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Mugabe resiste à pressão de militares para deixar governo do Zimbábue


G1

Publicada em: 16/11/2017 08:38:40 - Atualizado

MUNDO- O presidente Robert Mugabe insiste que é o único governante legítimo do Zimbábue nesta quinta-feira (16) e está resistindo à mediação de um padre católico que tenta negociar uma transição de poder pacífica, disse uma fonte de inteligência à agência Reuters.

O padre Fidelis Mukonori está atuando como intermediário entre Mugabe e os generais, que assumiram o controle de prédios públicos na quarta-feira e colocaram militares nas ruas da capital, Harare.

A justificativa dos militares, que evitam usar a palavra "golpe", é realizar uma operação direcionada a "criminosos" ligados ao presidente.

Mugabe, ainda visto por muitos africanos como um herói da libertação, é repudiado no Ocidente, que o vê como um déspota cujas desastrosas medidas econômicas e disposição para recorrer à violência para se manter no poder destruíram um dos Estados mais promissores da África.

Relatos da inteligência zimbabuana aos quais a Reuters disse ter tido acesso levam a crer que o ex-diretor de segurança Emmerson Mnangagwa, demitido da vice-presidência na semana anterior, está elaborando um projeto de poder pós-Mugabe para o país com os militares e a oposição há mais de um ano.

Mnangagwa, ex-braço-direito de Mugabe e um dos heróis da independência do país, exilou-se na África do Sul. Na quarta-feira, surgiram relatos não confirmados de que ele estaria voltando ao país.

Disputa de transição

O correspondente da rede CNN em Harare, David McKenzie, disse que os fatos nas ruas sugerem que a ação militar no país é um golpe.

McKenzie disse ter visto militares fazendo o controle de veículos e documentos de identidade de pessoas, além de soldados em lugares estratégicos da capital.

"Os militares estão no comando, não está claro qual papel o presidente Mugabe está desempenhando", disse o correspondente em uma transmissão, acrescentando que há muitas questões e rumores sobre a situação.

Segundo analistas, a insurgência tem origem em uma divisão no partido que comanda o país, o Zanu-PF. Uma das partes, alinhada ao presidente, pretende que a primeira-dama Grace Mugabe, 52, seja a sucessora do marido. A ala, formada por membros mais jovens da sigla, é chamada de G40 e liderada por Jonathan Moyo, um dos ao menos três ministros que estariam em detenção.

A destituição de Mnangagwa sinalizava que o G40 sairia vitoriosa da disputa transitória, mas a ação militar de quarta-feira indica que a balança pendeu para o setor do partido ligado aos membros mais velhos, da época da luta pela independência.

Opositor retorna

Um representante do líder opositor Morgan Tsvangirai, que recebe tratamento contra um câncer no Reino Unido e na África do Sul, disse à CNN que "há uma transição de poder em curso" com "acordo tácito dos líderes regionais". Segundo o porta-voz, Tsvangirai voltou à capital Harare na noite da quarta-feira.

A África do Sul disse que Mugabe relatou ao presidente sul-africano, Jacob Zuma, por telefone, na quarta-feira, que está confinado à sua casa, mas que de resto está bem e que os militares o estão mantendo e à sua família, inclusive sua esposa, Grace, em segurança.

Apesar da admiração ainda existente por Mugabe, o povo é pouco afeito a Grace, de 52 anos, ex-datilógrafa do governo que iniciou um caso com Mugabe no início dos anos 1990 enquanto sua primeira esposa, Sally, sucumbia a uma doença renal.

Apelidada de "DisGrace" ou "Gucci Grace" devido a seu suposto amor por marcas famosas, ela teve uma ascensão meteórica nas fileiras do partido governista do marido, o Zanu-PF, nos últimos dois anos, o que culminou com a demissão de Mnangagwa uma semana atrás - uma manobra que se acredita ter sido realizada para abrir caminho para Grace suceder Mugabe.


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