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    porto velho, sábado 7 de junho de 2025

Biópsia líquida é novidade no cuidado do câncer; veja como funciona

Exame é considerado uma alternativa menos invasiva e mais precisa para monitorar a doença e definir tratamentos mais eficazes


CNN

Publicada em: 06/06/2025 11:23:32 - Atualizado

BRASIL: Um dos temas que ganhou destaque durante a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) 2025, o maior congresso de oncologia do mundo, foi a biópsia líquida. Menos invasivo, o exame tem sido considerado uma novidade importante para a detecção mais precisa de alterações genéticas relacionadas ao câncer.

A biópsia líquida é um exame de sangue capaz de identificar fragmentos do DNA tumoral, ou seja, que sofreu mutações cancerígenas, circulante no organismo.

"A biópsia líquida permite entender se o tumor está respondendo ao tratamento, se desenvolveu resistência ou até se há sinais muito precoces de que ele pode voltar a crescer", explica Carlos dos Anjos, oncologista do Centro de Oncologia do Sírio-Libanês. Ele esteve presente no congresso da Asco.

De acordo com o especialista, a biópsia líquida costuma ser indicada em situações em que a biópsia tradicional -- feita com a retirada de um tecido para análise -- é uma alternativa arriscada para o paciente.

"Na biópsia líquida, é coletada uma amostra de sangue, o que traz um risco muitíssimo baixo ao indivíduo. Com ela, é possível substituir de maneira muito específica uma biópsia que seria complexa, de uma topografia de difícil acesso, de uma região de difícil acesso", afirma Anjos à CNN.

Além de ser menos invasiva, a biópsia líquida oferece vantagens como segurança, possibilidade de repetição frequente e uma visão mais ampla da doença. Segundo o especialista, o procedimento já é amplamente utilizado, também, no monitoramento de mutações que conferem resistência aos tratamentos – permitindo ajustes mais precoces – e na detecção precoce de sinais de recaída, especialmente em pacientes já tratados.

O exame tem sido utilizado também em casos de doença inicial, como ferramenta prognóstica, capaz de identificar pacientes com maior risco de recorrência. “No entanto, ainda são necessários estudos para comprovar se intervir precocemente com base nessas informações pode impactar diretamente na chance de cura”, acrescenta o oncologista.

Quais alterações genéticas podem ser identificadas com a biópsia líquida?

De acordo com Anjos, a biópsia líquida já tem sido usada para identificar alterações genéticas no DNA tumoral que circula no sangue em uma série de tumores, como o de pulmão, mama, cólon, próstata e melanoma.

"Hoje, nós temos maior utilidade dessa técnica para pacientes com doença já metastática, ou seja, que já se espalhou para outros pontos do corpo, para nos ajudar a entender se aquele determinado tumor tem alguma alteração genética que permite o uso de uma determinada terapia-alvo, por exemplo", afirma o oncologista.

Um dos estudos recentes que analisam a biópsia líquida é o SERENA-6, também apresentado no congresso da Asco. O trabalho testou o procedimento para detectar precocemente uma mutação chamada ESR1 em pacientes com câncer de mama hormônio-dependente e ajustar o tratamento antes mesmo da progressão da doença.

"É um exemplo poderoso da medicina de precisão, em que o tratamento se adapta de forma dinâmica conforme o câncer evolui", destaca dos Anjos. O desenho do estudo se baseia justamente nessa lógica: ao identificar a mutação ESR1 por meio da biópsia líquida, os pesquisadores buscam entender se antecipar a mudança de tratamento pode trazer impacto clínico relevante.

A biópsia líquida já é uma realidade em situações bem definidas da oncologia, segundo Anjos, no entanto, ainda é um procedimento de alto custo e, consequentemente, pouco acessível, principalmente no âmbito da saúde pública.

"No Brasil, o desafio ainda é o acesso, especialmente no Sistema Único de Saúde, mas a tendência é que esses exames se tornem parte da rotina oncológica nos próximos anos", conclui o especialista.




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