envolvidas. Entretanto, avanços em biologia sintética, como a produção de moléculas espelhadas e células artificiais, estão progredindo rapidamente. Essa possibilidade já mobilizou 38 laureados do Prêmio Nobel e outros especialistas a pedirem uma pausa na pesquisa sobre vida espelho.
O microbiologista Dr. Vaughn Cooper alerta que criar esses organismos não valem o risco: "Essa forma de vida nunca existiu ou evoluiu, portanto, todas as interações biológicas seriam imprevisíveis ou ineficazes". Já o professor Gregory Winter, laureado com o Nobel, destaca que a ausência de reconhecimento imunológico seria um problema grave. "Seres humanos, por exemplo, não conseguiriam produzir anticorpos contra bactérias espelhadas", explica.
Embora existam potenciais benefícios, como aplicações médicas e na síntese de medicamentos, os autores do estudo publicado na Science argumentam que os riscos superam as vantagens. Além de possíveis impactos diretos na saúde humana, a introdução dessas formas de vida poderia desestabilizar ecossistemas inteiros, com implicações devastadoras para a agricultura e a biodiversidade.
Os pesquisadores também defendem maior regulação da biologia sintética e pedem um debate público antes que a criação de vida espelho se torne tecnicamente viável.
Segundo Dr. Cooper, "precisamos interromper o progresso nessa área e estabelecer um diálogo organizado e inclusivo para governar essa ciência de forma responsável".