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porto velho, segunda-feira 27 de janeiro de 2025
Promessas Desfeitas: "O trem dos desgraçados e a crise de esperança no Brasil"
Arimar Souza de Sá
O presidente Lula ascendeu ao poder entoando diversas promessas de festins para os desfavorecidos, dentre elas, mesas repletas de picanha passada na farinha, símbolos de uma fartura iminente no seu governo.
Contudo, o tempo passou, a economia degringola ladeira abaixo e essas visões de abundância, nas quais os pobres acreditaram, se dissiparam como miragens no deserto, e agora, as ruas do país estão salpicadas, não de banquetes regados a picanha, mas de abrigos onde os inquilinos são miseráveis arrependidos, onde a picanha de outrora apodreceu em abóbora, e o trem dos desgraçados, parte a toda hora carregado de novos pobres para um destino sem volta.
Vagando pelas sombras urbanas, vejo não apenas homens e mulheres dilacerados pelo tempo e pela negligência, mas espectros que mal se distinguem entre a multidão e o trânsito que envolvem as grandes cidades, como em Curitiba, cidade modelo, onde me encontro neste momento.
Cada mendigo, cada olhar vazio, é um espelho de uma vida esmagada sob o calcanhar cruel do destino, de homens sem coração. Testemunhar esses fragmentos de existências desperdiçadas é ver mais uma alma sendo engolida pelo trem dos desgraçados, em uma viagem sem fim, de pura agonia, rumo ao esquecimento definitivo e sem previsão de melhora.
Nesses momentos de introspecção, parece que até mesmo Deus desviou seu olhar deste país, deixando seus filhos à mercê de uma escuridão voraz que devora a miséria humana como abutres, sobre uma carniça ao vento para jugo popular.
Por outro lado, as drogas, arautos sombrios da morte, também respondem presente ceifando diariamente jovens almas, arrastando-as para um abismo do qual não há escapatória, um inferno onde até as cinzas se contaminam com o horror digno de um suspense de Hitchcock.
Olhando para o meu próprio umbigo, confesso também minha culpa nesse cenário apocalíptico e desafiador, por vezes fechando os olhos para não encarar a magnitude da devastação que me cerca.
Como advogado e comunicador, sinto o peso e a culpa de não ter desafiado mais no microfone ante a tempestade de desespero que assola os guetos e palafitas, onde a humanidade foi esquecida por um governo perdulário, e no qual as vidas, outrora vibrantes, agora são meras sombras na escuridão do desamor, governadas pelos tiranos do vício, como vejo aqui debaixo da minha barba: o álcool, tabaco, heroína, cocaína e crack, sem contar a fome a madrasta do mal. E, acima de tudo, pela cruel ausência de um Estado perverso que, ao invés de proteger os cidadãos, promove taxas e tiros certeiros nos seus bolsos, levando-os para um precipício ainda maior, quando bem que poderia dissipar privilégios e reencaminhar essa grana para os que mais precisam dela...
Como tenho fé e a carrego no bolso do paletó, ainda que no auge do mais profundo desespero, creio que haja sempre uma centelha de esperança. Enquanto testemunho o fluxo interminável de almas que embarcam no trem dos desgraçados, também vejo atos de compaixão e resiliência que desafiam a escuridão, cometidos por corações dotados de grandeza, como vi de um casal que acabou de parar na minha frente e entregou meia dúzia de marmitex's aos andrajos que perambulam pelo centro da linda Curitiba.
São mãos estendidas em solidariedade, palavras de consolo que se espalham como um bálsamo sobre as feridas abertas da nação. Em meio ao caos, me alivio em constatar que o espírito humano ainda arde como farol de resistência e amor, e que parece que recusa ser apagado.
E é exatamente nesse resquício de luz, que deposito minha última aposta, na crença de que juntos podemos reconstruir o que foi perdido pelo 'governo dos vermelhos' e guiar nosso trem onde estão os passageiros desgraçados pela sorte, não para um abismo iminente, mas em direção a um amanhecer de redenção, renovação, lindo, lindo, rumo a porto seguro. QUE ASSIM SEJA!
"Tou pagando pra ver"!