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    porto velho, sábado 27 de abril de 2024

Enfermeira assume criação de três sobrinhos após morte da irmã por Covid

Mayra Pires passou a cuidar de três dos quatro filhos da irmã que faleceu, entre eles, um casal de gêmeos, atualmente com 7 meses de idade.


G1

Publicada em: 20/06/2021 23:54:43 - Atualizado

BRASIL: A dor de quem perde um ente querido para a Covid-19 entrou nos lares de milhões de pessoas em todo o mundo. Só no Brasil, já são mais de 500 mil vidas perdidas para a doença. No Amazonas, o total de mortes ultrapassa 13,4 mil.

Em comum, as famílias que perderam alguém para a doença dividem o sentimento de impotência e tentam, em meio a mudanças bruscas, escrever um novo começo. Crianças ganham novos lares e passam a morar com familiares após ficarem órfãs. Tios e tias se transformam em pais e mães. E, às vezes, a ajuda aparece de onde menos se espera.

A enfermeira Mayra Pires, de 38 anos, assumiu a criação de três dos quatro sobrinhos depois que a irmã, Marisa, de 36 anos, morreu por Covid-19 em fevereiro deste ano. Quatro crianças, sendo um casal de gêmeos, agora com 8 meses de idade, e duas meninas, com 12 anos e 9 anos ficaram órfãs.

Enfermeira agora cria os gêmeos. — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Mayra, a irmã adoeceu e temia que o pior acontecesse, por isso, pediu a ela que cuidasse das crianças. Mayra passou a cuidar da filha mais velha e dos gêmeos. A outra sobrinha, de 9 anos, foi morar com a avó.

"Antes de ir para a UTI, minha irmã me pediu para cuidar dos filhos dela. Foi a última coisa que ouvi dela. Hoje, a dificuldade é bem mais emocional. De seguir em frente, de ter que olhar para os bebês e não ver a minha irmã ao lado deles".
Quase toda a família de Mayra foi infectada pela doença. Além da irmã, ela perdeu um tio e uma prima. Segundo ela, a irmã adoeceu em meio à crise do oxigênio em Manaus, foi internada e morreu em menos de um mês.

“Não tem como explicar a dor que eu senti ao perder minha irmã, que estava implorando pela vida. Minha irmã chegou a ponto de clamar por oxigênio nas redes sociais, e essa foi a pior parte de tudo.

Nos dias 14 e 15 de janeiro, Manaus viveu o ápice de uma crise de abastecimento de oxigênio, com o aumento de internações por Covid-19 em hospitais da capital. Faltou oxigênio nas unidades de saúde. Na época, profissionais de saúde relataram momentos de tensão e desespero, com um novo colapso no sistema de saúde.

Mudanças na rotina

Desde a morte da irmã, Mayra vive uma fase de adaptação para cuidar das crianças. Antes, ela morava com o filho e outras três pessoas da família. Agora, dedica-se também aos sobrinhos, que passaram a morar com ela.

Mayra contou ao G1 que precisou sair de um dos empregos onde trabalhava para poder conciliar a rotina do dia a dia. Disse, ainda, que passou por dificuldades financeiras, pois as despesas aumentaram, mas recebeu ajuda de amigos e familiares. Ela ressalta que cumprir a promessa que fez à irmã compensa todo o esforço.

"Eu tive que mudar toda a minha vida, minha rotina. Sofri um impacto muito grande financeiramente e emocionalmente. Mas sei que essa é a dificuldade de muitas famílias que perderam seus entes queridos. A vida continua. Tento seguir e encontrar forças, porque os bebês dependem de mim agora. Vou continuar vivendo por eles", comentou.

As crianças sentem falta da mãe, mas são confortadas pelo cuidado de familiares e amigos. Os primeiros dias foram os mais difíceis, mas, aos poucos, tudo vai se arrumando, em uma história feita de recomeços.



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