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Escassez global foi intensificada na pandemia, e efeitos devem continuar em 2022

Mudanças climáticas e tensões geopolíticas foram primeiras causas de problemas em cadeias de suprimento, diz especialista


cnn

Publicada em: 01/12/2021 10:40:35 - Atualizado

MUNDO: A chamada “escassez global” de suprimentos é um problema que tem atingido uma série de países e diversos setores da economia em 2021. Em alguns casos, ela pode representar uma verdadeira falta de produtos. Em outros, uma elevação considerável nos preços devido a uma oferta menor que a demanda.

Para especialistas, os efeitos dessa escassez devem continuar em 2022, e não há como precisar quando todas as cadeias de produtos vão se estabilizar.

Apesar do cenário ser bastante associado à pandemia, que afetou a oferta e levou a uma demanda intensa conforme os países reabrem e vacinam suas populações, a crise sanitária não é o único fator que criou o cenário atual.

Outros momentos de escassez?

Simão Silber, professor da FEA-USP, afirma que o mais próximo que o mundo já chegou do cenário atual foi há mais de 40 anos, na chamada Crise do Petróleo. Na década de 1970, os principais países produtores da commodity, localizados no Oriente Médio, represaram suas produções, e os preços explodiram, com um efeito em cadeia.

Entretanto, para ele, o contexto atual é pior, já que o cenário de escassez, ou seja, oferta menor que demanda e falta de produtos para atendê-la, envolve uma série de produtos e cadeias, não ficando restrita apenas ao petróleo.

Outro momento histórico que se aproxima da crise vivida atualmente é o de 11 de setembro de 2001, no atentado terrorista às Torres Gêmeas. Após o ataque, houve um “aumento enorme da incerteza e uma interrupção rápida dos fluxos de troca entre países”, afirma Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV-Ibre e sócio da consultoria BRCG.

Mesmo assim, essa interrupção acabou relativamente rápido, com um efeito mais limitado. “Não tem um período com o tipo de choque que estamos observando agora que seja imediatamente destacável, porque alguns eventos naturalmente tiveram disrupções de cadeias, mas eram choques específicos”, diz.

Segundo Ribeiro, os impactos com a pandemia de Covid-19 configuram um cenário particular. “A pandemia é um choque sanitário que afeta principalmente o setor de serviços. Ao contrário de uma guerra que afeta pouco o setor de serviços, mas sim o consumo de bens”, diz. Ou seja, o cenário econômico com a pandemia é inédito, o que dificulta inclusive saber quando ele melhorará.

O caminho até a escassez

Ribeiro afirma que as desorganizações em cadeias produtivas e o descompasso entre oferta e demanda para diversos produtos estão ligadas aos efeitos da pandemia de Covid-19. Durante a crise sanitária, muitas empresas e indústrias precisaram fechar as portas, mesmo que temporariamente, para evitar a disseminação do vírus, o que afetou a produção.

Ao mesmo tempo, conforme a vacinação avançou, a economia dos países começou a reabrir, com uma demanda intensa por parte da população. Como a oferta ainda não a igualou, os preços subiram e alguns produtos ficaram mais escassos.

Entretanto, o pesquisador diz que as primeiras sementes para a crise atual foram plantadas antes da pandemia. “O mundo teve outros choques ou desorganizações de cadeias produtivas anteriores à Covid que ampliou isso. O mais evidente foi a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que já afetava as cadeias de produção de eletrônicos”.

Com uma oferta já afetada, as cadeias estavam vulneráveis à pandemia, e o impacto foi grande. A disseminação das cadeias em termos globais, ou seja, com países participando de determinadas etapas de produção, piorou esse cenário.

Além da disputa geopolítica entre Estados Unidos e China, o Brexit – saída do Reino Unido da União Europeia – foi outra tensão que deixou cadeias vulneráveis. A falta de combustíveis no país, com preços altos, teve como uma das causas a falta de motoristas de caminhão para transportar os combustíveis, já que eles eram em maioria europeus e deixaram o país.


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