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porto velho, sábado 19 de julho de 2025
Crônica de Fim de Semana: Maya, Ravena e Baunilha, o afeto que humaniza o lar
Arimar Souza de Sá
É admirável como os lares portovelhenses, assim como tantos outros ao redor do mundo, têm se tornado mais afetuosos com a presença dos animais de estimação. Eles não são apenas bichos de companhia — são parte da família, confidentes silenciosos e fontes inesgotáveis de alegria e amor.
Aqui em casa, o exemplo é claro e essa verdade tem nomes, sobrenomes, patas e personalidades marcantes. A cadelinha Maya chegou como quem já sabia onde era o lugar do carinho. Companheira de todas as horas, deita-se ao nosso lado como quem nos protege com os olhos; com a patinha, faz gesto pedindo afeto. E, ao receber, quando cessa, ela pede bis. Fico a imaginar que, na cara dura, exige afago como quem sabe o valor que tem.
Junto dela vieram as gatinhas Baunilha e Ravena, dois encantos felinos que foram adotadas na rua e hoje conhecem os ritmos da casa e os respeitam como verdadeiras damas de boas maneiras. Fazem necessidades nos lugares destinados e, quando falta ração, ficam ao lado da vasilha e pedem com o olhar. Baunilha é o sossego em forma de miado. Ravena, a curiosidade com olhar atento — essa é meio “braba”, precisa ser catequizada com jeitinho. Cada uma, à sua maneira, colore o cotidiano com presenças sutis e essenciais.
Curiosamente, os animais em geral sabem tudo — e nem parecem irracionais: reconhecem o cheiro do dono, o som do carro na esquina, os horários de chegada. É impressionante como, antes mesmo da chave girar na porta, já estão em festa. Refestelam-se em pulos, lambidas e carinhos nos braços de quem tanto esperaram — como se cada volta para casa fosse um reencontro de almas.
Eles humanizam o lar. Dão sentido à rotina, ocupam espaços de silêncio com lambidas, miados, rabos abanando e olhos brilhantes. O certo é que, para minha surpresa, meu sobrenome “Sá” foi herdado por elas à revelia da minha aprovação. Vencido, baixei a bola: a democracia dos afetos venceu sem que eu esboçasse resistência. Fazer o quê?
Aqui em casa, Josi, Igor e Yasmin, os tratam com cuidado, carinho e uma rotina digna de realeza doméstica. Levam aos pet shops com frequência, dão agrados, celebram suas datas especiais, mimam com responsabilidade — eles os retribuem com amor puro, espontâneo, sem exigências. Onde há um pet, há sempre um motivo a mais para sorrir. Lá estão coleiras, roupinhas, fraldas, sapatinhos e afins...
Nos dias comuns, Maya, Baunilha e Ravena enfeitam a casa com suas presenças. Mas nos dias de jogo do Flamengo, elas se transformam nas torcedoras mais fiéis da família. Acomodam-se no sofá como quem sabe que ali pulsa o coração rubro-negro da casa. Maya deita no tapete, olhos atentos à TV. Baunilha se estica no encosto do sofá, e Ravena repousa no braço da poltrona, observando cada lance. E quando o Mengão perde, o ambiente parece murchar — elas percebem. Ficam cabisbaixas, quase solidárias com nossa frustração. São torcedoras do coração, mesmo sem saber o que é impedimento.
Nos pet shops da cidade, desfilam tantos outros pets com laços, gravatinhas e até perfumes. Mas nada disso supera o essencial: o amor. Amor que também se manifesta naquele gesto singelo de levar o pet para passear, de abrir a janela do carro para que ele sinta o bafejar de vento no rosto. Eles vivem o presente com uma alegria que nos ensina a valorizar o agora.
Há gestos que merecem aplausos. Como o da empresária Tatiane Castro e seu marido, Parente, que ao saírem de um restaurante sempre levam as sobras da refeição para oferecer ao primeiro cãozinho de rua que encontrarem. Um gesto simples, mas repleto de empatia. Na mesma linha, o delegado de polícia José Marcos cuida da própria saúde e, todos os dias, leva sua cadelinha para a caminhada noturna. Na casa de Fábio Camilo, o gato Jorge, o expulsou na cama e parece ter mais regalia que ele, segundo Adriana. São exemplos de afetos cotidiano que fortalecem vínculos e inspiram.
Infelizmente, ainda há quem ignore tudo isso e trate animais com crueldade. Quem abandona, maltrata ou finge não ver o sofrimento de um ser vivo carrega uma tristeza na alma — mesmo que não saiba. Machucar um animal é negar a si mesmo a capacidade de amar.
Em Porto Velho, esse vínculo vem ganhando força. Em cada bairro, há histórias parecidas: de cães e gatos que transformam a casa em lar. E felizmente, a cidade tem avançado nesse sentido: a capital de Rondônia contará, em breve, com uma clínica veterinária pública voltada ao atendimento, castração e cuidado de animais abandonados. Um gesto concreto de amor coletivo do prefeito Léo Moraes — e uma resposta civilizada à dor silenciosa dos que vivem nas ruas.
E se os domésticos já enfrentam tanto, os silvestres estão ainda mais ameaçados. Rondônia, com sua rica biodiversidade, vê seus bichos sumirem pouco a pouco com as queimadas, o desmatamento e a pesca predatória. O silêncio das matas começa a doer. É preciso parar. É preciso cuidar.
A cada gesto de respeito, renascem vidas. Ao adotar um animal, ao ensinar uma criança a tratar bem os bichos, ajudamos a construir uma sociedade mais humana.
Precisamos mudar. Precisamos proteger. Precisamos amar.
Na próxima manhã em que for ver o sol nascer às margens do Madeira, leve seu cãozinho com você. Ele entenderá a beleza das águas que se movem, correrá na relva molhada, cheirará cada flor como se beijasse a criação. E ali, nessa simbiose entre você e a natureza, haverá a presença silenciosa de Deus, manifestada naquele rabinho abanando.
Que celebremos então o dom de ter um animal por perto, e que salvemos todos eles — os de casa, os de rua e os da mata — da frieza e da destruição. Porque enquanto houver um cão olhando pra gente com amor, ainda haverá esperança no mundo.
Que jamais nos falte a doçura de um latido amigo, de um ronronar tranquilo, e que Porto Velho siga sendo um lar também para aqueles que não têm voz, mas têm alma melhor de muito humanos.
QUE ASSIM SEJA!
AMÉM!