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porto velho, quarta-feira 25 de dezembro de 2024
URUGUAI - Assim como a Argentina, o Uruguai também vai às urnas neste domingo (27) para escolher o sucessor do presidente de esquerda Tabaré Vázquez, em eleições nas quais os cidadãos também se pronunciam sobre uma reforma de segurança que cria uma guarda militarizada. A eleição começou às 8h (horário de Brasília).
As eleições presidenciais e parlamentares acontecem ao mesmo tempo que na Argentina, em um contexto de instabilidade regional, com questionamentos aos resultados da votação na Bolívia, protestos de rua em massa no Chile e no Equador.
"A democracia no Uruguai está muito sólida e é preciso cuidar dela diante dos riscos", disse Tabaré Vázquez nesta quinta-feira a jornalistas, em uma última mensagem antes da votação, para qual foram convocados 2,6 milhões de eleitores.
A votação também ocorrem em meio à comoção gerada pelo anúncio de que Tabaré Vázquez está em tratamento contra um câncer no pulmão.
Os números mostram que o engenheiro Daniel Martínez, governista da Frente Ampla, lidera com 33% das intenções de voto. Em seguida, está o advogado Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, com 25% (conheça os candidatos no fim da reportagem).
Indicadores preocupantes
A votação será um teste de fogo para a Frente Ampla, coalizão de esquerda que governa o país desde 2005 e que enfrenta as eleições com uma economia estagnada, inflação acima do teto da meta oficial (7,56%), desemprego de 9% e uma degradação dos indicadores de segurança que são um tema central da campanha eleitoral.
Outrora considerado um oásis de paz em uma região turbulenta, o Uruguai viu as estatísticas de segurança piorarem nos últimos anos. No ano passado, houve um número recorde de homicídios (414), um aumento 45% em relação a 2017.
Por isso, além de votar para presidente, os uruguaios se pronunciarão por uma reforma constitucional de segurança que gerou grande polêmica.
A reforma promove a criação de uma guarda nacional com efetivo militar em tarefas policiais; a criação de uma pena de prisão perpétua "revisável" após 30 anos de cumprimento da sentença para delitos graves; penas mais duras de prisão para homicidas e estupradores; e a autorização de operações noturnas de busca e apreensão a residências, por ordem judicial, em caso de suspeita de ilícitos.
Embora nenhum candidato à Presidência apoie a reforma, e ela tenha sido alvo de uma forte campanha contra por parte de movimentos sociais, de sindicatos e da governista Frente Ampla, pesquisas publicadas esta semana apontam que entre 39% e 53% da população é favorável à proposta.
As eleições uruguaias ocorrem em um contexto turbulento na América do Sul, onde a maior parte dos países enfrenta protestos ou crises políticas sem precedentes. Embora o projeto de reforma na segurança tenha sido o estopim para uma série de protestos no país, o Uruguai vive cenário político e econômico relativamente estável na comparação com vizinhos.
O pacote de medidas inclui:
Em 2018, a taxa de homicídios no Uruguai chegou a 11,8 a cada 100 mil habitantes. É a primeira vez que o índice chegou a dois dígitos na história do país. Com isso, segundo o "El País", somente Venezuela, Brasil e Colômbia tiveram maior proporção de mortes violentas no ano passado.
Pesquisas de opinião apontam vitória do "sim", embora nenhum dos principais candidatos tenha manifestado apoio ao projeto – nem Lacalle Pou, colega de partido do senador que liderou a campanha pela aprovação; nem o militarista Guido Manini Ríos, que adota forte discurso pela mudança na área de segurança pública.
A oposição ao projeto também cresceu nas ruas de Montevidéu, onde milhares de manifestantes disseram "não" à proposta. De fato, o apoio caiu ao longo do ano, principalmente depois que figuras centrais da política uruguaia – da direita e da esquerda – passaram a expressar dúvidas quanto à efetividade da proposta.
À direita, os críticos temem que a reforma enfraqueça e pressione as Forças Armadas. À esquerda, opositores da medida acreditam que ela não resolverá o problema de segurança e poderá aumentar a violência.
Veja os principais candidatos a presidente:
Daniel Martínez – Frente Ampla
Candidato da situação e ex-prefeito de Montevidéu, Martínez não é visto pela principal coalizão de esquerda como um grande líder tal qual Vázquez e o ex-presidente José "Pepe" Mujica. O desafio a ele aumenta porque, se eleito, ele terá de lidar com cisões dentro da própria Frente Ampla e com um Congresso bastante fragmentado.
Ainda assim, as pesquisas de opinião mostraram Martínez em uma ascendente – incapaz, no entanto, de garantir nova vitória da Frente Ampla no primeiro turno. Tudo indica que ele terá de fazer concessões à direita se quiser atrair eleitores dos outros partidos uruguaios para manter a coalizão esquerdista no poder pelos próximos anos, algo que pode irritar correligionários mais à esquerda.
O advogado é a principal aposta da direita uruguaia para retornar ao poder após 15 anos de governos da Frente Ampla. Filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), o candidato propõe reequilibrar as contas públicas – o site oficial de campanha acusa o atual governo de acumular dívidas e permitir falência de empresas com capital estatal, como a companhia aérea Pluna, que fechou as operações em 2012.
Lacalle tentará se descolar da imagem de Mauricio Macri, presidente da Argentina eleito em 2015 com plataforma semelhante e que dificilmente conseguirá se reeleger. Martínez, inclusive, chegou a compará-lo com o argentino em um debate, e o candidato direitista respondeu: "Essa comparação é simplista, e eu não o comparei com Kirchner".
Pesquisas mais recentes do "El País" mostraram que Manini conseguiu chegar à terceira colocação nas intenções de votos e deve conquistar cerca de 12% do eleitorado. Ele, que é general, obteve notoriedade após o presidente Vásquez afastá-lo do cargo de comandante chefe do Exército por críticas ao sistema de Justiça do país e ao propor reformas no Estado e um novo Código de Processo Penal.
Embora receba comparações com Jair Bolsonaro, Manini – que evita se considerar de direita ou de esquerda – ressaltou à agência argentina Infobae que há diferenças nas ideias entre ele e o presidente brasileiro.
Talvi, do tradicional Partido Colorado, chegou a disputar uma vaga no segundo turno de acordo com as primeiras pesquisas. Porém, ele viu seu apoio derreter diante do crescimento de Lacalle Pou e de Manini Ríos.
O economista combina uma plataforma economicamente liberal com uma série de medidas para combater a criminalidade e melhorar os índices de educação no país. Com isso, o capital político de Talvi deve ser disputado entre Martínez e Lacalle Pou, no segundo turno.