Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 22 de dezembro de 2024
MUNDO- O presidente Robert Mugabe insiste que é o único governante legítimo do Zimbábue nesta quinta-feira (16) e está resistindo à mediação de um padre católico que tenta negociar uma transição de poder pacífica, disse uma fonte de inteligência à agência Reuters.
O padre Fidelis Mukonori está atuando como intermediário entre Mugabe e os generais, que assumiram o controle de prédios públicos na quarta-feira e colocaram militares nas ruas da capital, Harare.
A justificativa dos militares, que evitam usar a palavra "golpe", é realizar uma operação direcionada a "criminosos" ligados ao presidente.
Mugabe, ainda visto por muitos africanos como um herói da libertação, é repudiado no Ocidente, que o vê como um déspota cujas desastrosas medidas econômicas e disposição para recorrer à violência para se manter no poder destruíram um dos Estados mais promissores da África.
Relatos da inteligência zimbabuana aos quais a Reuters disse ter tido acesso levam a crer que o ex-diretor de segurança Emmerson Mnangagwa, demitido da vice-presidência na semana anterior, está elaborando um projeto de poder pós-Mugabe para o país com os militares e a oposição há mais de um ano.
Mnangagwa, ex-braço-direito de Mugabe e um dos heróis da independência do país, exilou-se na África do Sul. Na quarta-feira, surgiram relatos não confirmados de que ele estaria voltando ao país.
O correspondente da rede CNN em Harare, David McKenzie, disse que os fatos nas ruas sugerem que a ação militar no país é um golpe.
McKenzie disse ter visto militares fazendo o controle de veículos e documentos de identidade de pessoas, além de soldados em lugares estratégicos da capital.
"Os militares estão no comando, não está claro qual papel o presidente Mugabe está desempenhando", disse o correspondente em uma transmissão, acrescentando que há muitas questões e rumores sobre a situação.
Segundo analistas, a insurgência tem origem em uma divisão no partido que comanda o país, o Zanu-PF. Uma das partes, alinhada ao presidente, pretende que a primeira-dama Grace Mugabe, 52, seja a sucessora do marido. A ala, formada por membros mais jovens da sigla, é chamada de G40 e liderada por Jonathan Moyo, um dos ao menos três ministros que estariam em detenção.
A destituição de Mnangagwa sinalizava que o G40 sairia vitoriosa da disputa transitória, mas a ação militar de quarta-feira indica que a balança pendeu para o setor do partido ligado aos membros mais velhos, da época da luta pela independência.
Um representante do líder opositor Morgan Tsvangirai, que recebe tratamento contra um câncer no Reino Unido e na África do Sul, disse à CNN que "há uma transição de poder em curso" com "acordo tácito dos líderes regionais". Segundo o porta-voz, Tsvangirai voltou à capital Harare na noite da quarta-feira.
A África do Sul disse que Mugabe relatou ao presidente sul-africano, Jacob Zuma, por telefone, na quarta-feira, que está confinado à sua casa, mas que de resto está bem e que os militares o estão mantendo e à sua família, inclusive sua esposa, Grace, em segurança.
Apesar da admiração ainda existente por Mugabe, o povo é pouco afeito a Grace, de 52 anos, ex-datilógrafa do governo que iniciou um caso com Mugabe no início dos anos 1990 enquanto sua primeira esposa, Sally, sucumbia a uma doença renal.
Apelidada de "DisGrace" ou "Gucci Grace" devido a seu suposto amor por marcas famosas, ela teve uma ascensão meteórica nas fileiras do partido governista do marido, o Zanu-PF, nos últimos dois anos, o que culminou com a demissão de Mnangagwa uma semana atrás - uma manobra que se acredita ter sido realizada para abrir caminho para Grace suceder Mugabe.