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porto velho, quarta-feira 18 de junho de 2025
As fotos que o servidor público Jailton Pereira, de 31 anos, publicou nas redes sociais chamou a atenção mostrando carcaças de peixe vendidas em supermercado de Belém. Entre milhares de comentários, muitos afirmavam nunca ter visto o produto sendo oferecido em grandes redes, outros defendem que é costumeiro.
A reclamação vem a partir da escalada da fome no país, segundo especialistas, com aumento do preço de alimentos e dos custos de produção, elevados pelas altas na energia elétrica e nos combustíveis. Até mesmo o peixe, item básico na mesa de paraenses, passa pela crise econômica acentuada pela pandemia de Covid-19.
Nesta sexta (8), fiscais do Procon Pará e do Ministério Público do Pará (MPPA) foram ao estabelecimento e não constataram irregularidades, segundo os órgãos. Também não houve denúncias registradas junto ao Procon.
Em nota, os Supermercados Formosa esclarecem que "as carcaças de peixe comercializadas em seus supermercados são produtos vendidos desde a implantação da venda de pescado na rede, para preparo de caldos variados" e que as "postagens do produto em redes sociais possuem informações equivocadas sobre o assunto".
Jailton conta que fez a foto no sábado (2), no horário do almoço, em uma ida ao supermercado Formosa da avenida Duque de Caxias, em Belém, para acompanhar a mãe nas compras. "Não tinha visto isso antes, até então para mim carcaça de peixe era algo que se jogava fora, não para consumo humano, algumas pessoas me questionaram se isso não servia para donos de gatos, ainda assim, não era algo que eu esperava encontrar em um grande supermercado".
"A reação foi de surpresa, pois para mim era algo descartável. Me lembra muito as feiras populares, quando no final das vendas, eu via ossos de animais, peles e carcaças de peixe em lugares de descarte, como lixo. Então foi um choque considerar que isso poderia ser consumido", conta.
O servidor diz que tem sentido no bolso a alta de preços dos alimentos, principalmente em com a carne vermelha. "Tive que reduzir muita coisa das compras mensais e substituir alguns produtos", ele afirma.
Entre os relatos de consumo que escuta, Jailton comenta que "as pessoas estão passando a ficar mais limitadas em opções de alimentação". "Já vi gente reclamando do preço da carne moída, que geralmente é uma opção mais barata de consumo".
O Procon Pará, que é vinculado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, disse que ainda não recebeu denúncias quanto à comercialização de carcaças de peixes em supermercados de Belém, e que não há regulamentação sobre a venda do produto, portanto, a venda não é ilegal.
Segundo o órgão, a Lei nº 11.346/16 disciplina a atuação do Poder Público com participação da sociedade civil organizada, além de desenvolver e implementar planos, programas e ações com o intuito de assegurar o direito à alimentação.
Caso o consumidor queira fazer denúncias, é disponibilizado o número 151, ou indo diretamente ao Procon Pará, na travessa Lomas Valentinas, nº1150, no bairro da Pedreira.
Em nota divulgada nesta sexta, o Procon diz ainda que os fiscais averiguaram preços, notas fiscais dos produtos e questões sanitárias, no setor de venda de peixes congelados e in natura. As equipes também entraram no frigorífico de armazenamento do pescado.
Rodrigo Moura, coordenador de fiscalização afirmou que "os produtos estão em consonância com a legislação vigente".
Segundo Moura, "foram verificados que todos os peixes que têm procedência por meio da nota fiscal e registro nos órgãos de inspeção sanitária, e não detectamos a venda de espinhaço", afirma.
A fiscalização foi acompanhada pelo gerente geral do supermercado, Mávio Melo. Ele alegou que o produto não é composto por carcaça de peixe. “O que nós vendemos são aparas, como as ventrechas, o rabo e a cabeça. Produtos que todos os dias têm uma grande saída dentro das lojas”, afirma.
Segundo estimativas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Pará acompanha a realidade do restante do país, que sofre as consequências da crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19.
Esse cenário afeta significativamente o poder de consumo e o preço da cesta básica da população. De acordo com o Dieese, 60% do que chega no Pará vem de outros estados, pois a produção local não supre a demanda interna.
Com isso, o mercado paraense fica sujeito a fretes, distâncias gigantescas e altas dos combustíveis. Esses e outros fatores influenciam diretamente no preço dos produtos, que chegam aos supermercados e mercadinhos locais muito mais caros que o normal.
"São cenários muito ruins. Uma combinação de inflação, pandemia, fome, perda do poder aquisitivo, falta de clareza nas políticas econômicas. Esses são os principais motores dessa situação dramática. Todo dia a gente lida com aumentos, dos combustíveis, na alimentação. A gente não tem uma leitura até o final do ano de mudanças nesse cenário", explica Everson Costa, técnico do Dieese.