Fundado em 11/10/2001
porto velho, sábado 22 de novembro de 2025
Por Dr. Fadricio Santos
A experiência na advocacia criminal demonstra que nada é mais decisivo para a preservação da liberdade de um indivíduo do que a atuação jurídica nos minutos iniciais após uma prisão. Do momento em que a viatura para na porta da delegacia até a apresentação diante do juiz na audiência de custódia, cada palavra dita ou omitida pode definir todo o rumo do processo. E é justamente nesse intervalo crítico que a presença de um advogado criminalista se torna determinante para impedir que o sistema, com toda sua força e complexidade, simplesmente “engula” o cidadão comum.
1. O Flagrante e a Zona de Risco Absoluto
A prisão em flagrante é, para qualquer pessoa, uma situação extrema: medo, confusão, pressão psicológica e absoluta desorientação. Grande parte dos erros que prejudicam a defesa nasce exatamente aqui.
A orientação é simples e deve ser seguida de maneira inflexível:
Não entendeu o que está acontecendo? Fique calado.
O direito ao silêncio é um escudo constitucional. Ele existe justamente porque o Estado reconhece que, sem orientação técnica, o indivíduo tende a falar sob impulso, medo ou confusão, e é nesses momentos que se criam contradições, supostas “confissões” e elementos que fortalecem a acusação.
2. A Importância da Defesa Técnica Imediata
A presença de um advogado desde o primeiro instante não é luxo: é necessidade jurídica.
O criminalista avaliará a legalidade do flagrante, verificará eventuais abusos, acompanhará depoimentos, impedirá perguntas indevidas, questionará irregularidades e protegerá o investigado de autoincriminação forçada.
Sem essa intervenção, o preso é levado a responder de forma espontânea, sem compreender as consequências.
A regra fundamental permanece: siga religiosamente as orientações do seu advogado.
3. A Audiência de Custódia: Onde a Defesa Começa a Virar o Jogo
As audiências de custódia se tornaram etapa essencial. É nesse momento que o juiz avaliará:
▪ se a prisão foi legal;
▪ se houve abuso, violência ou coação;
▪ se existem elementos para converter o flagrante em prisão preventiva;
▪ se é possível a liberdade provisória.
É o primeiro contato com o Poder Judiciário e um dos mais importantes.
Chegar à audiência sem advogado é chegar vulnerável, despreparado e sem condições de apresentar argumentos sólidos. Com advogado, o custodiado chega protegido, orientado e com estratégia definida desde o início.
4. A Armadilha Mais Comum: Falar Demais
Um dos maiores erros é ceder ao impulso emocional de “explicar” tudo imediatamente.
O cidadão, tomado pelo medo e pela vontade de se justificar, costuma falar mais do que deveria, e fala sem compreender que cada palavra pode ser interpretada fora de contexto e usada contra ele.
O criminalista experiente sabe a hora certa de falar, o que falar e, principalmente, o que não falar.
Por isso, reforça-se: o silêncio protege; a fala precipitada condena.
5. A Defesa Começa no Minuto Zero
Como advogado criminalista, afirmo com segurança: a qualidade da defesa começa no momento da prisão, e não semanas depois.
Uma “defesa reativa”, iniciada somente após a denúncia, tenta apagar incêndios criados lá atrás, no flagrante. Já a defesa construída desde o início, estruturada, orientada e consciente, tem incomparavelmente mais chances de sucesso.
E esse êxito começa em duas atitudes simples:
1. fique em silêncio,
2. espere seu advogado chegar.
Conclusão
O sistema penal brasileiro é complexo, burocrático e, muitas vezes, impiedoso com quem não tem orientação adequada. Do flagrante à audiência de custódia, a intervenção de um advogado criminalista competente evita que o cidadão seja esmagado pelo peso das instituições, garantindo que seus direitos sejam respeitados e que sua liberdade seja defendida desde o primeiro segundo.
Diante de qualquer situação de prisão, lembre-se desta regra de sobrevivência jurídica:
Silêncio, cautela e confiança absoluta no seu advogado.
É essa postura que impede que o sistema te engula.