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porto velho, quarta-feira 14 de maio de 2025
As pessoas solteiras continuaram mantendo relações sexuais durante a pandemia. No entanto, os encontros passaram a ser mais híbridos, mesclando o presencial e o virtual. Os dados preliminares da pesquisa nacional “Sexvid”, iniciada em outubro de 2020, mostram que cerca de 85% dos brasileiros mantiveram as relações, incluindo solteiros e casados.
Para aprofundar o mapeamento da atividade sexual durante a pandemia, os pesquisadores disponibilizaram um questionário online que já recebeu cerca de 1.800 respostas que ainda estão sendo analisadas. O formulário pode ser respondido por pessoas maiores de 18 anos no site da pesquisa.
O estudo, que envolve especialistas de diferentes universidades públicas, investiga como a pandemia tem afetado as práticas sexuais dos brasileiros e busca responder como tem sido a gestão de risco, considerando o contexto da infecção pela Covid-19.
“Identificamos um hibridismo muito maior entre o uso de tecnologia de aplicativos e de sites, não só para localizar parceiros, como também para iniciar conversas até o encontro sexual. Há o uso de perguntas de segurança sobre a Covid-19, por exemplo”, diz o professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Aurélio Prado, um dos coordenadores.
Outro comportamento adquirido durante a pandemia foi a mudança na forma de iniciar as relações, segundo Paula Sandrine Machado, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que também é uma das uma das coordenadoras do estudo.
“Aqueles que usam aplicativos passaram a permanecer um tempo maior neles antes de decidir por um encontro presencial, em função de uma certa investigação daquilo que eles vão considerar como sendo um parceiro ou uma parceira segura”, diz.
A primeira etapa do estudo realizou entrevistas com pessoas de diferentes orientações sexuais e de diversas regiões brasileiras. A fase inicial da pesquisa também analisou relatos em redes sociais e publicações jornalísticas, que mostraram que parte da população quebrou as regras de distanciamento para a realização dos encontros.
“Os relatos incluem riqueza de detalhes de como esse descumprimento envolvia elementos supercomplexos. Desde o estabelecimento de parâmetros prévios a um encontro, como decisões sobre o uso de máscara ou a utilização de álcool em gel. Além de negociações do tipo, se a pessoa mora sozinha ou em uma república”, explica Paula.
“No momento em que o país não tem uma política coordenada pública que fale sobre sexualidade e prevenção de contaminação e redução de danos numa pandemia, relacionados à sexualidade, o que nos interessa saber é como as pessoas fazem isso, já que elas precisam ir atrás das informações por conta própria”, afirmou Prado.
Procurado pela CNN, o Ministério da Saúde não respondeu sobre a ausência de material informativo da pasta sobre o tema até a publicação da reportagem.
Não foi só na vida sexual dos solteiros que a pandemia interferiu. A sexóloga Carmita Abdo avalia que houve um impacto na vivência da sexualidade de diferentes formas para casais que moram juntos, separados e pessoas no início da vida sexual.
Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Carmita é autora do recém-lançado livro “Sexo no Cotidiano”, que reúne 26 temas sobre sexualidade, incluindo atração, intimidade e isolamento. Na obra, a autora narra questões como a falta de espontaneidade no sexo, relacionada ao cotidiano apressado das pessoas, além de assuntos como sexo e saúde física e mental e os efeitos da pandemia nas relações.
Segundo a sexóloga, a pandemia, num primeiro momento, tornou as relações sexuais entre as pessoas que dividem o mesmo teto mais intensas. “Os primeiros tempos foram muito interessantes. Foram de aproveitar aquele tempo livre, o descanso. A pessoa estava de alguma forma menos atarefada e podia fazer um sexo mais longo, mais frequente, de melhor qualidade”, explica.