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    porto velho, sexta-feira 19 de abril de 2024

A vacinação contra o coronavírus precisa acelerar para evitarmos novas ondas de contaminação!


Por Leno Danner

07/06/2021 18:37:10 - Atualizado

A doutora Luana Araújo, há poucos dias, na CPI do COVID, deixou claro que continuarmos discutindo sobe tratamento precoce e, em especial, sobre cloroquina era o mesmo que escolher de qual borda da Terra plana quereríamos nos jogar. Esse dito inteligentíssimo e ao mesmo tempo irônico entra para a história brasileira como uma mostra da tamanha ignorância que é a discussão sobre algo, o tratamento precoce à base de cloroquina e ivermectina, que não possui qualquer comprovação de sua eficácia – e que, ao contrário, já possui muitas mostras de, quando ingerido sem controle, levar à precarização da saúde ou até à morte de muitos pacientes.

Na fala da própria Luana e, de modo mais amplo, após o início da vacinação no país (com especial ênfase na condição do município de Serrana, em São Paulo), estamos percebendo que somente a vacinação em massa da população tem condições não só de evitar a escalada de mortes que estamos vivendo, como também de levar a uma retomada da normalidade social que perdemos há mais de um ano e que derrubou o grosso das nossas atividades cotidianas. Está mais do que claro que só a vacinação, e uma vacinação permanente, da população como um todo, consiste no remédio estrutural para vencermos definitivamente o coronavírus.

Nesse sentido, por um lado, estamos vendo o Brasil finalmente adotar várias vacinas para a imunização de sua população – Coronavac, Astrazeneca, Pfizer, Janssen, Sputnik V, Covaxin etc. (o governo de São Paulo, pioneiro nisso, está, inclusive, em contato com a vacina Soberana, de Cuba). Com ampla variedade de vacinas, nossa população poderá, finalmente, ser imunizada por completo desse vírus mortal.

Agora, entretanto, estamos com dois desafios prementes. Primeiro, que essa vacinação ocorra no mais curto prazo de tempo possível. Isso dependerá não só da importação acelerada dessas vacinas, mas também de que sejam produzidas no Brasil – como é o caso da Coronavac, da Astrazeneca e, espero, da Sputnik V. Nós, aliás, estamos, quanto a isso, com duas más notícias: (a) possuímos casos confirmados de contaminação pela variante indiana do coronavírus; e (b) estamos em rota para uma terceira onda de infecção com grande potencial de exaustão hospitalar e de aumento consequente das mortes. É por isso que a vacinação precisa ser intensificada urgentemente.

Segundo, precisamos, correlatamente a esse trabalho de vacinação em massa, de investimento público amplo, em particular em termos de auxílio emergencial e de socorro às pequenas e às médias empresas. Sem políticas públicas incisivas de investimento socioeconômico, e com a demora na vacinação em massa da população, estamos completamente suscetíveis a mais ondas de contaminação que elevarão o número de mortes a patamares elevados, os quais são completamente inaceitáveis – e, em verdade, são evitáveis, com isolamento social e cuidados profiláticos. Pessoas desesperadas com contas a pagar e bocas para alimentar simplesmente não têm como manter-se em isolamento social. Isso está fora de questão. E depende do governo federal a solução desse problema.

Finalmente, nós precisamos de que o legislativo consiga enquadrar os rumos da gestão do governo federal realizada pelo presidente Jair Messias Bolsonaro. O presidente foi – e ainda continua sendo – um dos principais sabotadores do trabalho de enfrentamento do vírus, seja no que diz respeito à sua recusa (só recentemente abrandada) na contratação das vacinas, seja no que se refere ao estímulo direto à violação das regras de isolamento social, seja, finalmente, à recusa ao protagonismo e ao trabalho de sabotagem das medidas tomadas por governadores e prefeitos. O negacionismo e a estupidez do presidente, no sentido de não assumir uma base científica para seu trabalho, levaram o país ao fundo do poço. E, sem a ciência, não sairemos desse fundo.

Na verdade, quanto ao papel do presidente da República em fomentar direta e indiretamente a propagação do caos pandêmico, a CPI do Covid já tem, como estamos podendo acompanhar, suficientes dados que provam sem nenhuma dúvida razoável a culpa do presidente. O que o legislativo fará com esses dados definirá muito de como nosso poder político tem desejo e condições de corrigir o problema Bolsonaro para o país. E é, certamente, o problema mais sério de nossa história republicana, não só uma mancha superficial e passageira, mas um período de desestabilização antissistêmica desde dentro das próprias instituições como nunca antes havíamos vivido e cuja superação ainda está longe no horizonte.


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