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porto velho, sábado 19 de julho de 2025
SINGELA HOMENAGEM AO MEU PAI, QUE HOJE COMPLETA 93 ANOS DE VIDA
Arimar Souza de Sá
Pai...
Os anos passaram sobre mim, e com eles, os dias — discretos, implacáveis — foram dissolvendo a ingenuidade da minha infância. Foi então que, já homem, em formação, voltei meu olhar para o senhor.
No finito da sua carne, vi o infinito dos seus gestos. Vi sua caminhada firme, seus valores inabaláveis, sua vida simples e silenciosamente grandiosa andando pelas ruas dessa cidade, já que não tinhas carro. E compreendi, com o coração de filho, o que significa ser seu herdeiro não apenas no sangue, mas na alma.
Hoje, meu coração se curva em gratidão a Deus diante dos seus 93 anos de existência. Uma vida escrita com trabalho, honra e amor. Uma vida que me ensinou — sem discursos — o que é ser homem forte.
Seu nome, ARY DO CARMO GOMES DE SÁ, 'Caxias', à beça, botafoguense roxo, carrega consigo a força de uma história que me orgulha e me guia. Quando penso no senhor, meu velho, vejo mais do que um pai. Vejo um símbolo. Vejo a metáfora viva da presença de Deus em nossa família. Os pais são isso, não são? A ponte entre o céu e os filhos. E o senhor é, e continua sendo, essa ponte firme, que nunca cedeu, mesmo nos dias de temporal lá em casa.
Lembro da sua rigidez com a nossa criação e sua autoridade implacável com compromisso assumido e horário marcado. Lembro, também, que, quando recebíamos nossos salários, o senhor solicitava de cada filho um pequeno valor que servia como poupança para, em dia de chuva, 'pegar' um táxi e não faltar, nem chegar atrasado ao serviço.
É verdade... o tempo passou, e o senhor envelheceu. Mas envelheceu bonito, embora sentindo as dores no corpo advindas da idade, segue com a serenidade dos que viveram e construíram a história desta terra com dignidade e amor.
E quando caminho pelas ruas de Porto Velho — a mesma cidade que o senhor escolheu lá nos anos 50, quando aqui chegou para servir o Exército — eu sinto, com emoção, que piso o mesmo chão que o senhor ajudou a construir. E mais que isso: percebo que sou sua continuação. Um pedaço do senhor que caminha adiante e vai também rompendo barreiras.
Seu começo, é bem verdade, foi humilde em Porto Velho nos anos 50: Soldado da Terceira Companhia de Fronteira, depois pintor de paredes e mais tarde servidor público da Divisão de Obras, onde recebeu o Título de Funcionário Padrão, até se aposentar. Exemplo maior de dedicação e fidelidade para a família SÁ, hoje o único dos irmãos, homens, vivo.
Meu pai por onde passou, deixou mais que rastros: deixou valores. Honestidade. Trabalho duro. Lealdade. Foi um verdadeiro boxeador da vida, apanhando calado, mas nunca desistindo da luta. E ‘vambora’!
Imagino quantas dores o senhor deve ter engolido na sua caminhada. Quantas decepções, silêncios, traições. Mas nunca o vi perder a fé. Nunca o vi sujar as mãos. Nunca o vi deixar de amar. E hoje, aos 93, o senhor permanece de cabeça erguida, mãos limpas e coração tranquilo. Isso é grandeza.
O senhor sempre foi assim: um lenhador da vida. Um contador das bravuras do governador Aluízio Ferreira, com quem conviveu no território do Guaporé. Um homem que construiu a própria história com o suor do rosto, o silêncio dos fortes e a ternura dos que amam de verdade, dividindo o espaço de sua casa para abrigar todos os SÁ, que vieram de Amazonas para cá, em busca de uma vida melhor. Criou a mim e aos meus irmãos com carinho e retidão, firmando conosco — um a um — um pacto invisível e eterno de amor, sem cláusula de rescisão.
E eu, pai, que sou o primogênito de seu casamento com dona Alayde e os sete filhos que geraram, dois falecidos, procuro ser o espelho da sua imagem, carrego esse pacto comigo todos os dias. Navego no mar da vida sem medo, porque o senhor é meu farol. Sua mão é meu escudo. Seu olhar é meu norte. Seu exemplo é meu chão de cada dia, e preservo. É ou não é um luxo, ter um pai nessa idade?
Para mim, o senhor é poeta — mesmo sem escrever versos. É escritor — mesmo sem publicar livros. É sabedoria em carne e osso. Um gigante de olhos ternos, que há 93 anos ilumina a mim, à mãe, aos meus irmãos, netos e bisnetos com sua presença firme e amorosa de sempre.
Hoje, só quero lhe dizer, de filho para pai, o que talvez eu não diga tanto quanto deveria: eu te amo. E sou grato, todos os dias, por ter o privilégio de ser seu filho.
Receba meu abraço apertado, minha reverência e meu amor incondicional.
Sua bênção, meu pai. Parabéns pelos seus 93 anos. Que Deus o conserve entre nós por muitos, muito mais anos.
QUE ASSIM SEJA, AMÉM!