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    porto velho, domingo 7 de setembro de 2025

Prisão de Jair Bolsonaro é péssima notícia para governo Lula, apontam analistas

Presidente colhia os louros da vitória parcial contra Donald Trump e agora precisa lidar com um Congresso rebelado e com uma pauta só na agenda


Matheus Pichonelli

Publicada em: 05/08/2025 09:12:54 - Atualizado

BRASIL: Analistas de diferentes correntes são quase unânimes em apontar que o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal é só um pretexto que Donald Trump precisava para meter o bedelho no Brasil.

O que o republicano quer mesmo é alvejar o STF, com sanções a seus ministros, e o governo Lula (PT), com as tarifas comerciais.

Não porque tem pena do réu, mas porque de lá vieram as decisões que barram os planos dos Estados Unidos para a América do Sul: a regulação das big techs, em um caso, e, de outro, o avanço dos Brics (com a proposta de desdolarização da economia mundial) e o que resta de defesa da soberania. Esta última impede, por exemplo, que minerais de terras raras tenham o mesmo destino do pau-brasil, da borracha e do ouro nas mãos dos colonizadores.

Trump se preocupa com a situação jurídica de Bolsonaro porque ela repercute na situação política de Lula.

Reabilitar o ex-capitão é garantir uma marionete disposta a fazer tudo o que seu mestre mandar do lado de baixo do Equador.

Trump mirou a bazuca em Brasília e alvejou só uma parte do que queria.

As medidas contra Alexandre de Moraes são limitadas e a lista de produtos brasileiros tarifados em seu país tem tanto asterisco que já nem pode ser chamado de tarifaço. Ainda assim a bala produziu estragos (se quiser entender, é só perguntar para setores atingidos).

Lula, ainda assim, terminou a semana com uma vitória parcial sobre Trump. Tinha um inimigo comum, um discurso em defesa do Brasil, a pecha de traidores da pátria colada na família Bolsonaro e a decisão de ligar ou não para Trump, o primeiro a piscar.

“Não vamos negociar como um país pequeno. Os EUA são importantes para nós, mas não temos medo”, disse o presidente, mais ou menos com essas palavras, em um encontro do PT no domingo (3).

Parece um bom discurso eleitoral, e é.

Bolsonaro sabia disso e deu um jeito de ganhar as manchetes enquanto Lula colhia os louros da estratégia.

Fez isso ao entrar ao vivo em videochamadas com apoiadores instalados nos carros de som na Avenida Paulista, em Copacabana e até em Vila Velha.

Moraes havia proibido Bolsonaro de postar nas redes sociais. Não disse nada sobre atender telefonema enquanto era filmado. Bolsonaro pagou pra ver: a imagem de um ex-presidente cerceado, de chinelos e com a tornozeleira eletrônica em primeiro plano dizia mais do que qualquer discurso incendiário que não poderia fazer.

Para quem conta a história como quer, Bolsonaro foi em cana (na verdade, para o quarto) porque disse “Boa tarde, Copacabana. Boa tarde meu Brasil. Um abraço a todos. É pela nossa liberdade. Estamos juntos”.

Não foi isso, mas isso foi o estopim.

Em julho, Moraes percebeu onde estava o elo que alimentava os ataques dos Estados Unidos contra ele e o comércio brasleiro e pisou na mangueira, estrangulando os canais de financiamento e comunicação entre o ex-presidente e o filho, Eduardo, enviado ao Texas para fazer exatamente o que está fazendo.

A tornozeleira eletrônica e a proibição, para Bolsonaro, de usar as redes em tese deveriam deixar o réu tão temente da prisão domesticado.

Pura ingenuidade.

Bolsonaro, na prática, já cumpria prisão domiciliar. Mas ainda tinha um celular nas mãos. Eles acabam de ser entregues à Polícia Federal. As visitas também passaram a ser mais restritas.

Moraes não tinha outra opção depois das inúmeras provocações, a começar por uma leva de motociatas (2021 é você?), de Bolsonaro. Era isso ou deixar a Justiça ser desacreditada como se a lei valesse só para alguns.

Deveria, isso sim, ter pensado melhor antes de estabelecer uma série de medidas cautelares tão amplas.

Em vez de acalmar a fera, o que ele conseguiu foi mobilizar aliados de Bolsonaro que hoje não têm outro mito para chamar de seu.

Eles prometem vigília, novas provocações à corte (se todos visitarem o prisioneiro domiciliar ao mesmo tempo, todos serão presos?) e lobby intenso em embaixadas aliadas. Prometem, sobretudo, trancar a pauta no Congresso, que está mais refém de Bolsonaro do que nunca.

Dá para debater isenção de Imposto de Renda assim?

Pois é.

A ofensiva já empareda os líderes da Câmara ou do Senado, representantes do centrão que, como sempre, vão medir bem os ventos da tempestade para saber em qual barco seguir.

Se Trump dobrar a aposta, o estrago pode ser tamanho que até a perspectiva de crescimento do PIB será revista. É o pior que pode acontecer a um ano da eleição.

Medidas contra líderes populares, mesmo em decadência, costumam lustrar a imagem de mártires. Se parecerem injustas, podem criam simpatia e conexão com o público que muitas vezes só lê uma parte da história.

Lula sabe disso por experiência própria.

Saiu da prisão em Curitiba num dia e no outro estava de volta ao Palácio do Planalto.

Quando foi preso, em 2018, as nuvens do céu em Brasília tinham um desenho orientado pela tempestade da Lava Jato.

Quando saiu, o cenário era outro.





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