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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom nesta semana nas críticas à contraofensiva de Israel na Faixa de Gaza.
Após garantir a repatriação de 32 brasileiros, o petista disse ter a percepção de que Israel quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos do território. E comparou a contraofensiva israelense aos atos de terrorismo praticados pelo Hamas.
“É por isso que eu disse [na segunda-feira] que a atitude de Israel com relação às crianças e com relação às mulheres é uma atitude igual terrorismo. Não tem como dizer outra coisa. Se eu sei que tá cheio de criança naquele lugar, pode ter um monstro lá dentro, eu não posso matar as crianças porque eu quero matar o monstro. Eu tenho que matar o monstro sem matar as crianças”, afirmou Lula.
Embora tenha ressalvas quanto à força empregada por Israel após os ataques do grupo radical islâmico Hamas contra israelenses em 7 de outubro, o diplomata aposentado Rubens Ricupero não concorda totalmente com o presidente Lula. Ele avalia não ser correto dizer que Israel comete atos de terrorismo.
“Não julgo que seja correto dizer que Israel comete atos de terrorismo. O que ocorre é que, ao exercer seu direito de defesa contra o ataque do Hamas, Israel vem atuando de maneira desproporcional, com uso de força excessiva, sobretudo com bombardeios aéreos. A prova é o número excessivo de vítimas civis, inclusive crianças e mulheres. Seria adequado insistir num cessar-fogo e na moderação no exercício da defesa, como tem feito outros estadistas estrangeiros”, declarou Ricupero à CNN.
“Utilizar expressões como genocídio ou terrorismo não é adequado e certamente cria tensões diplomáticas. O respeito em diplomacia nasce de atuação forte, mas serena, sem exageros nem excessos. Essa é a tradição da diplomacia brasileira”, completou.
Sérgio Eduardo Moreira Lima, que foi embaixador do Brasil em Israel entre 2003 e 2006, afirmou que “a preocupação do diplomata é com o direito internacional que estabelece as bases das relações entre os estados e também o comportamento nos conflitos por meio do direito humanitário”.
Ele lembra que a legítima defesa deve estar sempre condicionada a princípios do direito humanitário, inclusive o da proporcionalidade, além da obrigação de proteger a população civil.
“Essa proteção se aplica a hospitais, residências etc. Entendo a reação de políticos e da opinião pública internacional com relação a todas as vítimas do conflito, inclusive os milhares de civis palestinos, especialmente mulheres e crianças. É preciso protegê-las, como previsto nas convenções de Genebra”, disse.
Para Moreira Lima, os desabafos de algumas autoridades refletem esse questionamento moral. E isso não significa que queiram comprometer a relação bilateral do Brasil com Israel, mas, sim, que cesse os danos aos vulneráveis, “que é um clamor natural”.
“As relações do Brasil com Israel e a Palestina são fortes e lastreadas nas comunidades judaica e árabe, e também no Direito Internacional. Israel é uma importante democracia, e sua existência resultou do multilateralismo. O Brasil esteve sempre presente ao longo desse processo”, considerou.
Por isso, Moreira Lima não acredita que a relação bilateral será afetada por essas diferenças. Ele ainda cita que, muitas vezes, é preciso “dizer aos amigos as preocupações com honestidade” e considerar essas declarações dentro de um contexto mais amplo.
Ele acrescentou “não ter dúvidas” de que o Ministério das Relações Exteriores e o ministro Mauro Vieira estão conduzindo a situação com “muito cuidado, muita competência”.
O diplomata Paulo Roberto de Almeida tem uma visão diferente dos colegas. Ele acredita que o presidente Lula tem praticado uma diplomacia “ultra pessoal”, o que se torna um “problema para a diplomacia profissional”, em sua avaliação.
“O que temos atualmente é personalismo em estado puro, sem qualquer controle de seres mais racionais, uma altíssima dose de histrionismo à base do ‘eu sei, eu faço’, que beira a loucura nos improvisos destrambelhados, o que prejudica enormemente a diplomacia profissional, o que era mais raro nos dois mandatos anteriores”, citou.