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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
BRASIL - A farmacêutica MSD (Merck Sharp & Dohme) trabalha com a expectativa de que o antiviral oral contra a Covid-19 desenvolvido por ela, o molnupiravir (nome comercial Lagevrio), esteja disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) já no começo de julho. O medicamento foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na quarta-feira (4) para uso emergencial em grupos específicos.
O próximo passo é a avaliação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde).
As tratativas para a distribuição do medicamento no Brasil vão ser feitas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que firmou um acordo de cooperação tecnológica com a MSD nesta quinta-feira (5).
Em entrevista ao R7, o diretor da Unidade de Negócios de Infectologia da MSD no Brasil, Mario Ferrari, diz que, apesar de não haver uma data certa para o remédio estar disponível no país, a empresa trabalha com o horizonte de algumas semanas.
"A Fiocruz que vai assumir essas conversas com o governo, mas essa é a nossa expectativa, que em semanas isso aconteça. Uma vez tendo um parecer positivo, o governo sinalizando para a incorporação, a gente está se preparando para receber qualquer demanda do SUS e poder atender de quatro a seis semanas. É mais ou menos o tempo que a gente precisa fazer para a droga chegar aqui."
A estimativa de Ferrari leva em conta os prazos da Conitec para analisar outras tecnologias e medicamentos no contexto da Covid-19, que foram mais rápidos do que tradicionalmente ocorre com doenças diferentes.
"O que a gente viu para Covid, para vacinas e até mesmo para os [anticorpos] monoclonais que passaram por essa avaliação foram [processos] relativamente rápidos. Estamos falando de semanas."
O molnupiravir foi aprovado para uso em pessoas que mesmo vacinadas tenham risco de desenvolver formas graves da Covid-19, como pacientes oncológicos, portadores do vírus HIV, indivíduos transplantados ou imunossuprimidos, entre outros.
Caberá ao Ministério da Saúde definir quais grupos serão elegíveis a receber o remédio no SUS, o que impacta também na quantidade de tratamentos a ser encomendada, afirma o executivo.
Ele ressalta que a farmacêutica já produziu globalmente 10 milhões de tratamentos em 2021 e está fabricando mais 20 milhões neste ano.
"Nos dá um nível de conforto em dizer que a gente está preparado para atender à demanda do SUS. Qualquer que seja essa demanda, aparentemente, temos capacidade de atender."
O foco da MSD neste momento é fornecer o molnupiravir somente para o SUS, acrescenta o diretor ao dizer que não há no horizonte um planejamento para venda no mercado privado.
"Não existe no registro de uso emergencial essa limitação de que ele tenha que ser destinado ao SUS, mas é importante que a gente diga que essa é a nossa prioridade."
Na avaliação dele, é fundamental ter tratamentos como o molnupiravir para vencer a pandemia.
"A gente tem falado muito do fim da pandemia, de conviver com o vírus. Só vamos poder ter essa segurança de que podemos conviver com essa doença de uma maneira relativamente de sucesso – e as pandemias foram controladas dessa forma – quando a gente conseguir diagnosticar, prevenir com vacina e tratar aqueles que eventualmente se infectam. Sem essa tríade, a gente não controla e não convive confortavelmente com o coronavírus."
O antiviral foi desenvolvido por uma empresa de biotecnologia dos EUA sem fins lucrativos – a Drug Innovations at Emory – que recebe financiamento parcial do governo norte-americano.
Posteriormente, a fórmula foi licenciada pela empresa Ridgeback Biotherapeutics, sediada na Flórida, que firmou acordo com a MSD para viabilizar os estudos clínicos e a produção.
Os testes avançaram para a fase 3 (final) em abril de 2021, após resultados promissores em voluntários que fizeram uso do medicamento nos primeiros dias desde o início dos sintomas.
O pedido de uso emergencial na Anvisa foi protocolado em 21 de novembro. O molnupiravir já foi aprovado por importantes agências reguladoras, como a dos Estados Unidos, do Reino Unido, da União Europeia e do Japão, e já está em uso em 17 países.
Os resultados mostraram que o molnupiravir foi capaz de reduzir em 89% o risco de morte por Covid-19 quando comparado ao placebo (substância sem efeito no organismo), inclusive sendo eficaz em pacientes infectados por variantes mais recentes do coronavírus, que escapam significativamente da proteção conferida pelas vacinas.
A aprovação da Anvisa para grupos de risco beneficia justamente indivíduos que podem ter o esquema vacinal contra a Covid-19 em dia, mas ainda assim evoluir para quadros de saúde críticos.
"Em um país continental como o Brasil, se falarmos de grupos de risco, estamos falando de milhões de pessoas que não vão ter uma proteção ideal [pela vacina] e que vão continuar sob risco. [...] O tratamento vai dar um conforto para esse paciente que ainda tem o receio de desenvolver uma doença grave. São pacientes com câncer ativo, imunodeprimidos, transplantados, com doença cardíaca, obesidade, diabéticos...", observa o diretor da MSD Brasil.
O tratamento deve ser iniciado em até cinco dias do início dos sintomas em pacientes que não estejam necessitando de oxigênio suplementar. O remédio não é indicado para gestantes.
São quatro comprimidos, duas vezes ao dia, durante cinco dias. Além de evitar mortes, a droga também minimiza o risco de hospitalização.
O acordo assinado nesta quinta-feira com a Fiocruz prevê que a entidade seja responsável pela armazenagem, administração, rotulagem, embalagem, testagem, liberação e importação do remédio para o SUS.
Além disso, duas pesquisas estão sendo conduzidas pela fundação. A primeira, em estágio mais avançado, envolve o uso do molnupiravir como profilaxia pós-exposição, ou seja, para indivíduos que tiveram contato com alguém infectado e podem desenvolver a Covid-19.
Elas poderiam tomar o remédio antes mesmo de apresentar qualquer sintoma, a fim de evitar que a doença se instale. Os resultados devem sair até o fim deste ano e poderão embasar um pedido de extensão do uso do molunupiravir junto à Anvisa.
O segundo estudo está em fase pré-clínica (antes dos testes em humanos) e é sobre o uso do medicamento para outras doenças causadas por vírus, explica Ferrari.
"A droga tem um mecanismo de ação muito interessante. Ela insere erros genéticos dentro do vírus e faz com que ele não se multiplique. Isso dá para a gente uma tese, que vai ser investigada pela Fiocruz, de que poderia funcionar para outros vírus. A Fiocruz vai investigar para dengue e chikungunya, que são vírus de RNA [assim como o Sars-CoV-2], e vai avaliar a ação da droga no [estudo] pré-clínico."