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porto velho, quinta-feira 5 de dezembro de 2024
Notícia boa? Sem dúvida. Mas a preocupação em torno da sustentabilidade do crescimento da economia do país envolve um fator preocupante.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou 0,9% no terceiro trimestre de 2024, em linha com as expectativas, e impulsionado pela chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF).
Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (3).
O índice é um componente crucial para o cálculo do PIB, representando os investimentos em bens de capital — como máquinas, equipamentos — que aumentam a capacidade produtiva de longo prazo da economia.
Segundo o instituto, a taxa de investimento do terceiro trimestre de 2024 ficou em 17,6% em relação ao PIB.
Seu crescimento expressivo em 2024 contribuiu significativamente para o aumento de 4% no PIB brasileiro em comparação ao mesmo período do ano passado, refletindo um ciclo de crescimento robusto colhido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um aumento do indicador demonstra que as companhias estão investindo, o que gera mais emprego, renda e consumo no curto prazo — e gera impacto inflacionário.
O crescimento da FBCF influencia diretamente áreas como construção civil e indústria, que se beneficiam da demanda por bens de capital e infraestrutura. Em 2024, o desempenho da construção civil foi essencial para o crescimento de 3,5% na indústria e 3,4% nos serviços. O fator preocupante, porém, envolve os motivos desta alta.
Parte do aumento na FBCF foi financiada por uma política fiscal expansionista, que, embora benéfica no curto prazo, pode agravar o déficit fiscal e gerar pressões inflacionárias.
Em um evento na segunda-feira (2), o futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, sinalizou que os juros devem se manter elevados por mais tempo.
“Talvez a progresividade da política fiscal tenha colocado mais dinheiro na mão de pessoas com propensão a gastar”, disse Galípolo. “E isso acabou se revelando num dinamismo superior ao que a gente imaginava”, afirmou ele.
Na segunda-feira (2), o Boletim Focus do BC mensurou a percepção do mercado de ampliação das projeções sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano, de 4,63% para 4,71%. O dado segue acima do teto da meta de inflação mensurada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano, de 4,5%.
O consumo das famílias, também impulsionado pela ampliação das políticas de distribuição de renda, avançou 1,5% e o consumo do governo cresceu 0,8%.
O crescimento de 0,9% no trimestre mostra uma desaceleração da economia, ante o índice de 1,4% de crescimento registrado no segundo trimestre deste ano.
Embora os números apontem para um cenário de crescimento econômico, o avanço mais moderado no terceiro trimestre acende um sinal de alerta.
A desaceleração, combinada com os desafios fiscais e a pressão inflacionária, evidencia a necessidade de equilíbrio entre estímulo ao investimento e sustentabilidade econômica.
A continuidade desse ciclo positivo dependerá da habilidade do governo em implementar políticas estruturais que consolidem o crescimento, arrumando o cenário fiscal, sem comprometer a estabilidade de longo prazo.